Em 5 de Agosto de 1954, o combativo e explosivo jornalista e político Carlos Lacerda sofre atentado na porta de sua casa, em Copacabana: dois homens disparam vários tiros — dois atingem o major-aviador Rubens Florentino Vaz, que morre a caminho do hospital. Lacerda aparece ferido no pé.
Já passava da meia-noite do dia 5, quando o dono do jornal oposicionista “Tribuna da Imprensa”, Carlos Lacerda, chegava a sua casa, na rua Tonelero, 180, acompanhado de seu filho Sérgio, do candidato a vereador José Cândido Moreira de Souza e do major Rubens Florentino Vaz, um dos jovens oficiais da Aeronáutica que se revezavam na segurança do jornalista. Tão logo o grupo desceu do carro, surgiram dois homens, que dispararam várias vezes — 18, segundo a versão oficial.
Carlos Lacerda fazia duro combate ao Presidente Getúlio Dorneles Vargas, que passava por momento político de extrema dificuldade, mergulhado em denúncias, com grande dificuldade para governar. Esse episódio foi logo apontado como sendo obra do Presidente da República e todos os faróis foram apontados para ele. O atentado a Lacerda e a morte do major-aviador Rubens Florentino Vaz, foram, assim, o estopim para que Getúlio, 19 dias depois, em 24 de Agosto do mesmo ano, cometesse suicídio, com um tiro no coração, nas dependências do Palácio do Catete
Passando por ali, o guarda municipal Sálvio Romeiro ouviu os estampidos e, ao chegar à esquina da rua Paula Freitas com a Tonelero, viu um homem de paletó cinza correndo com um revólver na mão e entrando num veículo Studebaker preto. Romeiro chegou a gritar para que o homem parasse, mas foi baleado na perna e caiu. Mesmo assim, conseguiu anotar a placa: 5-60-21.
A notícia caiu como uma bomba sobre o Catete. Lourival Fontes, chefe do Gabinete Civil da Presidência, alertou Getúlio ainda pela manhã: “possivelmente vão tentar envolver o Lutero nos acontecimentos”. Lutero Vargas, filho do presidente, movia contra Lacerda um processo por calúnia e difamação.
Getúlio, que não tivera nenhuma participação no atentado, desabafou: “meu pior inimigo não poderia ter engendrado nada mais grave contra o governo”. Mandou chamar Gregório Fortunato, chefe de sua guarda pessoal, e lhe perguntou se sabia de algum envolvimento de seus homens no crime, mas Gregório respondeu não acreditar ”numa traição dessas”.
Rapidamente, no entanto, as investigações conduzidas por oficiais da Aeronáutica na chamada República do Galeão apontaram para o palácio. No mesmo dia, os jornais vespertinos traziam a informação de que a placa anotada pelo guarda na madrugada era de um táxi que fazia ponto ao lado do Catete. Nas páginas da “Tribuna da Imprensa”, Lacerda acusava: “Perante Deus, acuso um só homem como responsável por esse crime. É o protetor dos ladrões, cuja impunidade lhes dá audácia para atos como o dessa noite. Esse homem chama-se Getúlio Vargas!”.
Interrogado, o motorista do Studebaker preto revelou que levara duas pessoas à rua Tonelero, mas só conhecia uma delas: Climério Euribes de Almeida, integrante da guarda pessoal de Getúlio Vargas e compadre de Gregório Fortunato.
Nos dias seguintes, o país assistiria a uma das mais graves crises de sua história, que teria um desfecho dramático: o suicídio de Getúlio.