
A depressão é a principal causa de incapacidade no mundo, afetando mais de 300 milhões de pessoas, segundo a OMS. Um estudo da Faculdade de Medicina da USP descobriu que o consumo excessivo de alimentos ultraprocessados pode aumentar em até 58% o risco de desenvolver depressão persistente.
A pesquisa, publicada no Journal of Academy of Nutrition and Dietetics, usou dados do Estudo Longitudinal de Saúde do Adulto (ELSA-Brasil), que acompanha a saúde de servidores públicos em várias cidades desde 2008.
Como se deu o estudo
Os participantes foram classificados em grupos conforme a porcentagem de calorias diárias totais provenientes de alimentos ultraprocessados; um grupo consumia de 0% a 19%, enquanto o outro variava entre 34% e 72%.
“Aqueles que consumiam mais ultraprocessados no início do estudo apresentaram um risco 30% maior de desenvolver o primeiro episódio de depressão ao longo dos oito anos seguintes a primeira análise”, explica a Dra. Naomi Vidal Ferreira, pós-doutoranda da FMUSP e autora principal da pesquisa, em matéria do Catraca Livre.
Causa e efeito
Segundo o estudo, uma dos motivos pelos quais esses alimentos têm tanto impacto na saúde mental é a ausência de nutrientes essenciais.
“Se uma pessoa consome mais de 70% de sua energia diária proveniente de produtos ultraprocessados, ela acaba deixando de ingerir alimentos ricos em fibras, antioxidantes e vitaminas, que são fundamentais para o funcionamento do cérebro. Além disso, a presença de aditivos artificiais e gorduras saturadas pode desencadear processos inflamatórios, um fator associado ao desenvolvimento da depressão”, alerta a pesquisadora.
Como reduzir os riscos?
A boa notícia é que pequenas alterações na alimentação podem ter um grande impacto. Uma simulação revelou que substituir apenas 5% das calorias diárias provenientes de ultraprocessados por alimentos minimamente processados pode reduzir o risco de depressão em 6%. Se a redução for de 20%, optando por alimentos naturais, a probabilidade de desenvolver depressão pode cair para 22%.
“Os resultados encontrados reforçam a importância de adotar uma alimentação mais equilibrada e rica em nutrientes não apenas para a saúde física, mas como forma de prevenir transtornos mentais”, destaca a Dra. Naomi Vidal.
O trabalho foi realizado sob supervisão da Profa. Dra. Claudia Suemoto, docente da disciplina de Geriatria e diretora do Biobanco para Estudos em Envelhecimento da FMUSP.