Os Jogos Olímpicos sempre têm uma cidade-sede, como é o caso de Tóquio em 2021, do Rio em 2016, Londres em 2012 e por aí vai. Algumas modalidades não podem ser sediadas em uma cidade só, como o futebol, porque precisa de muitos estádios; porém, a regra do Comitê Olímpico Internacional permite que algumas partidas sejam transferidas para outras cidades no mesmo país. É assim que Paris vai sediar as Olimpíadas de 2024 sem ter mar, já que o surfe vai acontecer no Taiti (que pertence à França).
Porém nenhum caso na história olímpica se assemelha ao que aconteceu nos Jogos de 1956, que foram disputados em Melbourne (Austrália) e Estocolmo (Suécia), cada cidade de um lado do mundo e com 6 meses de diferença entre suas partes das Olimpíadas. Tudo isso aconteceu por causa dos cavalos do hipismo.
Olimpíadas do outro lado do mundo
Em 1949, o Comitê Olímpico Internacional elegeu Melbourne, uma das maiores cidades da Austrália, como sede das Olimpíadas de Verão de 1956 (a título de curiosidade, os australianos desbancaram Buenos Aires, aqui do lado, na Argentina). Era a primeira vez que as Olimpíadas aconteciam fora do eixo Estados Unidos-Europa e no Hemisfério Sul.
Em vista disso, na mesma hora, os praticantes de hipismo ficaram preocupados: como levar nossos cavalos para competir tão longe? Vale lembrar que, no início dos anos 1950, as viagens de avião não eram tão acessíveis nem tão rápidas quanto seriam com os aviões a jato que surgiram alguns anos depois.
Só que a distância não seria o único problema para os cavaleiros em Melbourne: a Austrália tinha regras extremamente rígidas para quarentena de cavalos, como forma de prevenir a febre equina, um grande problema da época.
Até hoje, esse tipo de medida é comum. A matéria sobre a preparação dos cavalos do hipismo mostrou alguns animais que vão competir em Tóquio ficando algumas semanas na Alemanha para evitar a febre e outras doenças. O problema é que a quarentena australiana da época era de 6 meses.
E agora, Edgar?
Na época, o COI e os praticantes do hipismo tentaram argumentar que, com essa quarentena, seria impraticável ter o hipismo em Melbourne e em qualquer outro lugar da Austrália (como é feito com o futebol, por exemplo), já que as regras valiam para o país inteiro. Cogitou-se até mudar a sede daquelas Olimpíadas para Roma, que já tinha sido selecionada para os jogos de 1960 e estava adiantada nas preparações.
Também havia outro problema: como os jogos seriam no Hemisfério Sul, o verão e o inverno acontecem no oposto do Hemisfério Norte, e as Olimpíadas são de Verão (ao contrário das Olimpíadas de Inverno). Desse modo, os jogos de Melbourne estavam programados para novembro e dezembro de 1956 — outro "incômodo" para os atletas europeus acostumados a descansar nessa época.
No meio de todas essas discussões, o COI chegou a uma conclusão inédita: os jogos iam ficar mesmo em Melbourne e apenas o hipismo iria para Estocolmo, na Suécia, do outro lado do mundo. Por causa das estações, o COI escolheu fazer o evento no verão europeu mesmo, de 10 a 17 de junho — 6 meses antes do início oficial dos jogos.
Houve duas cerimônias de abertura: uma em Estocolmo e outra em Melbourne, com duas piras olímpicas acesas. Comumente, essas são as Olimpíadas de Melbourne 1956, mas em algumas fontes do próprio COI é possível ver menções a Melbourne e Estocolmo, com as duas cidades dividindo o status de serem sedes das Olimpíadas. Algo assim nunca mais aconteceu na história.
As Olimpíadas de Inverno de 2026 acontecerão em duas cidades, Milão e Cortina D'Ampezzo, na Itália, mas elas se uniram para apresentar uma candidatura conjunta. Sobre isso, aliás, os Jogos de Inverno de 2030 ainda estão sem sede: por que a gente não faz uma candidatura conjunta de Curitiba e das outras cidades com neve?