Astrônomos descobrem estrelas que “engolem” planetas que as orbitam

Em amostra de 107 sistemas binários, equipe internacional de pesquisadores registrou que pelo menos 25% das estrelas similares ao Sol realizam “canibalismo planetário”

Sol | Vanderbilt University
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Uma equipe internacional de pesquisadores divulgou um novo estudo em que revela que pelo menos uma a cada quatro estrelas semelhantes ao Sol dissolve e incorpora o material de planetas que as orbitam. Conhecido como engolfamento ou "canibalismo planetário", o frequente processo pode ajudar astrônomos na busca por sistemas solares parecidos com o nosso — e, consequentemente, planetas com condições habitáveis.

Publicados na revista Nature Astronomy, os resultados foram liderados por Lorenzo Spina, astrônomo do Observatório de Padova, na Itália. Também composta por pesquisadores da Austrália, Estados Unidos e da Universidade de São Paulo (USP), a equipe partiu da análise de sistemas binários bem separados.

Neles, duas estrelas afastadas entre si apresentam composição química idêntica, mas que podem ser alteradas a partir do engolfamento de planetas. Uma vez que um planeta “cai” em uma estrela, a região mais externa do interior estelar (chamada de zona convectiva) recebe os fragmentos de planetas que são abundantes em elementos refratários, como ferro e lítio.

Astrônomos identificam estrelas que “engolem” planetas que as orbitam (Foto: Vanderbilt University)

Portanto, se uma das estrelas do sistema binário engolir um planeta, o processo será identificável a partir da comparação com a sua companheira distante. Mas, o que isso tem a ver com o Sol? Felizmente, não corremos o risco de sermos engolidos por ele. Com uma arquitetura estável que nos mantém a salvo, o Sistema Solar não é um sistema binário, embora o Sol possa ser comparado com suas "gêmeas solares", que são estrelas com características físicas similares a ele.

Segundo Jorge Luis Meléndez, astrônomo do Instituto de Astronomia e Geofísica (IAG) da Universidade de São Paulo (USP) que participou do estudo, o Sol possui uma deficiência de elementos presentes em planetas rochososo. “Nesse sentido, as binárias indicam o caminho para buscar sistemas planetários como o nosso: procurar estrelas que sejam menos abundantes em elementos refratários”, explica Meléndez à GALILEU. 

Sistema binário de estrelas gêmeas HIP47836 e HIP47839 (Foto: archive.stsci.edu/)

“Elas não devem ter engolido seus planetas e devem possuir sistemas planetários com maior estabilidade orbital, como o Sistema Solar.”

No total, foram estudados 107 sistemas binários com estrelas de cerca de 0,8 a 1,2 massas solares. Os pesquisadores também levaram em conta o tamanho do envelope conectivo, que influencia na detecção do canibalismo planetário. Em estrelas menos massivas que o Sol, a zona convectiva é maior, bem como a diluição do material dos planetas.

“Já em estrelas mais massivas que o Sol, o efeito é o oposto, sendo mais fácil detectar a poluição planetária. Em nossa estimativa final de que pelo menos 25% das estrelas de tipo solar engoliram seus planetas, levamos em conta também esse viés de detecção”, esclarece Meléndez.

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