A história de Gilles de Rais, um nome que reverbera pelo horror e pelo mistério, nos transporta para uma era onde o mal parecia ter uma face inusitada e aristocrática. Nascer em 1404 na Bretanha, em uma família nobre, parecia garantir um futuro glorioso para Gilles, que ficou famoso por sua bravura ao lado de Joana d'Arc e como Marechal da França. No entanto, sua vida tomou um rumo inesperado e grotesco.
Depois da guerra
Com a queda de Joana d'Arc e o colapso de sua fortuna, Gilles mergulhou em uma espiral de excessos e obscuridades. O que parecia ser um homem nobre e respeitado, aclamado em batalhas e teatros, revelou-se o precursor de um tipo de vilania ainda não vista na história. Entre 1432 e 1440, Gilles se tornou um nome sinônimo de terror infantil.
De acordo com as descrições de seu julgamento, as atrocidades cometidas por Gilles eram de um nível macabro que desafia a imaginação. Ele raptava crianças, a maioria meninos, atraídos para seus castelos sob falsas promessas. O que se passava dentro dessas muralhas era um desfile de crueldade: tortura, mutilação e assassinato, com detalhes tão perturbadores que desafiam a descrição.
O que acontecia com as vítimas?
Em algumas ocasiões, suas vítimas eram decapitadas ou mortas de formas igualmente brutais, e Gilles se entregava a práticas que incluíam relações sexuais com os cadáveres ainda quentes.
As confissões obtidas sob tortura de seus servos, e posteriormente do próprio Gilles, detalharam práticas tão horrendas que o processo contra ele se tornou um espetáculo de horror. Calcula-se que ele tenha matado entre 80 a 200 crianças, de 06 a 18 anos.
Confissão de um dos servos
"Às vezes ele cortava as cabeças, às vezes somente a garganta, e em outras ocasiões ele quebrava o pescoço com golpes. Depois que as veias eram cortadas, de modo que elas definhavam enquanto seu sangue era derramado, Gilles às vezes se sentava na barriga das crianças e sentia prazer. Inclinando-se sobre elas, as via morrer."
O julgamento
O tribunal eclesiástico e civil finalmente selou seu destino com uma sentença de morte por enforcamento e a queima de seu corpo na fogueira, em 26 de outubro de 1440. A ordem para a execução não apagou a horrenda imagem de Gilles de Rais, que se tornou um símbolo do terror em sua época.
O outro lado
No entanto, apesar da condenação, a figura de Gilles de Rais não está isenta de controvérsias. Alguns historiadores e biógrafos, como Fernand Fleuret e Jean-Pierre Bayard, sugerem que o barão pode ter sido uma vítima de conspiração e injustiça. A tortura das confissões e as motivações políticas por trás de sua execução alimentam debates sobre sua verdadeira culpabilidade.
Existem alegações de que as confissões feitas pelos empregados do barão foram extraídas sob tortura, enquanto a declaração de Gilles foi feita sob ameaças. Em 1992, foi instaurado um tribunal não oficial que se reuniu no salão dourado do Palácio de Luxemburgo, em Paris, com o objetivo de revisar o julgamento de Gilles de Rais. O tribunal argumentou que Gilles poderia ter sido vítima da Inquisição e que as acusações de assassinato de crianças poderiam não ser verdadeiras.
Gilbert Prouteau, autor de uma biografia sobre Gilles de Rais e organizador do evento, sustentou que a execução do barão foi motivada pela cobiça do bispo Malestroit e de seu aliado Jean V, duque da Bretanha, que almejavam suas propriedades.
O rastro
A verdade, então, é que Gilles de Rais é lembrado não apenas como um dos primeiros serial killers da história, mas também como um reflexo da complexa e muitas vezes obscura interação entre poder, medo e crueldade na Idade Média. Sua história, envolta em mistério e tragédia, continua a fascinar e horrorizar até os dias atuais, mantendo seu rastro na história criminal.
A vida de Gilles
Nascido em 1404, foi um destacado nobre francês e soldado, conhecido por sua participação ao lado de Joana d'Arc durante a Guerra dos Cem Anos. Oriundo de uma influente família da Bretanha, Gilles tornou-se barão de Rais e acumulou grande riqueza, destacando-se como Marechal da França, um dos cargos militares mais altos da época.
Após as vitórias na guerra e a morte de Joana d'Arc em 1431, Gilles retirou-se da vida militar e mergulhou em uma vida de excessos e extravagância. Ele investiu consideravelmente na construção da Capela dos Santos Inocentes e na produção de uma grandiosa peça teatral sobre a Batalha de Orleans, na qual havia lutado com Joana. Sua vida de ostentação levou-o a se envolver com práticas ocultas e alquimia, buscando transformar metais em ouro.
Com o tempo, ele começou a enfrentar dificuldades financeiras, levando-o a vender propriedades e causar preocupações entre seus familiares.