Uma pesquisa da Universidade de Genebra, em colaboração com o Instituto de Saúde Pública e Tropical, revela que o uso excessivo de celulares pode afetar a produção de espermatozoides nos homens, resultando em menor concentração e quantidade total de esperma. O estudo, publicado na revista Fertility and Sterility, alerta para os potenciais riscos à saúde reprodutiva masculina devido ao uso frequente de dispositivos eletrônicos.
A pesquisa. Os pesquisadores analisaram dados de 2.886 homens recrutados para o serviço militar entre 2005 e 2018, coletando amostras de sêmen e informações sobre hábitos de vida, incluindo o uso de celulares. Constatou-se que os homens que acessavam o celular mais de 20 vezes por dia apresentavam uma redução significativa na concentração e contagem total de espermatozoides, aumentando os riscos de parâmetros abaixo dos valores mínimos de normalidade estabelecidos pela OMS em 30% e 21%, respectivamente.
O que encontraram? Não foram encontradas associações consistentes entre o uso de celulares e a motilidade (a capacidade de o espermatozoide se movimentar até encontrar o óvulo) ou a morfologia (o formato) dos espermatozoides. Esses achados destacam a importância de limitar o uso excessivo de celulares para preservar a saúde reprodutiva masculina.
“O estudo mostra que houve casos de homens com parâmetros de contagem e de concentração de espermatozoides muito abaixo do estabelecido pela OMS, o que significa que estavam anormais”, diz, em entrevista à CNN Brasil, o ginecologista Roberto de Azevedo Antunes, responsável pelo Ambulatório de Infertilidade Conjugal do Hospital Universitário da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e diretor da Associação Brasileira de Reprodução Assistida (Sbra).
Percepção individual. O estudo não especifica o critério para determinar o tempo de uso do celular. Como as informações foram coletadas por meio de um questionário geral, a percepção individual de cada voluntário sobre o que constitui "uso" pode variar.
Por que isso acontece?
Embora o estudo evidencie uma associação entre o aumento do uso de celulares e uma menor quantidade de espermatozoides, ainda não se compreende totalmente como e por que isso ocorre, o que impede afirmar que o uso do celular seja a causa direta do problema.
Os pesquisadores observaram que os homens com menor concentração e contagem total de esperma também tinham hábitos de vida menos saudáveis, como consumo de tabaco e álcool em excesso, os quais são fatores de risco conhecidos que podem afetar negativamente a saúde geral, incluindo a saúde reprodutiva.
O estudo é um alerta sobre estilo de vida
Antunes destaca que, embora não seja possível afirmar que as ondas eletromagnéticas dos celulares sejam a causa do problema, os resultados são um alerta para questões relacionadas ao estilo de vida masculino. “Vários estudos mostram que, quanto mais tempo usamos as telas, maior o risco de ficarmos acima do peso, mantermos hábitos não saudáveis (como beber e fumar) e não praticarmos exercícios físicos. Isso nos acende um alerta real, afinal, o sedentarismo e a obesidade estão associados à piora da qualidade do sêmen. Independentemente da questão tecnológica, uma coisa leva à outra e o uso excessivo do celular pode ser mais um marcador de risco da piora da saúde reprodutiva”, diz.
Maioria guarda o celular no bolso da calça
Um total de 85,7% dos homens relataram guardar o celular no bolso da calça quando não estavam usando, enquanto 4,6% o deixavam em jaquetas ou outros lugares, e 9,7% optavam por mantê-lo em locais fora do corpo. O estudo revelou que a posição onde o celular era guardado não teve associação com o volume do sêmen, motilidade ou morfologia dos espermatozoides.
“Do ponto de vista de cuidado, a gente pede que o homem não deixe o celular em uso dentro do bolso (para ouvir músicas, por exemplo) porque o aparelho aquece, vai liberar mais ondas eletromagnéticas próximas do testículo e isso não é adequado. A nossa orientação é, sempre que possível, tirar o celular do bolso e colocar numa mesa, mais longe do corpo”, alerta Zylbersztejn.