A cientista Silvania da Silva Teixeira, que foi doutoranda e pós-doutoranda no ICB (Instituto de Ciências Biomédicas) da USP, venceu o Prêmio L'Oréal-USA For Women in Science 2020, ao lado de outras cinco pesquisadoras. Todas receberão uma bolsa-auxílio de 60 mil dólares para conduzirem seus projetos. Dando continuidade à sua pesquisa de pós-doutorado, Teixeira estuda um tratamento inovador para a diabete, usando um metabólito do hormônio tireoidiano.
No estudo, a pesquisadora testou o metabólito em camundongos com diabete tipo 2 e observou um aumento nos níveis de insulina dos animais. A hipótese é que esse tratamento pode induzir a proliferação de células beta pancreáticas, aumentando a secreção de insulina. Para tratar a resistência à insulina, característica da diabete tipo 2, serão feitos testes com a metformina, que aumenta a sensibilidade à insulina. A expectativa é que os dois tratamentos combinados sejam capazes de normalizar os níveis de glicose no sangue, sem efeitos colaterais graves. No entanto, ainda são necessários mais experimentos para chegar a uma possível fase clínica.
Parte de seu pós-doutorado foi feito em Houston, Estados Unidos, no Houston Methodist Research Institute. Após a conclusão, em 2014, Silvania acabou se mudando definitivamente para a cidade e trabalhou durante alguns anos como assistente de laboratório. Em 2019, voltou a trabalhar no Methodist Research Institute e teve o incentivo de sua chefe para se inscrever em grants, prêmios de financiamento. "Nós estávamos escrevendo projetos para diferentes instituições. Foi quando tive a ideia de retomar o meu projeto de pós-doutorado", conta a cientista. Hoje, ela é pós-doc na University of Colorado, em Denver, onde irá conduzir o estudo.
Na nova fase da pesquisa, Teixeira irá usar como modelo animal os ratos do tipo Zucker, que desenvolvem diabete de maneira bem parecida com os humanos. "Quando esses animais apresentarem uma deterioração das células beta, as responsáveis pela produção de insulina, vamos começar a tratar com o metabólito do hormônio tireoidiano por quatro semanas. Depois, iremos investigar como está o pâncreas desses animais e suas células beta", explica. A previsão é que até o final de 2021 o grupo tenha resultados suficientes para publicar um artigo.
Silvania Teixeira é formada em Biologia pela Universidade Estadual Paulista (Unesp) de Botucatu e fez o seu doutorado e pós-doutorado no Departamento de Fisiologia e Biofísica do ICB-USP, atuando no laboratório da professora Maria Tereza Nunes. Para ela, o resultado foi uma surpresa. "Foi a primeira vez que me inscrevi em um grant nos Estados Unidos - ainda estava tentando entender como funcionava o financiamento de pesquisa no país, que é bem diferente do Brasil."
No vídeo de apresentação das cientistas vencedoras, Silvania falou sobre os desafios da carreira científica e o que ela espera do projeto. "Houve um tempo em que eu pensava que não conseguiria ser mãe e cientista. Mas eu quero ser a mãe que minha filha terá orgulho e quero fazer a diferença. Essa pesquisa poderia melhorar a vida de mais de 400 milhões de pessoas com diabete no mundo."
Sobre o prêmio
Criado em 2003, o L'Oréal-USA For Women in Science é fruto de uma parceria entre a L'Oréal dos Estados Unidos e a American Association for the Advancement of Science (AAAS), que anualmente premiam cinco mulheres cientistas com bolsas de 60 mil dólares por suas contribuições nas áreas de Ciência, Tecnologia, Engenharia e Matemática.
O programa é a versão americana do prêmio internacional L'Oréal-Unesco For Women in Science, que conta com 52 programas nacionais e regionais em 110 países, com o objetivo de valorizar e incentivar a presença feminina na ciência. Há também uma versão brasileira do prêmio, o Para Mulheres na Ciência, criado em 2006 pela Unesco Brasil, a Academia Brasileira de Ciências e a L'Oréal Brasil.