O real passou a ser alvo das apostas do mercado financeiro internacional, o Brasil tem a maior expansão porcentual de contratos de derivativos nos últimos anos e o mercado de câmbio no País quase triplicou desde 2007, com o segundo maior crescimento entre todas as economias emergentes.
Um levantamento inédito publicado ontem mostra como o período que coincide com a gestão do presidente Luiz Inácio Lula da Silva - que tanto atacou o "cassino financeiro" nos últimos anos - foi também o momento em que o mercado de câmbio e derivativos no País mais se globalizou e expandiu, enquanto a moeda passou a ser alvo cada vez mais de apostas e contratos.
O real, segundo o maior levantamento com dados oficiais e coletados com mais de 1,3 mil agentes financeiros, é uma das duas moedas de emergentes que mais ganharam espaço no mercado mundial de divisas nos últimos três anos e já é a 20.ª mais trocada e apostada por esse mercado.
Os dados estão sendo divulgados pelo Banco de Compensações Internacionais (BIS) - o banco central dos bancos centrais. Com sede na Basileia, o BIS apenas publica os números do mercado de câmbio a cada três anos e, em 2010, incluiu o real pela primeira vez como uma das principais divisas do mercado de câmbio mundial. O motivo foi sua aparição no mercado global.
Segundo o BIS, o mercado mundial de divisas cresceu 20% entre 2007 e 2010, com contratos fechados em cerca de US$ 4 trilhões por dia. Há três anos, chegava a US$ 3,3 trilhões. Apesar da expansão, ela não ocorreu no mesmo nível do período de 2004 a 2007, quando foi de 72%.
De acordo com o novo levantamento, a participação do dólar continua a cair, tendência que já vem ocorrendo desde 2001, quando atingiu o pico ao controlar 90% do mercado de câmbio mundial. Dez anos depois, sofre uma queda, ainda que controle 85% dos contratos de câmbio. Já o euro e o iene tiveram a maior expansão. A moeda europeia ganhou 2% em dez anos e hoje ocupa 39% de todas as transações.
Real.
Entre as moedas de países emergentes, o real foi um dos destaques, com o segundo maior crescimento em participação no mercado internacional, atrás apenas da lira turca. A moeda brasileira, que em 2007 representava 0,4% do mercado de divisas, passou a representar 0,7% em 2010. Há 12 anos, a taxa era de apenas 0,2%. Os dados de 2010 são os primeiros a incluir não apenas o mercado do real no Brasil, mas em todo o mundo.
A participação de 0,7% é pequena, principalmente em relação ao dólar, com 85%. Mas o BIS admite que a expansão chama a atenção pela velocidade. O mercado de troca entre dólar e real passou de contratos diários de US$ 3 bilhões em 2004 para US$ 5 bilhões em 2007 e US$ 26 bilhões a cada dia neste ano.
A expansão do real segue uma lógica da internacionalização das moedas de mercados emergentes. Hoje, as divisas das 23 principais economias emergentes já representam 14% do mercado, ante 12% em 2007.
Derivativos. O levantamento ainda mostra que o Brasil foi o país onde o mercado de derivativos mais se expandiu nos últimos três anos. No ápice da crise, entre 2008 e 2009, o presidente Lula chegou a criticar as empresas brasileiras que haviam usado do mecanismo para lucrar. Lula chegou a acusá-los de "trambiqueiros", em um discurso em Istambul, em maio de 2009.
Mas o BIS revela que o mercado de derivativos, que causou prejuízos a empresas brasileiras, continuou em plena expansão. Entre 2004 e 2007, o volume negociado diariamente no Brasil caiu de US$ 900 milhões para US$ 100 milhões. Mas, neste ano, atingiu US$ 7,5 bilhões.
A alta mundial de contratos de derivativos entre 2007 e 2010 foi de 24%, com um volume negociado de US$ 2,1 trilhões por dia. A participação brasileira é limitada a 0,3%, mas os números do BIS mostram que nenhum outro país, industrializado ou emergente, teve expansão porcentual similar à do Brasil no período.