Pela primeira vez em 10 meses, o Banco Central admitiu formalmente iniciar o processo de redução da taxa Selic, aparentemente rendendo-se aos clamores dos setores produtivos da economia brasileira, asfixiados pela imposição de juros oficias fixados em 13,75% desde Agosto de 2022.
A ata do Comitê de Política Monetária (COPOM), do Banco Central, referente à decisão da semana passada de manter a taxa Selic sem alteração, foi divulgada na manhã desta terça-feira e, finalmente, os integrantes desse órgão assumiram, por unanimidade, que a redução dos juros poderá se iniciar na reunião de Agosto, prevista para os dias 01 e 2.
CORTE DE JUROS
Na ata, dizem que a continuidade da queda da inflação pode permitir corte de juros em Agosto, uma decisão que, de algum modo, já havia sido antecipada no dia de ontem, quando foi divulgado o relatório Focus, também do Banco Central, no qual analistas do mercado financeiro são unânimes em reconhecer a existência das condições básicas para essa redução, como o crescimento do PIB, a valorização do real perante o dólar, a queda nos níveis de inflação e o recuo da dívida pública relativamente ao produto interno bruto.
Daí, ter ocorrido a avaliação predominante entre os integrantes do Copom de que ”a continuação do processo desinflacionário em curso, com consequente impacto sobre as expectativas, pode permitir acumular a confiança necessária para iniciar um processo parcimonioso de inflexão [corte dos juros] na próxima reunião [marcada para o início de agosto]".
PROJEÇÃO DE QUEDA LENTA
Mesmo diante disso, setores do mercado, na linha de pessimismo e relutância do presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, falam numa projeção de queda lenta, “gradual”, como dizem, na linha dos 12,25% no final de Dezembro, bem acima do que outros setores esperam, que permitiria ficar na casa dos 11%.
A manutenção da taxa Selic nesse patamar de 13,75% foge literalmente à própria lógica e estratégia definidas pelo Banco Central, segundo a qual, taxa alta significa que a inflação no país também está em alta. Isso porque essa é a principal ferramenta que o BC possui para controlar a elevação dos preços no mercado.
ECONOMIA NO SUFOCO
Isso não é o que acontece no Brasil. As taxas de inflação estão em queda contínua desde o início de 2023, não existe demanda de consumo -que poderia representar um risco para evolução dos índices inflacionários-, mas, ao contrário, setores importantes da economia estão passando por grande sufoco, sem crédito para tocar seus negócios, pois os juros estão proibitivos para contratar financiamentos. Essa imposição de juros tem provocado redução na produção industrial, diminuição de rendimentos dos trabalhadores, dificuldade da população em adquirir bens e serviços e obstáculos ao governo para conter o desemprego.
Não é sem razão que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva tem pressionado o Banco Central a iniciar o processo de redução da taxa básica de juros da economia, e reiteradamente tem feito críticas à relutância do BC, mostrando o efeito danoso de juros altos sobre o crescimento da economia e a geração de empregos. Ao Presidente, tem-se somado um conjunto representativo do empresariado nacional, que clama pela volta à normalidade dos seus negócios. Todos reconhecem que a economia brasileira ostenta, hoje, por todos os seus indicativos, uma muito bem vista situação de estabilidade, com avanço no crescimento do BIP e um visível controle da inflação, da dívida pública, com a volta do otimismo da população sobre o Brasil, apontado em pesquisas como o mais vigoroso dos últimos quatro anos.