Tendências de saúde vêm e vão, mas uma moda pós-parto está ganhando força, principalmente nos Estados Unidos, entre algumas novas mães que exaltam os benefícios de comer suas próprias placentas.
Convencidas de que ela ajuda a aumentar a energia, a produção de leite saudável e afastar a depressão pós-natal, a prática está cada vez mais comentada. O fenômeno, chamado de ‘placentofagia’, implica em comer a própria placenta, rica em ferro, sob qualquer forma: líquida, sólida ou em uma pílula.
O material orgânico esponjoso fornece ao feto nutrientes, oxigênio e hormônios através do cordão umbilical durante o período de gestação de 40 semanas. Algumas parteiras promovem suas virtudes nutritivas para as mães, assim como Claudia Booker. “A placenta ajuda a restaurar o seu corpo com vitaminas, minerais e hormônios. Não revitalizá-lo para que você possa ir a festas, por exemplo, apenas restaurá-lo quando você se sentir muito desgastada", disse ela, comentando também sobre sua pia de cozinha, em Washington, onde ela prepara comprimidos com o órgão.
Por 270 dólares (772 reais), Booker, de 65 anos de idade, processa e prepara a placenta, transformando-as em cápsulas. O processo de transformar placenta em pílulas seja, talvez, mais familiar aos cozinheiros do que aos cientistas: ela limpa a placenta, pressiona o sangue e a cozinha em vapor antes de colocá-la em um desidratador, durante a noite. A placenta seca é cortada em tiras e colocada em um moedor de café para se transformar em um pó, que ela coloca dentro de pequenas cápsulas, uma técnica que ela aprendeu com um acupunturista chinês.
Não existem estudos científicos que provem que comer a própria placenta poda trazer benefícios significativos para a saúde, mas isso não impediu que a tendência ganhasse força em alguns círculos, inclusive entre os mais ricos. A atriz Alicia Silverstone já foi uma adepta, bem como January Jones, que participou do seriado ‘Mad Men’. A tendência criou até mesmo livros de receitas e um exército dedicado de testadores de receita em blogs de mães. Há receitas como lasanhas de placenta, tacos ou trufas de chocolate.
Mãe de sete crianças, Catherine queria experimentar sua placenta após dar à luz seu último filho. Ela picou sua placenta em cubos e a misturou com leite de amêndoa, mel e blueberries, preparando um smoothie. Ela pretendia disfarçar o gosto do órgão.
Booker sustenta que os benefícios de comer a placenta também são psicológicos, ajudando as mães a evitar depressão pós-parto, que afeta até 19% das mulheres nos Estados Unidos, de acordo com os Centro de Controle e Prevenção de Doenças.
"É uma das peças do quebra-cabeça que ajuda a diminuir a montanha-russa emocional do período pós-parto", disse Booker. Acredita-se também que ela sirva para aliviar a fadiga e a ansiedade num período pós-nascimento tumultuado.
Mas os pesquisadores estão apenas começando a realizar estudos abrangentes sobre a prática, que surgiu pela primeira vez nos EUA, na década de 1970, de acordo com Daniel Benyshek, um antropólogo de medicina na Universidade de Nevada. “Acredita-se que os americanos tenham iniciado essa prática, embora placenta seca tenha sido muito utilizada na medicina chinesa, valorizada por curandeiros, por conter qualidade curativas”, disse ele.
Outros têm examinado o efeito em mamíferos. O psicólogo Mark Kristal, da Universidade de Buffalo, descobriu que os ratos sentem menos dor no período pós-parto, quando comem suas placentas.
Mas a maioria dos estudos sobre os benefícios humanos não cumprem as normas científicas aceitáveis, disse Benyshek. Em vez disso, a maioria das evidências é anedótica. "A única coisa que temos é um grande número de feedback positivo de mulheres, inclusive as que apresentaram depressão pós-parto", disse ele.
Com base em uma pesquisa com 189 mulheres, em 2013, conduzida por Benyshek, 98% das mulheres relataram os efeitos de comer a sua própria placenta como 'positivos'. Ele está planejando lançar um estudo completo com base em uma pesquisa envolvendo 30 mulheres.
Cientificamente provado ou não, muitas mães estão adotando a placentofagia como um ritual essencial pós-parto. "A razão pela qual eu escolhi fazer isso é que eu possuo um histórico de depressão e um dos supostos benefícios do curso é que ele ajuda a equilibrar meus hormônios", disse Melissa, mãe de três crianças.
Se você está pensando em fazer algo do tipo ou recomendar a prática a alguém, tome cuidado. O ideal é aguardar os novos resultados científicos e consultar, sempre, um médico especializado.