Sabe quando você experimenta o tomate e percebe que ele não tem gosto? Não é apenas impressão. Os frutos do tomateiro ficaram mesmo menos saborosos nas últimas décadas. Para reverter esta situação, os cientistas não param de tentar buscar soluções.
A última novidade surgiu através de uma pesquisa conjunta desenvolvida por cientistas do Brasil, Alemanha e Estados Unidos. A partir de um tomate selvagem eles criaram uma variedade mais resistente e com mais antioxidantes. A nova planta é rica em licopeno, um antioxidante que ajuda no combate ao câncer de próstata.
Os experimentos começaram a partir da Solanum pimpinellifolium, uma espécie selvagem da América do Sul, considerada a variedade mais próxima do tomate original. Ele possui características nutricionais desejáveis, como sabor apurado e mais aroma do que os tomates modernos, porém, os frutos são muito pequenos, do tamanho de ervilhas, por isso não são rentáveis e se tornaram impróprios para o cultivo.
A nova planta foi desenvolvida usando a técnica CRISPR-Cas9, de edição genética, na qual os cientistas isolam ou retiram um gene indesejado da planta inicial. No caso da Solanum, eles simularem algumas das mesmas modificações genéticas que deram origem ao tomate doméstico, ou seja, refizeram o caminho da domesticação dos tomates selvagens, retirando todas as modificações genéticas realizadas nas últimas décadas.
Na prática, os cientistas recorreram aos genes originais do tomate para aprimorar vegetais consumidos atualmente pelo homem. Foi como se recorressem ao passado para resgatar o que havia de melhor na planta.
“Essa total inversão da abordagem tradicional só foi possível porque hoje se conhece bem a genética e a fisiologia da domesticação das plantas. A metodologia serve até para espécies que nunca foram domesticadas”, diz o agrônomo Lázaro Peres, coordenador do estudo e professor da Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (Esalq).
Como resultado foi obtido um tomate com mais antioxidante, mais acidez e açúcar, características que enriquecem o sabor. A concentração de licopeno no novo fruto chega a ser cinco vezes maior do que a encontrada no tomate cereja comum.
O formato do tomate também foi alterado. Comparado com o tomate original selvagem, bem pequeno, os frutos da nova linhagem chegam a ser três vezes maiores. Já os cachos dão duas vezes mais frutos e a planta não precisa de estacas para se manter firme.
Em busca do antigo sabor
O melhoramento genético não é novidade. Cruzamentos e mutações naturais vêm sendo registradas há milhares de anos no mundo. O que os cientistas estão fazendo nos últimos anos é induzir os melhoramentos em laboratório.
O problema foi que depois de vários processos de melhoramento, para ajustar algumas características, muitos alimentos acabaram perdendo outras qualidades. Ou seja, ao priorizar alguns genes, alguns acabaram sendo “esquecidos” ao longo dos cruzamentos. Depois de algum tempo eles perderam a função.
Algumas variedades de tomate, por exemplo, ficaram menos saborosos, perderam teor de vitaminas e nutrientes, além de terem ficado mais suscetíveis a algumas doenças.
O experimento com o novo tomateiro é o passo inicial para realinhar a técnica de domesticação de plantas. “Os resultados abrem caminho para programas de melhoramento molecular para explorar a diversidade genética presente em plantas silvestres”, comentaram os pesquisadores.
A pesquisa, publicada na Revista Nature Biotechnology, teve a participação de cientistas da Universidade Federal de Viçosa e da Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (Esalq). No Brasil, o estudo foi divulgado pela Fapesp e pelo Conselho de Informações sobre Biotecnologia (CIB).
Não há informações de quando o novo tomate poderá começar a ser cultivado no campo, mas os pesquisadores já têm um novo desafio. Estão estudando uma outra espécie de tomate, a Solanum galapagense. Muito encontrada nas ilhas Galápagos, ela é mais resistente à salinidade, além de ser coberta de pelinhos que a deixam mais resistente a insetos.