Em meio a essa guerra estúpida entre Israel e a Palestina, uma notícia de ontem chamou minha atenção e despertou para uma breve reflexão. Vejo nos meios de comunicação que o Reino Unido vai cobrar passagem, num valor de cerca de R$ 1.800,00 para retirar cada britânico que esteja sitiado em território israelense. Ou seja, o britânico desesperado, em alvoroço, que quiser fugir do risco iminente de morte, terá que pagar por isso.
Constato, assim, que as guerras não servem apenas para colocar em ação o terrorismo, para permitir o domínio de narrativas mentirosas, enganadoras, mistificadoras, e transformar ambientes de trabalho e esperança em palcos de horror e morte.
Têm também a serventia de mostrar o lado humanitário de dirigentes, pessoas comuns e nações perante o enfrentamento de tragédias como a que estamos vivendo. É quando muitos têm a chance de exibir o seu caráter real.
Se países ricos como o Reino Unido, potência econômica e política, com vasto histórico do seu perfil colonizador, notável estimulador e apoiador de guerras pelo mundo afora, impõe aos seus próprios cidadãos cobrança pecuniária para poder livrar-se da violência e da morte, contenta-nos ver que o Brasil, diferentemente, no oposto, aliás, está dando uma lição ao mundo.
REPATRIAÇÃO DE BRASILEIROS
Até esta sexta-feira, aviões das Força Aérea Brasileira (FAB), por determinação do Presidente Luiz Inácio Lula da Silva, já haviam realizado três viagens de Israel para o Brasil, transportando até o momento cerca de 500 (exatos 494) brasileiros que se encontravam em cenário de guerra. Todos estão sendo transportados sem pagar um centavo por essa ação do governo, até mesmo com direito a transportar nos aviões os seus bichinhos de estimação. Isso tem nome: chama-se humanismo, apreço, respeito, solidariedade.
Os serviços diplomáticos brasileiros têm um cadastro de 2.723 pessoas que manifestaram o desejo de sair de Israel. Os que voltaram fazem parte dessa lista, a maioria formada por turistas que não tinham passagem de volta comprada. O Ministério das Relações Exteriores informa que existem 14 mil brasileiros que residem em Israel e ao menos 6 mil vivem na Palestina.
Difícil saber se o governo brasileiro terá condições favoráveis para trazer de volta todos os que quiserem voltar, até mesmo porque luta contra situações adversas geradas pelos dois países em conflito.
Nesse desalentador contexto, Israel faz bloqueio total sobre Gaza, na Palestina, sem permitir a abertura de corredores humanitários para facilitar em segurança a saída de pessoas inocentes – sobretudo idosos, mulheres e crianças-, das cidades e vilas afetadas, uma posição profundamente arbitrária e desumana, até mesmo diferente de circunstâncias da guerra Rússia X Ucrânia, onde tais corredores foram abertos.
Mas o certo é que o Brasil faz um esforço notável para cumprir essa tarefa humanitária com grandeza e fraternidade. Em recente conversa com o presidente de Israel, Isaac Herzog, Lula fez apelo veemente para que seja aberto corredor humanitário entre a faixa de Gaza e o Egito, pois é desse país oriental que o Brasil planeja retirar brasileiros que se encontram na Palestina. O presidente brasileiro vem mobilizando esforços diplomáticos, conversando com outros países, na tentativa de convencer Israel a adotar uma atitude menos cruel com pessoas inocentes. Na última quinta-feira, aliás, o avião VC-2 da Força Aérea, que atende diretamente à Presidência da República, decolou de Brasília com destino a Roma e, daí, para Cairo, capital do Egito, para repatriar brasileiros que estão na Faixa de Gaza.
As notícias de que os ataques de Israel sobre Gaza estão deixando todas as famílias sem água, luz, sem remédios nos hospitais, reforçam a necessidade e a urgência de que esses corredores sejam abertos, sob fiscalização das Nações Unidas.
Além do caráter humanitário que reveste o Brasil neste momento, o Presidente Lula reitera a condenação aos ataques do Hamas e de Israel e não para de se articular para que haja um empenho vigoroso de todos os países não envolvidos nesse conflito, para que a guerra tenha fim, e que possamos respirar um pouco de paz.