Astrônomos de instituições norte-americanas e europeias conseguiram observar o mais distante e antigo quasar detectado até hoje, segundo um estudo apresentado nesta terça-feira (12) no encontro da Sociedade Astronômica Americana e que será publicado no periódico The Astrophysical Journal Letters.
O fenômeno, batizado de J0313-1806, se formou apenas 670 milhões de anos após o Big Bang e é mil vezes mais luminoso que a Via Láctea.
Os quasares são os objetos mais energéticos e brilhantes do Universo e ocorrem quando um buraco negro supermassivo atrai o gás no disco de acreção superaquecido ao seu redor, espalhando energia através do espectro eletromagnético. A quantidade de radiação eletromagnética emitida por quasares é tão grande que, não raro, superam a de galáxias inteiras.
O J0313-1806 é cerca de 10 trilhões de vezes mais luminoso que o Sol — e isso significa que ele emite mil vezes mais energia do que toda a Via Láctea. Sua fonte de "alimentação" é o buraco negro supermassivo mais antigo já observado, cuja massa é equivalente a 1,6 bilhão de vezes a do Sol.
“Os quasares mais distantes são cruciais para entender como os primeiros buracos negros se formaram e para compreender a reionização cósmica, que é a última grande fase de transição do nosso Universo”, disse Xiaohui Fan, coautor do estudo, em comunicado.
A presença de um buraco negro tão massivo e tão cedo na história do Universo desafia as teorias da formação desses fenômenos. Isso porque, segundo os especialistas, buracos negros criados pelas primeiras estrelas massivas não poderiam ter crescido tanto em apenas algumas centenas de milhões de anos.
Os pesquisadores também descobriram um fluxo de matéria que emana do quasar na forma de vento a uma velocidade equivalente a 20% a da da luz. Essa energia, por sua vez, é tão grande que impacta a formação de estrelas em toda a galáxia hospedeira do fenômeno — essa é a primeira vez que algo do tipo é observado no espaço.
O sistema que hospeda o J0313-1806 está passando por um surto de formação de estrelas, produzindo novos astros 200 vezes mais rápido que a Via Láctea, por exemplo. Isso torna o quasar e sua galáxia hospedeira um "laboratório" para os cientistas compreenderem o crescimento de buracos negros supermassivos e seus sistemas hospedeiros no Universo inicial.
“Esse é um grande alvo para investigar a formação dos primeiros buracos negros supermassivos”, observou o coautor Feige Wang. “Também esperamos aprender mais sobre o efeito dos fluxos de saída de quasares em sua galáxia hospedeira, bem como compreender como as galáxias mais massivas se formaram no início do Universo.”