José Osmando

Coluna do jornalista José Osmando - Brasil em Pauta

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Milícia, crimes, políticos, governos e impunidade andam de mãos dadas no Rio

O que vemos, coloca na nossa cara, de cada pessoa a quem reste um mínimo de bom senso, a certeza nítida de que o Rio tornou-se o palco nefasto

A prisão, neste domingo, dos irmãos Chiquinho e Domingos Brazão e do delegado Rivaldo Barbosa, apontados como mandantes e arquiteto/acobertador da ação brutal que tirou a vida da vereadora Marielle Franco e de seu motorista Anderson Gomes, apresenta um certo alívio, mas nos dá, igualmente, um nó no estômago, por ver a desgraça em que o Rio de Janeiro se transformou.

O que vemos coloca na nossa cara, de cada pessoa a quem reste um mínimo de bom senso, a certeza nítida de que o Rio tornou-se o palco nefasto em que convivem, de mãos dadas, o crime, a violência, a impunidade, a corrupção mais deslavada, a omissão, e até mesmo a participação reversa das autoridades públicas, de mãos dadas com a criminalidade.

Basta ver o currículo dos três levados para trás das grades pela Polícia Federal, após ordem do ministro Alexandre de Moraes, do STF. Domingos Brazão, é um quadro do MDB, pelo qual foi eleito quatro vezes (de 2002 a 2015) deputado estadual, e só deixou o partido, a que também pertence o atual governador Cláudio Castro, quando teve que renunciar ao mandato para ser Conselheiro do Tribunal de Contas do Estado do Rio de Janeiro. Até 1996 fora vereador da antiga capital, elegendo-se pelo PL. Como conselheiro do TCE, foi preso temporariamente em 2017, acusado de participar no desvio de verbas públicas, mas voltou ao cargo ao sair da prisão.

Seu irmão, Chiquinho Brazão, citado na delação de Ronnie Lessa como um dos mandantes da morte de Marielle, foi vereador do Rio por 12 anos, é deputado federal pelo Rio de Janeiro no segundo mandato, e tem como principal reduto eleitoral a zona oeste da antiga capital, uma das regiões com maior domínio das milícias. Até o ano passado exercia o cargo de secretário estadual de Ação Social. Tem seu nome citado por Lessa, mas também pelo miliciano Orlando Curicica em depoimento à Polícia Federal em 2019. Tanto ele quanto o irmão são acusados de participar do Escritório do Crime.

O outro preso ontem é o delegado Rivaldo Barbosa, nomeado pelo interventor federal da Segurança Pública do Rio de Janeiro, general Walter Braga Neto, para exercer a função estratégica de Chefe da Delegacia de Homicídios da Capital, órgão que tinha a responsabilidade de apurar a morte de Marielle e Anderson e colocar os responsáveis na cadeia. A nomeação de Rivaldo se deu um dia antes da morte da vereadora e seu motorista. A surpresa estúpida sobre Rivaldo Barbosa é que ele conhecia Marielle e sua família, e também Marcelo Freixo, a quem Marielle era politicamente ligada, e no dia seguinte ao atentado fatal recebeu Freixo e familiares, e garantiu que a morte de Marielle seria apurada, pois era “uma questão de honra” para ele.

A cretinice e a crueldade são de tal modo, que no mesmo momento em que oferecia o ombro para o choro da família de Marielle, e prometia rigor na apuração, Rivaldo Barbosa, sentava em cima das investigações, para impedir que o crime fosse elucidado, protegendo, sabe-se hoje, os dois mandantes do assassinato até agora revelados, os irmãos Brazão, aos quais era ligado. Rivaldo funcionou, deste modo, como uma espécie de arquiteto da impunidade.

Transformaram o Rio de Janeiro num palco de tragédia e de ingovernabilidade. Mancomunados com bandidos, operadores do jogo do bicho e máquinas caça-níqueis, de narcotraficantes e de milicianos, nada menos do que 6 governadores do Estado do Rio, nos últimos oito anos, foram afastados dos cargos e alguns deles presos. Em 2020, o afastamento do governador Wilson Witzel, eleito em 2018 abraçado a Bolsonaro, a quem seguia de fuzil em punho, aprofundaria a crise de governabilidade do Estado. Juntou-se a outros afastados anteriores: Pezão, Sérgio Cabral, Anthony Garotinho, Rosinha Garotinho e Moreira Franco.

Fizeram do Rio uma Medellín de tamanho gigante. Refiro-me à cidade colombiana que já figurou no mundo, por muito tempo, como uma das cidades de maior violência, dominada pelo narcotráfico sob o império de Pablo Escobar.

A história hoje é outra. Medellín renasceu de maneira extraordinária, com políticas públicas cujo lema era “O Melhor para os Mais Pobres”. A cidade investiu fortemente nas bibliotecas-parques, em grandes complexos culturais e esportivos, criando oportunidades e atrativos para adolescentes e crianças, desviando-os da criminalidade, e chegando perto das famílias, com oportunidades de trabalho e renda, fortalecendo comércio e serviços locais, com transporte público e segurança para a população.

Hoje Medellín é um belo exemplo ao mundo. Será que haveremos, algum dia, de ver isso no Rio de Janeiro?

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