Um dia após os atos golpistas de 8 de Janeiro terem completado seis meses, com mais de 1.200 envolvidos já indiciados e de várias ações da justiça e da polícia federal em andamento, na busca de responsabilização de todos os seus culpados, os bolsonaristas voltaram ontem às ruas de Brasília, pregando aquilo que o ex-presidente da República fez por todo o seu período de governo, o uso livre das armas de fogo pela população brasileira.
Algumas centenas de propagadores do grupo pró-armas, à frente o deputado Eduardo Bolsonaro e outros parlamentares da extrema-direita, marcharam em direção ao Congresso, pregando a liberação irrestrita das armas de fogo.
AFRONTA
O discurso do filho do ex-presidente foi todo recheado de afrontas às autoridades e de desrespeito ao judiciário, num momento em que o STF acabou de derrubar os decretos assinados por Bolsonaro que facilitavam a compra e o uso de armas e munições, de maneira livre pela população. Os atos de ontem transcorrem num estágio avançado das apurações dos crimes praticados pelos golpistas em 8 de Janeiro, uma semana após a posse de Lula, quando invadiram e depredaram as sedes dos três poderes da República.
Em dado momento de sua fala, o filho do ex-presidente afirma que “se o grupo pró-armas está sendo vinculado aos ataques de 8 de Janeiro, é porque está fazendo um excelente trabalho.” E foi mais além da sua pregação de barbárie, quando comparou os professores brasileiros a traficantes, pior ainda, considerou que eles são até piores a muitos traficantes.”
RECONHECEU PUBLICAMENTE
Ao admitir e proclamar que o grupo pró-armas fez “excelente trabalho em 8 de Janeiro”, de pregar o uso indiscriminado de armas pelo povo e comparar professores a traficantes, o filho do presidente reconhece publicamente que os atos golpistas que tentaram derrubar o presidente recém-empossado, contam com os aplausos dele e de seu grupo. Se tal postura já merecesse a atenção especial dos aplicadores de justiça, o fato de propagar a tese do armamentismo popular e desferir ofensas inacreditáveis aos professores, penso eu, abrem novas frentes de punibilidade.
Chama a atenção nas manifestações desvairadas desses extremistas de direita uma verdade incontestável. Nunca, nenhum deles, nem um bolsonarista de família, nem qualquer adepto desse descaminho político, foi capaz de apontar um só “comunista” como agente nos atentados a escolas pelo Brasil afora, crimes praticados sobretudo nos últimos, que têm deixado mortos estudantes, inclusive crianças, professores e funcionários de escolas, de maneira vil e covarde.
CRIMES DA EXTREMA-DIREITA
Mas, em todos os assaltos e assassinatos praticados contra escolas, de Santa Catarina ao Pará, da Paraíba ao Pará, do Espírito Santo a São Paulo, deixando um rastro de destruição e mortes de inocentes, em todos eles, sem qualquer exceção, conforme as conclusões das investigações policiais, os atores, autores diretos ou dos covardes que se escondem por trás dos assassinos, são elementos integrantes da extrema-direita brasileira, que se inspiram na extrema-direita de outros países e estão sempre a postos, prantos para o crime, para matar inocentes e para ferir gravemente a instituição Escola.
E tudo que de trágico tem ocorrido nas escolas brasileiras, tem por trás, como elemento motivador, determinante, o discurso de ódio pregado incessantemente por essa gente do mal, com falas preconceituosas e desqualificadoras às escolas e seus professores, como “lugares de preparação, de formação de comunistas”, que é o que eles sempre dizem. E mais: recebe o incentivo de campanha sistemática realizada publicamente, de maneira quase oficial, como uma política de Estado, para a liberação geral de armas de fogo no meio da população.
CONGRESSO CONSERVADOR
Isso sempre foi dessa maneira. Em junho do ano passado, por exemplo, há pouco mais de um ano, em plena campanha eleitoral na qual Bolsonaro tentava a reeleição, a extrema-direita realizou em Goiânia, o “primeiro congresso conservador de Goiás”, e o mote principal a favor do candidato era a movimentação pró-armas. O anfitrião do evento era esse atual deputado Gustavo Gayer. Num inflamado discurso, a deputada Bia Kicis conclamou para “ a gigantesca manifestação pró-armas que realizaremos em Brasília, em Setembro”. Na entrada principal do centro de convenções da faculdade Unicamps, a empresa Internacional Weapons Sale (IWS) realizou uma enorme exposição de armas.
Nessa exposição os participantes eram convidados a tirar fotos com pistolas e fuzis. No local não eram vendidas armas, mas quem tivesse interesse, a empresa disponibilizava contatos para atendimento especial.
Desde muito eles pregam a violência, pelo uso das armas. Desde sempre pregam a desqualificação das escolas e ódio a seus professores. Daí, não tem por onde escapar: as mortes nas escolas vão para a conta deles.
Embora o foco desse congresso de Goiânia tenha sido, ironicamente, “A Família”, não existe defesa capaz de salvá-los da cumplicidade dessas tragédias.