Covid: Empresa negocia com governo para trazer nova vacina ao Brasil

Vacina desenvolvida em parceria com o laboratório alemão BioNTech está em estágio final.

Carlos Murillo, CEO da Pfizer | Cláudi Gatti/VEJA
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O boliviano Carlos Murillo, de 48 anos, virou sua rotina do avesso com a pandemia do novo coronavírus (Covid-19). À frente da subsidiária brasileira da Pfizer, gigante farmacêutica, ele negocia com os principais gestores da multinacional americana e com o governo brasileiro para trazer a vacina para o país ainda este ano. As informações são da Veja.

A esperança de imunização pela tecnologia desenvolvida pela companhia, em parceria com o laboratório alemão BioNTech, anima mercados globais por causa da alta capacidade de produção, caso a imunização, que esta em fase de testes, seja aprovada. A empresa preparou cinco plantas no mundo para produzir cerca de 100 milhões de doses ainda este ano e, estima fabricar 1,2 bilhão de doses em 2021. Na corrida pela imunização, a Pfizer testa quatro vacinas simultaneamente. Os testes estão na terceira e penúltima fase de desenvolvimento e o trabalho do CEO, além de garantir que a vacina chegue ao país assim que estiver disponível, é de conversar com o governo para tentar fazer testes clínicos também no Brasil. “Estamos bastante otimistas de que a ciência vencerá novamente. Hoje, já temos um bom número de vacinas apresentando bons resultados para o tratamento de Covid-19. Em breve, teremos mais de uma solução”, diz Murillo. 

A Pfizer já está em estágio nal para o desenvolvimento de sua vacina. Como a empresa tem avançado tão rápido? 

A Pfizer está atuando fortemente para trazer uma resposta terapêutica que ajude a combater as pandemias. Firmamos uma parceria com a BioNTech e estamos trabalhando com as autoridades para desenvolver, testar e produzir uma possível vacina a base de RNA mensageiro (mRNA). Isso é chave porque é uma vacina diferente, uma nova tecnologia nas vacinas. Essa tecnologia utiliza um DNA mensageiro sintético para ajudar o nosso corpo a se imunizar contra um vírus. Isso pode ser potencialmente desenvolvido e fabricado mais rapidamente que as vacinas tradicionais. Se os resultados forem positivos, como têm sido até o momento, e a vacina experimental receber autorização, esperamos produzir cerca de 100 milhões de doses até o final de 2020. Esse é o nosso objetivo. Possivelmente, produziremos mais de 1,2 bilhão de doses até o fim de 2021. Estamos mantendo conversas com o governo sobre essa nova tecnologia e atualizando as etapas de desenvolvimento. Realmente, esperamos oferecer essa futura vacina ao país com o intuito de proteger a população brasileira.

Carlos Murillo, CEO da Pfizer no Brasil/ Crédito: Cláudi Gatti/VEJA

Já se provou que o Sars-CoV-2 é um vírus que sofre mutações. Como isso atrapalha o desenvolvimento de uma vacina? 

Isso acontece com outras doenças. Em alguns anos, a vacina contra Influenza (gripe), por exemplo, parece que funciona bem, em outros parece que não. Tem muita variabilidade. Isso tem a ver com a forma com que as vacinas tradicionalmente são feitas. As vacinas tradicionais introduzem no nosso corpo uma forma inerte ou enfraquecida do vírus, do patógeno. Essa forma enfraquecida faz com que o nosso corpo reconheça o vírus e reaja para que o patógeno não se desenvolva. Só que esse processo é mais demorado para se desenvolver uma vacina. No caso da Influenza, a produção da vacina é feita entre seis e 12 meses antes de estar pronta para aplicação. Por isso, você tem que tentar antever quais são os patógenos, as mutações, que vão estar mais prevalentes no próximo ano. Esse é um exercício muito difícil. Às vezes se acerta mais, outras menos. Como a BioNTech já estava trabalhando nessa nova tecnologia que mapeia a sequência genética do vírus, o desenvolvimento da vacina para o coronavírus foi mais rápido, porque em janeiro um cientista chinês já disponibilizou a sequência genética do Sars-CoV-2. A tecnologia e a plataforma que estávamos trabalhando desde 2018 em parceria com a BioNTech, portanto, se tornou propícia para a situação e uma solução rápida para o desenvolvimento da imunização contra Covid. 

Mas como a companhia já avançou nesse processo?

 Neste momento, a companhia está com estudos clínicos das fases 1 e 2. O desenho desses estudos nos permite avaliar várias vacinas experimentais simultaneamente. A Pfizer está testando atualmente quatro vacinas ao mesmo tempo, afim de identificar a candidata mais segura, potencialmente mais eficaz, e em um número maior de voluntários, de forma a facilitar a apresentação dos dados para as comunidades regulatórias em tempo real. A companhia desenvolveu globalmente dados preliminares positivos dos estudos clínicos realizados até o momento de uma dessas vacinas. Agora, avançamos com as autoridades regulatórias para iniciarmos a terceira fase do estudo, com uma população maior de pacientes. Estamos avançando muito bem, com muitos processos simultaneamente, o que nos permite ganhar tempo.

No passado, demoravam-se anos para termos uma vacina com eficácia comprovada. Por que, desta vez, teremos uma solução pouco tempo após a descoberta da enfermidade? 

Três fatores explicam isso. Uma é a urgência. Realmente, a humanidade não enfrentou uma situação tão devastadora nos últimos 100 anos. A necessidade de desenvolver a vacina gerou uma situação especial, com a colaboração de toda comunidade científica. Uma das primeiras coisas que a Pfizer fez, ainda em março, foi criar um plano de cinco medidas para combater a Covid. Uma delas foi o compartilhamento de ferramentas e ideias. Nós só conseguimos avançar com a vacina porque um pesquisador chinês já havia descoberto a sequência genética do Sars-CoV-2 e a colocou à disposição. O segundo fator tem a ver como fazer essas etapas em paralelo e muitas delas assumindo o risco. Antes, você fazia estudos pré-clínicos, testes em animais, e só depois de obter um conjunto de informações robustas, procurava-se uma aprovação regulatória para que, posteriormente, começasse a fase da produção. Agora, esses processos estão sendo realizados paralelamente. Os resultados estão sendo compartilhados em tempo real com as autoridades. Já adequamos cinco plantas a nível mundial para produzir a vacina. Assim que as autorizações regulatórias forem obtidas, liberaremos o produto. Hoje, a situação não é de aguardar a autorização para fazer o investimento. É fazer muito desse investimento a risco para agilizarmos os processos. A terceira razão, no caso da vacina produzida por Pfizer e BioNTech, é esta nova tecnologia. É uma nova forma de se fazer vacina. Comprovando-se a eficácia, essa será a forma como as futuras novas vacinas serão desenvolvidas. 

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