Eri Asada, 22 anos, bebe chá em um café de Tóquio completamente indiferente ao homem na mesa ao lado, que não tira os olhos de suas pernas. Ela está vestida com um microvestido rendado, salto alto e meias acima dos joelhos.
É um look provocativo, mas Eri, uma economista recém-formada que ainda vive com os pais, insiste que é “apenas moda”. Não está interessada em atrair o sexo oposto. Na verdade, não quer sexo, ponto. “A ideia de transar com alguém nunca passa pela minha cabeça”, diz. “Não gosto nem de andar de mãos dadas.” Essa ausência de libido não é incomum. Estudos recentes apontam para uma tendência surpreendente entre os japoneses com menos de 40 anos: uma aversão crescente a sexo e namoro.
Se colocado ao lado da taxa de natalidade em queda e do envelhecimento da população, o declínio é tão sério que pode levar a nação a “à extinção”, diz Kunio Kitamura, diretor da Associação de Planejamento Familiar do Japão (JFPA). Em 2013, a JFPA divulgou um levantamento em que 45% das mulheres afirmavam “não estar interessadas ou não gostar de contatos sexuais”. Na mesma faixa etária, 25% dos homens garantiu se sentir igual. Para piorar, a pesquisa concluiu que 40% dos casamentos japoneses são “assexuados” – ou seja, o casal não faz sexo, mesmo morando junto. Por que toda essa geração que está, em teoria, no auge da vida sexual não tem interesse no assunto? O âmago da questão parecem ser as diferentes direções que as vidas de mulheres e homens tomaram.
Nas últimas duas décadas, as japonesas tornaram-se mais independentes e focadas na carreira. Ao mesmo tempo, a economia estagnou e a cultura do trabalhador engravatado que sustenta a casa perdeu força. Fora do papel de provedor, muitos homens tornaram-se menos ambiciosos no trabalho e mais passivos no amor, dizem os especialistas. “A expectativa em relação ao outro não se adaptou aos novos tempos. Muitos ainda querem mulheres submissas e elas não sentem atração por homens sem ambição. Ficou difícil para eles se conectarem romanticamente”, diz Kitamura. Nascida em Tóquio, Eri Asada desistiu do sexo há três anos, depois de um namoro com um colega de faculdade. “Quando terminamos, percebi que passei aquele tempo todo pensando nas necessidades dele. Era o que ele esperava”, diz ela. Garante estar mais feliz agora, solteira, e não pretende fazer sexo nem casualmente. “Na prática, garotas não podem transar só por diversão sem serem julgadas”, afirma. Mas não são só as mulheres que estão confusas nessa área.
Na movimentada Harajuku, rua fashionista de Tóquio, o estudante Kensuke Todo, 20 anos, diz que namorar é muito complicado. “As garotas ou te rejeitam ou querem um relacionamento sério”, afirma. “Prefiro gastar dinheiro com roupas do que pagar jantares e presentes”, acrescenta ele, vestido com calças Paul Smith e uma camisa Comme des Garçons. Para se excitar, muitos de seus amigos preferem quadrinhos eróticos e namoradas virtuais às reais. “É bem comum”, diz, ruborescendo. Tomomi Yamaguchi, professor de antropologia na Universidade Estadual Montana, afirma que as atitudes ultrapassadas em relação às mulheres são a principal causa do fenômeno. “O país deve parar de tratá-las como objetos sexuais ou máquinas de fazer bebês.” Uma melhor educação sexual, medidas que permitissem às mulheres combinar carreira e família e menos pressão econômica sobre os homens também ajudariam.