O Presidente Lula assume, nesta terça-feira, a presidência do Mercosul, numa hora decisiva para o organismo regional, diante da necessidade de destravar e consolidar o acordo dos países latino-americanos com a União Europeia. Essa é uma tarefa difícil, que vem sendo tratada há 24 anos, sempre com uma pedra no meio, criando obstáculo à caminhada. Embora assinado em 2019, o pacto entre os dois importantes blocos até hoje não saiu do papel, pois depende de ratificação.
Recentemente, mesmo antes de assumir a direção do Mercosul, Lula andou antecipando as tratativas em torno do assunto, em conversas que manteve com a presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, por ocasião de visita que ela fez ao Brasil, e também como presidente da França, Emmanuel Macron, em junho, quando o presidente brasileiro esteve na Europa.
BOLSONARO SÓ ATRAPALHOU
Parlamentares da zona do Euro apontavam dificuldades para ratificação do acordo na conta do ex-presidente Bolsonaro, acusando-o de colocar graves empecilhos, em virtude de diversas declarações e atitudes do então dirigente brasileiro sobre a conservação da Amazônia e por seu desempenho e resposta ao mundo no enfrentamento da pandemia de Covid-19.
No encontro com a presidente da Comissão Europeia, ocorrido em 12 de Junho, no Palácio do Planalto, o presidente Lula voltou a criticar dispositivos acrescidos ao acordo Mercosul-EU- firmado em 2019 e ainda carente de ratificação-, por conter a previsão de sanções aos países signatários em caso de descumprimento de metas ambientais.
ACORDO DE PARIS
Dez dias depois, em 22 de Junho, quando estava em Roma e se preparava para ir à França, o Presidente Lula concedeu entrevista e considerou ser “inaceitável” a proposta da União Europeia para permitir a celebração do acordo, em face da fixação e punição para quem descumprir o Acordo de Paris, o tratado sobre mudanças climáticas adotado em 2015.
Lula foi incisivo ao afirmar que a nova proposta feita pelos franceses, relativa ao acordo, não está em conformidade com o que é o sonho de países da América Latina, “ que querem ter o direito de recuperar sua capacidade de industrialização. O Brasil já teve um produto interno bruto de 30%, hoje nosso PIB é de 10%. A carta adicional que a União Europeia mandou para o Mercosul é inaceitável... Se nem eles cumpriram o Acordo de Paris, como podem exigir dos outros? É preciso um pouco mais de sensibilidade, um pouco mais de humildade, um pouco mais de cooperação”, completou o presidente brasileiro.
LULA E MACRON
Em 23 de Junho, em Paris, Lula saiu de um almoço com o Presidente Emmanuel Macron, expressando contentamento: ”Ótima reunião, ótimo almoço e vai ser ótima a próxima conversa”, ao tempo em que o dirigente francês resumiu tudo numa palavra: ”Formidável.”
O encontro entre os presidentes do Brasil e da França foi ampliado com a presença dos ministros das Relações Exteriores, Mauro Vieira, da Defesa, José Múcio, de Minas e Energia, Alexandre Silveira, e da Fazenda, Fernando Haddad, além de dois comandantes militares, o almirante Marcos Olsen, da Marinha, e o brigadeiro Marcelo Damasceno, da Força Aérea.
TRATADO DE COOPERAÇÃO
Macron aceitou o convite de Lula para visitar o Brasil ainda este ano, provavelmente para que o presidente francês participe de uma reunião do Tratado de Cooperação Amazônia, a ser realizada em Belém, durante o mês de Agosto.
Lula, ao que demonstra, quer fazer o presidente Emmanuel Macron cercar-se de segurança, de certeza, de que o Brasil e o Mercosul querem adotar as melhores atitudes em relação à Amazônia e ao meio-ambiente em geral, e que têm capacidade e potencialidade de construir uma aliança próspera e benéfica junto à União Europeia também no campo econômico.
Ao que parece, pela disposição e liderança ativa de Lula, o acordo Mercosul-União Europeia, está mais próximo de se concretizar.