Um alerta levantado nesta semana pela diretora adjunta da Organização de Alimentação e Agricultura (FAO), importante instituição da ONU, a cabo-verdiana Maria Helena Semedo, de que o mundo pode chegar ao ano de 2030 com a mesma quantidade de pessoas que passavam fome no ano de 2015, precisa ser levado a sério.
Espera -se que essa advertência possa causar uma necessária apreensão entre governantes de todas as partes e levar autoridades a adotarem medidas urgentes para impedir que isso aconteça.
O alerta da representante da FAO foi feito durante a Cúpula da Amazônia, que acaba de se realizar em Belém, no Pará, e diz respeito ao esquentamento do clima no planeta, cujas temperaturas têm se elevado de maneira progressiva, influenciando diretamente na diminuição das produções agrícolas, consequentemente na redução da oferta de alimentos. E isso tem um enorme agravante: os países mais pobres, especialmente na África, Ásia e várias extensões da América Latina, são os mais duramente afetados.
Ela defendeu que para evitar “essa vergonha”, é necessário aos dirigentes governamentais capacidade de atuar de maneira responsável, de honrar os compromissos assumidos pelos países ricos de contribuírem fortemente para financiar as ações de desenvolvimento nos países mais pobres, com foco na preservação e restauração do meio ambiente.
O aquecimento do planeta já cresceu em 1,5 grau e isso requer ações imediatas com força de evitar um colapso ambiental nunca imaginado, de consequências drásticas à humanidade.
Maria Helena advertiu que a pandemia da Covid-19 e a guerra entre Ucrânia e Rússia jogaram até agora 122 milhões de pessoas na desgraça da fome, um número que tende a crescer, pela ausência de programas sérios e consistentes, de cunho global, capazes de garantir alimentação e segurança a esses seres humanos.
ATUAÇÃO DO BRASIL
Ela apontou o Brasil como um exemplo para o mundo quando se trata do aumento da produção agrícola, com destaque, especialmente, para a agricultura familiar.
Para ela, podemos produzir mais se produzirmos melhor, se investirmos em tecnologia, em ciência, em sementes que aumentem a produtividade sem aumentar a extensão territorial.
Destacou que essas soluções, já aplicadas no Brasil, graças à existência de empresas governamentais do nível da Embrapa, podem fazer uma grande diferença e oferecer uma real contribuição à redução da fome no mundo.
Lembrou que pela capacidade técnica da Embrapa, a produtividade de grãos no Brasil aumentou 580%, enquanto a área territorial ocupada cresceu 140%.
PESQUISAS
A dirigente da FAO deu detalhes sobre um estudo que sua instituição publicou no mês de julho passado, mostrando que há entre 780 e 821 milhões de pessoas que sofrem de fome no mundo. As causas são os conflitos armados, as mudanças climáticas e as frequentes recessões econômicas registradas por diferentes razões em cada região do mundo, mas nessa conjunção de fatores as mudanças climáticas, a elevação espantosa das temperaturas, a redução das águas, têm sido uma constante preocupação.
Conforme esse estudo da FAO, os fenômenos como as secas estão ficando mais frequentes e mais severos. E os efeitos climáticos vão mais além, de forma sempre negativa, pois se não há seca, crescem as inundações, decorrentes da elevação do nível dos mares e rios, levando torrencialmente as águas a inundarem plantios alimentares. Os dois fenômenos, de seca e inundações, vão afetando os solos, retirando sua capacidade de germinação, com isso, reduzindo a oferta de alimentos.
Ao dizer que “o tempo não está a nosso favor”, a dirigente da FAO faz um apelo veemente: “precisamos de ações urgentes, permanentes, em grande escala. Pois se não tomarmos essas medidas, a situação só vai piorar, quer dizer, o número de famintos vai aumentar, ou ao máximo, ficar estável. “
PONTO DE PARTIDA
E adverte: “ Se em 2030 tivermos o mesmo universo de famintos que em 2015, significará que levamos 15 anos para voltarmos ao ponto de partida. Será uma vergonha para todos os países que, em 2015, se comprometeram em Nova York a contribuir para a erradicação da fome, da má-nutrição”.
Vê-se, portanto, que os compromissos firmados por governantes dos países ricos, em Nova York, e os termos celebrados no acordo de Paris(também conhecido como Acordos Climáticos), nunca foram cumpridos. A obrigação assumida foi de contribuição de US$ 100 bilhões por ano, como suporte aos países pobres e em desenvolvimento promoverem ações permanentes de proteção e recuperação ambiental, algo que não aconteceu.
Precisa, finalmente, sair do papel, dando aos governantes de países ricos o dever da responsabilidade e a chance de não envergonharem o mundo.