O Brasil se tornou o primeiro país no mundo a realizar cirurgias de reconstrução do canal da vagina usando pele de peixe – no caso, a tilápia – em substituição à pele humana. De abril do ano passado até agora, seis mulheres já foram operadas em caráter experimental e outras duas passarão pelo procedimento no fim deste mês na Maternidade Escola Assis Chateaubriand, ligada à Universidade Federal do Ceará (UFC).
Essas mulheres possuem a síndrome de Rokitansky, uma malformação congênita rara, conhecida como agenesia vaginal e que atinge uma mulher a cada 5.000 nascidas. Nelas, a parte externa da vagina (vulva), onde ficam os pelos e os pequenos e grandes lábios, é perfeitamente normal, mas o canal interno não existe ou é curto demais. Em alguns casos, elas não têm útero, o que as impede de ser mães.
A consequência disso é que sem o canal vaginal a mulher não menstrua (pois o sangue não consegue ser eliminado) e não consegue ter relações sexuais. Por isso, geralmente a síndrome de Rokitansky é detectada apenas na puberdade, quando a adolescente se dá conta de que não menstruou enquanto outras amigas já menstruam, ou quando ela inicia a atividade sexual, pois encontra dificuldades e dores ao manter o contato íntimo.
A jovem Maria Jucilene Moreira Marinho, de 23 anos, do interior do Ceará, foi a primeira mulher do mundo a ser submetida à técnica cirúrgica, em abril do ano passado. Ela nasceu sem o canal da vagina, sem útero e ovários, e só conseguiu um diagnóstico do seu problema aos 22 anos, sete anos depois de procurar o primeiro médico por causa de fortes dores abdominais.
“Na época eu tinha 15 anos e não havia menstruado ainda. Não me incomodava com isso, nem achava estranho. Mas passei a ter muita cólica e foi isso que me fez ir ao médico”, conta Maria. Na consulta, ao dizer que não menstruava, o médico chegou a suspeitar de gravidez e Maria foi submetida ao primeiro ultrassom. “Nesse momento perceberam que o canal era fechado, mas não sabiam explicar as razões. Fiquei desesperada”, lembra.