À procura de Emanuela nos túmulos de duas princesas, que estão vazios

Ao longo de mais de três décadas, a investigação sobre o desaparecimento de Emanuela foi tratada pelas autoridades italianas, embora o Vaticano tenha anunciado que vai assumir as partes da investigação que dizem respeito ao seu território, como as exumações desta quinta-feira.

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Emanuela Orlandi desapareceu a 22 de junho de 1983, quando tinha 15 anos, mas o irmão acredita que uma pista enigmática poderá ser a chave para se conseguir encontrar o corpo da rapariga, que não mais foi vista desde que que fez a viagem desde o seu apartamento na Cidade do Vaticano até ao centro de Roma, onde iria ter uma aula de música.

O seu desaparecimento foi envolto em mistério e em teorias de conspiração envolvendo desde mafiosos a terroristas internacionais, passando por altos responsáveis do Vaticano, onde o seu pai trabalhava.

O irmão de Emanuela, Pietro, atualmente com mais de 60 anos, nunca desistiu de procurar a irmã e espera agora encontrar o corpo dela num pequeno cemitério, na sequência da última de uma longa lista de denúncias anónimas: uma fotografia de uma escultura de um anjo e a indicação para "ver para onde o anjo está a apontar". A pista levou a família a dois túmulos no interior do Cemitério Teutónico, num pátio adjacente à Basílica de São Pedro, que é reservada para enterros de católicos de língua alemã e, segundo o Corriere della Sera, pertencem a duas princesas, Sophie von Hohenlohe e Carlotta Federica de Mecklenburg.

Após uma campanha da família Orlandi, o Vaticano anunciou no início deste mês que iria exumar o conteúdo nos túmulos, operação que está a acontecer esta quinta-feira de manhã. "Até não encontrar o corpo da Emanuela, para mim é um dever procurá-la viva", afirmou à CNN Pietro Orlandi, que considera que ficará a saber "pelo menos parte da verdade" se os restos mortais da irmã forem descobertos nos túmulos. "Depois gostaria de saber as razões. Mas mesmo que nada seja encontrado, a história não pode acabar", acrescentou.

A operação, porém, é complexa, envolvendo forças de segurança do Vaticano, trabalhadores da construção civil e maquinaria, informou um porta-voz do Vaticano na semana passada. No caso de um osso ser encontrado, teria de ser alvo de uma laboriosa análise de ADN, o que pode levar semanas. A operação que começou às 08.15 locais (07.15, em Lisboa) com uma oração em frente aos túmulos.

Esperava-se que a operação pudesse demorar dias ou semanas, mas poucas horas depois do início da operação o irmão de Emanuela contava aos jornalistas que os túmulos estavam vazios.

Pouco depois do meio-dia (11.00, em Lisboa), Pietro Orlandi saiu do Vaticano para contar que depois de abrirem o primeiro túmulo, encontraram um caixão, mas que estava vazio. "Depois passaram ao segundo, onde bastou levantar a lápide e percebeu-se que estava também vazio", contou o irmão de Emanuela que vê assim mais uma vez goradas as esperanças numa nova pista.

"Recebemos as indicações precisas, não só aquelas da carta anónima, também fontes do Vaticano indicavam aquele como o lugar onde estaria sepultada Emanuela. Esta busca não pode acabar assim. Porquê que todas estas pessoas nos mandaram para ali?", disse Pietro Orlandi, citado pelo Corriere della Sera.

"Vaticano nunca colaborou"

Ao longo de mais de três décadas, a investigação sobre o desaparecimento de Emanuela foi tratada pelas autoridades italianas, embora o Vaticano tenha anunciado que vai assumir as partes da investigação que dizem respeito ao seu território, como as exumações desta quinta-feira.

"O Vaticano nunca colaborou com os investigadores. Sempre negaram a possibilidade de que possa haver responsabilidades dentro do Vaticano e sempre disseram que deram tudo o que tinham e não esconderam nada", afirmou Pietro Orlandi. A CNN entrou em contacto com o Vaticano para obter um comentário, mas não recebeu resposta.

Uma jornalista do Corriere della Sera que acompanhou o caso de perto durante décadas, Fiorenza Sanzanini, mostrou uma visão diferente da aparente mudança de opinião do Vaticano. "Temo que o Vaticano tenha decidido abrir os túmulos porque sabe que não há nada lá dentro. E isso acabará definitivamente com as reivindicações da família Orlandi. Satisfazer esse pedida da família - e de maneira tão pública, com um comunicado de imprensa - serve para desviar a suspeita de que o secretário de estado do Vaticano saiba mais sobre o caso", disse, citada pela CNN.

Na altura do desaparecimento, uma testemunha relatou ter visto uma menina que encaixava na descrição de Emanuela Orlandi entrar num BMW verde-escuro perto da escola de música na noite em que ela desapareceu. Também por esses dias, os pais da rapariga receberam telefonemas anónimos a prometer a devolução dela à família em segurança caso o Vaticano libertasse o turco Mehmet Ali Agca, que disparou contra o papa João Paulo II numa tentativa de assassinato dois anos antes. Porém, as duas pistas não levaram a nada.

Mais recentemente, em 2012, as autoridades revistaram o túmulo do mafioso Enrico 'Renatino' De Pedis, que foi enterrado na basílica de Sant'Apollinare, depois de uma denúncia sugerir que tinha uma pista do desaparecimento dela. "O mais incrível é que o Vaticano nunca explicou porque o mafioso Renatino De Pedis foi enterrado dentro dessa importante igreja no centro de Roma", atira Sanzanini.

Quem são as princesas?

De Sophie von Holenlohe apenas se sabe que morreu em 1836. O segundo túmulo que foi aberto esta manhã é de Carlotta Federica de Mecklenburg. Nascida em 1784, princesa da Dinamarca e Noruega que depois de um caso extraconjugal se divorciou do rei Frederico VII da Dinamarca. Acabou por se refugiar em Roma onde se converteu ao catolicismo e morreu em 1840.

Fonte: Diário de Notícias

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