
As grandes empresas de calçados e vestuário, como Nike e Adidas, estão enfrentando grandes desafios em suas cadeias de suprimentos após o recente anúncio de tarifas dos EUA sobre produtos vietnamitas. O presidente Donald Trump impôs, nesta quarta-feira, uma tarifa recíproca de 46% sobre os produtos vietnamitas, aumentando a tensão nas relações comerciais globais.
Nos últimos anos, Nike e Adidas têm apostado fortemente no Vietnã, tornando o país um dos maiores centros de produção para suas linhas de calçados. Atualmente, aproximadamente 50% dos calçados da Nike e 39% dos calçados da Adidas vêm do Vietnã, com uma receita anual superior a US$ 20 bilhões, com base nas produções realizadas no país.
No entanto, com a recente imposição de tarifas, as ações da Nike caíram 4% nas negociações após o horário comercial em Nova York. A Nike já havia alertado que enfrentaria uma redução em suas margens brutas, principalmente devido às tarifas dos EUA sobre produtos fabricados na China e no México.
AUMENTO DE PREÇOS PARA CONSUMIDORES
A imposição dessas novas tarifas de 46% sobre o Vietnã está tornando ainda mais difícil a adaptação dos vendedores de calçados às condições de mercado. Poonam Goyal, analista da Bloomberg Intelligence, destacou que mudar as cadeias de suprimento não é uma opção viável.
“Mudar as cadeias de suprimento não é uma opção, dado que os calçados de performance exigem um conjunto de habilidades e fábricas muito específicos”, disse Poonam Goyal, analista da Bloomberg Intelligence. “Não consigo ver como os preços para os consumidores não vão aumentar.”
VIETNÃ: FORNECEDOR ESTRATÉGICO
Além da Nike e da Adidas, grandes empresas de moda, como a Fast Retailing (dona da Uniqlo), Hennes & Mauritz AB e Gap, também consideram o Vietnã um fornecedor estratégico. O país é um dos maiores exportadores de têxteis, com um valor de exportação de US$ 44 bilhões no ano passado. Os EUA são seu maior mercado, de acordo com a Associação de Têxteis e Vestuário do Vietnã.
IMPACTO NAS CADEIAS DE SUPRIMENTO GLOBAIS
Durante o primeiro mandato de Trump, muitas empresas aumentaram sua produção no Vietnã devido à intensificação da guerra comercial com a China. O país se destacou como um destino favorável, com baixos custos de mão de obra, infraestrutura de transporte eficiente e uma força de trabalho qualificada.
As tensões comerciais com o Vietnã começaram a ganhar destaque em 2019, quando Trump acusou o país de se beneficiar mais do que a China nas trocas comerciais com os EUA. A imposição de tarifas veio como uma continuação dessa política, afetando diretamente a indústria de calçados e vestuário, que prosperou nos últimos anos no Vietnã.
IMPACTOS NO CRESCIMENTO DO VIETNÃ
Apesar da guerra comercial e das tarifas impostas, o Vietnã continua a ser uma das economias de crescimento mais rápido da Ásia, com um PIB que cresceu 7,1% no ano passado. Além disso, o superávit comercial do Vietnã com os EUA atingiu US$ 123 bilhões no último ano, o que coloca o país entre os maiores parceiros comerciais dos EUA, ao lado da China e do México.
O governo vietnamita tem trabalhado para apaziguar as tensões comerciais com os EUA. Em janeiro, o primeiro-ministro do Vietnã, Pham Minh Chinh, sugeriu até mesmo uma visita a Trump para resolver as disputas comerciais. Desde então, o Vietnã tem adotado medidas para reduzir suas próprias tarifas sobre produtos dos EUA, como carros, etanol e gás natural liquefeito.
Com informações de O Globo