O derretimento da geleira Thwaites, na Antártida Ocidental, pode se agravar ainda mais. Pesquisadores alemães e britânicos revelam que, além das mudanças climáticas, o calor no interior da Terra provavelmente tem afetado, por milhões de anos, o comportamento da massa de gelo também conhecida como “Geleira do Juízo Final”.
Desde a década de 1980, Thwaites perdeu cerca de 595 bilhões de toneladas (540 bilhões de toneladas métricas) de gelo, contribuindo sozinho com 4% para o aumento anual do nível do mar global durante esse tempo.
A taxa de perda de gelo da geleira acelerou substancialmente nas últimas três décadas, em parte devido aos rios ocultos de água do mar comparativamente quente cortando a parte inferior da geleira, bem como às mudanças climáticas não mitigadas que aquecem o ar e o oceano.
Publicada no último dia 18 de agosto no periódico Communications Earth & Environment, a pesquisa lembra que a geleira está localizada sobre uma trincheira tectônica, onde a crosta terrestre é significativamente mais fina do que na Antártida Oriental. Enquanto na região leste a espessura da crosta é de aproximadamente 40 quilômetros, a porção oeste do território gelado tem blocos de crostas bem mais finos.
"Nossas medições mostram que onde a crosta terrestre tem apenas de 17 a 25 quilômetros de espessura, o fluxo de calor geotérmico de até 150 miliwatts por metro quadrado pode ocorrer sob a geleira Thwaites", explica Ricarda Dziadek, geofísica do Instituto Alfred Wegener (AWI), na Alemanha, em comunicado.
Já era antiga a hipótese de que em regiões de crosta mais fina deve haver maior absorção do calor do manto superior da Terra. Agora, os cientistas resolveram mapear o fluxo de calor a partir do cálculo da distância entre crosta e manto em vários pontos da Antártida.
Eles não conseguiram cravar a temperatura exata do gelo quando ele está no fundo do mar, mas acreditam que o aquecimento dessa área é prejudicial para a geleira Thwaites. "Grandes quantidades de calor geotérmico podem, por exemplo, levar o fundo da geleira a não congelar completamente ou a uma camada constante de água se formando em sua superfície", afirma Karsten Gohl, também geólogo da AWI.
Ambas as condições poderiam facilitar o deslizamento de gelo sobre o solo. Em breve, os especialistas poderão descobrir quão precisa é a avaliação de fluxo de calor feita ao longo da Antártida Ocidental, incluindo métodos como a perfuração de núcleos de gelo.