Pelo menos quatro estados brasileiros têm registros de casos da Síndrome de Haff, conhecida como doença da urina preta. A doença --que deixa a urina com coloração escura, provoca dores musculares, falta de e insuficiência renal, entre duas a 24 horas após consumir peixes ou crustáceos-- teve diagnósticos no Amazonas, na Bahia, no Ceará e no Pará.
De acordo com o Ministério da Saúde, a Doença de Haff é causada por uma toxina que pode ser encontrada em peixes como o tambaqui, o badejo, a arabaiana ou em crustáceos, como a lagosta, o lagostim e o camarão. Como ela é pouco estudada, acredita-se que esses animais possam ter se alimentado de algas com certos tipos de toxinas que, consumidas pelo ser humano, provocam os sintomas. Contudo, a toxina, sem cheiro e sem sabor, surge quando o peixe não é guardado e acondicionado de maneira adequada.
O quadro descrito nos pacientes graves é compatível com a rabdmiólise, doença que destrói as fibras que compõem os músculos do corpo. Quando associada ao consumo de peixes, a síndrome é conhecida como Doença de Haff.
Tratamento e prevenção
O Ministério da Saúde aponta que a hidratação é "fundamental nas horas seguintes ao aparecimento dos sintomas, uma vez que assim é possível diminuir a concentração da toxina no sangue, o que favorece sua eliminação através da urina". Em casos mais graves, pode ser preciso fazer hemodiálise.
Na maioria das vezes, o quadro costuma evoluir bem, mas há risco de morte, especialmente em pessoas com comorbidades. O indicado é procurar ajuda logo após o aparecimento dos primeiros sintomas para que o diagnóstico seja feito o mais rápido possível.
Não há nada específico que possa ser feito para evitar a enfermidade. Não existem formas de identificar a toxina: ela não tem cheiro, gosto ou cor e não desaparece após o cozimento da carne. A indicação é reduzir o consumo de peixes ou comprá-los em locais onde se conhece o processo de transporte e guarda.
De onde veio?
De acordo com um artigo escrito em 2013 por especialistas do Hospital São Lucas Copacabana, no Rio de Janeiro, o nome da moléstia tem a ver com a sua origem.
Os primeiros relatos sobre ela são de 1924 e vêm da região litorânea Könisberg Haff, que fica próxima do Mar Báltico. Atualmente, esse local integra a cidade de Kaliningrado, que pertence à Rússia e faz fronteira com Lituânia e Polônia.
À época, os médicos que trabalhavam no local descreveram um quadro de início súbito, com "rigidez muscular, frequentemente acompanhada de urina escura".
Após a publicação dos primeiros relatos, foram registrados novos casos no local durante os nove anos seguintes. Eles ocorriam principalmente entre o verão e o outono e tinham um fator em comum: o consumo de pescados.
"Devido à ausência de febre e pelo rápido início dos sintomas após a ingestão de peixe cozido, acredita-se que a doença de Haff seja causada por uma toxina", escrevem os autores brasileiros.
De lá para cá, novos surtos foram registrados em outros países, como a antiga União Soviética, a Suécia, os Estados Unidos e a China.
No Brasil, os primeiros casos foram identificados em 2008 e 2009.
O momento de maior gravidade aconteceu em 2017, quando a Bahia contabilizou 71 pacientes com a doença, 66 deles na capital Salvador.