Conheça a história do chimpanzé que intrigou cientistas por anos

Visto como uma prova da evolução entre humanos e os animais, o primata se tornou a grande estrela de espetáculos internacionais — e sofreu longe de sua verdadeira casa

Oliver, o chimpanzé | Wikimedia Commons
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Oliver era diferente dos outros chimpanzés. Ao invés de caminhar inclinado para frente com os ombros e braços, ele andava ereto com suas duas pernas, com uma passada mais parecida com a dos humanos. E foi justamente sua marcha incomum que mudou sua vida para sempre.

Oliver, o chimpanzé - Wikimedia Commons 

Na década de 1960, o primata foi roubado de uma família de chimpanzés e nunca mais voltou para casa, principalmente depois que artistas viram nele a oportunidade de comercializá-lo como o “elo perdido” entre humanos e o mundo animal, um exemplo vivo da teoria evolutiva darwiniana que coloca homens e macacos com a mesma ancestralidade.

Rapidamente Oliver se tornou centro de um espetáculo internacional e foi apelidado de Humanzé. Mas por trás de todo o glamour do show business, ele carregava uma história muito triste e exploratória.

Afinal, quem o via no The Ed Sullivan Show ou na televisão japonesa, sendo mostrado como uma estrela que toma sorvete de xerez, fuma cigarro e adora café, jamais imaginava que um dia ele foi um animal livre que vivia no Congo, mas que agora era amarado e acorrentado por seus donos.

Vida melancólica

Na década de 1970, o macaco foi adquirido pelos treinadores Frank e Janet Berger, que sempre suspeitaram que ele era um híbrido de humano-chimpanzé devido a suas características físicas e comportamentais — além de andar bipedalmente, o primata possuía um rosto mais achatado que seus semelhantes e também pode ter tido uma preferencia por mulheres ao invés de fêmeas de sua espécie.

Em um especial da Discovery Channel, em 16 de dezembro de 2006, Janet Berger afirmou que Oliver começou a se sentir atraído por ela quando completou 16 anos — tentando se acasalar com sua dona. A partir daí, ficou claro que ele não podia mais ficar com os Berger, que decidiram vendê-lo para Michael Miller, um advogado de Nova York.

Em 1977, Miller o repassou a Ralph Helfer, sócio de um pequeno parque temático chamado Enchanted Village em Buena Park, na Califórnia. Apesar do parque ter fechado no final daquele ano, Oliver continuou sendo exposto em um novo empreendimento de Helfer: o Gentle Jungle — que mudou de local algumas vezes antes de finalmente fechar em 1982.

Naquela época, o Los Angeles Times publicou um extenso artigo sobre a possibilidade do primata ser um elo perdido da evolução humana ou uma nova subespécie de chimpanzé. Com o parque sendo fechado, o macaco foi transferido para o Wild Animal Training Center em Riverside, e acabou sendo vendido para Ken Decroo — dono do local — em 1985.

Porém, quatro anos depois, Oliver foi comprado pela Buckshire Corporation, um laboratório da Pensilvânia que aluga animais para testes científicos e cosméticos. Apesar de nunca ser usado em experimentos, passou quase uma década trancado em uma pequena gaiola, cujo tamanho restrito acarretou problemas de atrofia muscular no animal.

Em 1996, Sharon Hursh, presidente da Buckshire Corporation, depois de ser solicitado pelo santuário de animais Primarily Primates, permitiu a aposentadoria de Oliver, que foi levado para uma colônia com outros 13 chimpanzés.

Já velho, com problemas artríticos e com a visão parcialmente afetada, o animal acabou em uma gaiola ao ar livre no condado de Bexar, no Texas, colocado sob os cuidados temporários do reabilitador de vida selvagem Lee Theisen-Watt.

Oliver passou seus últimos anos com outro chimpanzé, uma fêmea gentil conhecida como Passa, que se tornou sua única companheira já que seus problemas devido a idade avançada o impedir de interagir com outros primatas mais jovens em brincalhões. Assim, viveu seus últimos momentos participando de festas de esmagamento de melancia e de atividades de pintura.

O macaco morreu dormindo e foi encontrado no dia 2 de junho de 2012, quando tinha cerca de 55 anos. Stephen René Tello, diretor executivo da Primaiously Primates, afirmou que ele seria cremado e suas cinzas espalhadas nos terrenos do santuário.

Em 1996, enquanto o animal ainda estava alojado na Buckshire Corporation, um geneticista da Universidade de Chicago testou partes de seu DNA, e revelou que ele tinha os 48 cromossomos, igual um chimpanzé normal, refutando uma alegação anterior de que ele tinha apenas 47 — para meio de comparação, os seres humanos possuem 46 cromossomos.

Em um estudo separado, verificou-se que a morfologia craniana, a forma da orelha, as sardas e a calvície de Oliver estavam dentro da faixa de variabilidade exibida pelo chimpanzé comum. Testes genéticos posteriores, publicados no American Journal of Physical Anthropology, descobriram que o DNA mitocondrial do macaco correspondia intimamente ao de uma subespécie central de chimpanzé, que vive na República do Congo, Gabão e outras áreas da África Central.

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