Usar pílulas anticoncepcionais, fumar cigarros ou ser internado com covid-19 apresentam risco para o desenvolvimento da trombose. É o que reforçam pesquisadores após a FDA, agência reguladora americana, recomendar a paralisação temporária da aplicação da vacina da Johnson & Johnson enquanto investiga seis casos de trombose entre milhões de vacinados. A pausa foi feita por precaução, segundo a agência, e de modo a informar os médicos sobre como tratar esses casos específicos. Os números apresentados até agora mostram que a vacina é segura e os casos de coágulo sanguíneo, muito raros.
O professor Amesh Adalja, do Center for Health Security da Universidade Johns Hopkins, nos Estados Unidos, aponta que o risco é menor do que o de desenvolver trombose ao fazer uso de anticoncepcional oral e, sobretudo, menor do que o risco de ter uma forma grave da covid-19, o que a vacina previne.
No caso da vacina da Johnson & Johnson, foram encontrados 6 casos após quase 7 milhões de doses administradas, isto é, menos de 1 caso por milhão ou taxa de 0,0001%. Para a vacina da AstraZeneca, a ocorrência foi de 1 caso a cada 250.000, ou taxa de 0,0004%.
"Com a vacina da J&J, estamos falando sobre 6 casos de mais de 6 milhões de doses administradas. Este é realmente um risco minúsculo e empalidece em comparação com outros riscos de coágulo sanguíneo, como anticoncepcionais orais ou a própria covid. Grande parte da mesma análise pode ser aplicada à vacina AstraZeneca também", diz Adalja, que estuda assuntos relacionados à segurança em saúde.
Os casos de trombose têm especificidades diversas, de modo que não são necessariamente comparáveis entre si os casos relativos a anticoncepcionais e os vistos com a vacina. Mas os números sobre a ocorrência nas populações colocam o tema em perspectiva.
Um estudo referência nos EUA mostrou que a ocorrência de trombose entre adolescentes fazendo uso de pílula anticoncepcional tem taxa de até 0,05%. A Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) aponta também que mulheres usando alguns tipos de medicamento anticoncepcional têm um risco de 4 a 6 vezes maior de desenvolver tromboembolismo venoso do que as que não usam o remédio.
O tema é conhecido entre o público feminino que faz uso dos medicamentos, e a relação entre riscos de trombose e os anticoncepcionais orais é estudada desde os anos 1960, sobretudo nas últimas décadas. No entanto, o risco é matematicamente muito menor do que o de uma gravidez indesejada caso não se faça uso de contraceptivo, segundo os estudos.
Para Garrett, do Sabin, esse tipo de alerta mostra a seriedade dos reguladores com relação às vacinas. "O fato de estarem investigando é um ponto a favor das agências reguladoras, mostra que estão sendo transparentes e isso significa que a população pode ficar absolutamente segura quanto à seriedade dos estudos", diz.
Com o Brasil reportando mais de 4.000 mortes diárias por covid-19 e o país em sua pior fase da pandemia, a professora Alicia Kowaltowski, do Departamento de Bioquímica do Instituto de Química da Universidade de São Paulo, reforça: "Os riscos são muito baixos, e os benefícios imensos. Eu tomaria a vacina J&J (ou qualquer outra disponível) de olhos fechados