Os treinos para a corrida aérea levaram uma multidão à Praia do Flamengo, no Rio de Janeiro, neste sábado (8). Os aviadores precisam de muito mais do que coragem para competir.
Fazer uma manobra arriscada sem sentir nenhum desconforto é impossível até para quem está acostumado. O piloto americano Peter Mcleod alerta: uma pessoa comum desmaiaria.
"O coração tem que bombear o sangue contra uma força que está atuando. Isso leva a uma falta de oxigenação cerebral. Primeiro, turva a visão, diminui a amplitude, a visão lateral. Depois, perde a visão e, por fim, a consciência", explica Dino Altmann, médico da Fórmula 1.
São os efeitos da ação da força da gravidade: a força G. Por exemplo, quando um motorista faz uma curva para a direita, a reação imediata do corpo é cair para a esquerda.
"Ela começa a te empurrar para o lado contrário da curva. Então, quanto mais rápido você vai, esse número aumenta. Basicamente, 4G é quatro vezes o peso do seu corpo no pescoço", diz Rubens Barrichello, piloto de Fórmula 1.
Os pilotos do Air Race enfrentam até 12 G. "Se um piloto de 80 quilos sofre uma força de 10 G, é como se ele pesasse o equivalente a 800 quilos, que é mais ou menos o peso de um urso polar?, ensina o doutor em física Welles Morgado.
Para aliviar os efeitos desta força na corrida aérea, este ano a competição ganhou uma nova regra. Agora é obrigatório o uso de macacões especiais, com tubos de água. Nas curvas mais acentuadas, o líquido se dilata e contrai a musculatura do piloto, evitando que o sangue desça do cérebro.
Um risco a menos em meio a tantos deste esporte.
Mês passado, na Austrália, o piloto Adilson Kindleman, primeiro brasileiro a disputar o mundial, perdeu o controle do avião. "Foi tudo muito rápido. Então é difícil falar foi isso que aconteceu", lembra. Os ferimentos foram leves, mas ele só volta a competir em agosto.
No Rio de Janeiro, Adilson vai ser mais um espectador, mais um na multidão esperada para o evento. Em 2007, na estreia do Brasil no circuito, um milhão de pessoas foram à Enseada de Botafogo. E não vai ser a temida força G que vai atrapalhar a festa.
"Se você não quiser sentir nada, tem que pilotar devagar e este não é o nosso negócio", brinca Peter Mcleod.