O gaúcho Cornélio Sanders está habituado a desbravar oportunidades no campo. Nascido em Não-Me-Toque (RS), ele passou a primeira parte da vida trabalhando com a família, que cultivava soja, milho e algodão na região. Com informações do AGFeed.
Em meados dos anos 1970, no período da expansão das fronteiras agrícolas para o Centro-Oeste do país, Sanders investiu em terras no Mato Grosso e Mato Grosso do Sul em companhia dos irmãos e conheceu de perto a produção agrícola de vários outros estados brasileiros.
Já nesse novo milênio, em 2001, ele decidiu fazer as primeiras investidas em voo solo. E escolheu o Piauí para aterrissar. Aqui, comprou a primeira propriedade da família Orleans e Bragança, cujos laços remetem aos antigos imperadores do Brasil.
![Cornélio Sanders é o maior fazendeiro do Piauí (Foto: Divulgação)](https://www.meionorte.com/uploads/imagens/2025/1/25/webp/grupo-progresso-e-brasbio-apostam-alto-r-1-2-bi-para-impulsionar-etanol-de-milho-no-matopiba-1b98daf9-3ade-46b6-9461-d6f8caedeb69.jpg.webp)
Vinte e quatro anos depois, o grupo Progresso, do qual Sanders é fundador, é um verdadeiro "império do agro". Cultiva cerca de 95 mil hectares de soja, milho e algodão com um faturamento que deve chegar a R$ 1,3 bilhão, juntando as divisões agrícola e de comercialização de sementes. Conta com 749 funcionários e seis fazendas, sendo cinco no Piauí - nos municípios de Sebastião Leal, Uruçui, Landri Sales, Antônio Almeida e Baixa Grande do Ribeiro - e outra em Paracatu, Minas Gerais.
Dentro da estrutura do grupo há ainda outros negócios como a sociedade em um banco de genética, a FT Sementes, em Ponta Grossa (PR), além da Progresso Sementes, voltada para a produção e comercialização de sementes de soja.
Agora, chegou a hora de desbravar outras frentes. Em uma nova etapa de crescimento e diversificação, o Grupo Progresso está fazendo os primeiros investimentos em uma usina de etanol de milho que está sendo construída em Uruçuí (Pl) e que deverá começar a esmagar grãos entre junho e julho de 2026.
Com aporte total de R$ 1,18 bilhão, a empreitada é feita em parceria com a Brasil Bioenergia (BrasBio), que tem entre seus sócios o fundo Green Lake Fi Participações, a H4 Holding e a Ideal Agro. O grupo Progresso detém 25% do negócio.
Na primeira etapa, a usina terá, segundo contou Sanders ao AgFeed, capacidade para moer 1,5 mil toneladas de milho ao dia, gerando 620 mil litros de etanol de milho e 420 toneladas de DDG. O volume ajudará a atender à demanda interna do Estado, que atualmente gira em torno de 263 milhões de litros anuais.
Hoje, o Piauí produz cerca de 43 milhões de litros de etanol por ano, com boa parte do volume sendo importado de outros estados, fazendo com que o combustível chegue mais caro às bombas.
Com a inauguração de uma planta local somada aos incentivos fiscais do estado, concedidos ao grupo ate 2033, Sanders calcula que o produto ficará mais competitivo, estimulando o consumo.
"Hoje o etanol chega a R$ 4,90 o litro. Pelos nossos cálculos, conseguiremos entregar a R$ 3,90 nas bombas", calcula o empresário. Na segunda etapa do projeto, prevista para começar em 2028, a expectativa é dobrar a produção diária e chegar a 3 mil toneladas de capacidade de esmagamento.
Para dar conta dessa produção, Sanders já adquiriu áreas extras para investir no plantio de eucalipto, cuja madeira é usada para abastecer as caldeiras e gerar energia para a operação da usina. "Faremos o plantio de 2,5 mil hectares ao ano", revela.
Ele explica que a compra da matéria-prima para a usina será feita no mercado e que não necessariamente irá fornecer milho para a planta. "São operações independentes e como tal, o grupo Progresso vai avaliar quais serão as melhores oportunidades de venda do milho", pondera.
Safra 2024/2025
Enquanto os investimentos para a produção de etanol de milho seguem a todo o vapor, na lavoura as operações não deverão ser ampliadas, pelo menos para a próxima safra.
Sanders explica que o momento não é propício para novos investimentos, especialmente para a soja, cujo excesso de oferta vem fazendo as cotações caírem. "O mercado segue achatado com os preços em baixa e aumento significativo dos custos nos últimos dois anos. Não é momento para fazer novos investimentos", pondera.
Ele revela que atualmente o custo médio por hectare para a produção de grãos do grupo está na casa de 46 sacas, enquanto a produtividade média está em 56 sacas por hectare. "Isso faz a nossa margem bastante apertada", avalia.
Para a safra 2024/2025, cuja colheita deverá começar entre os dias 15 e 20 de fevereiro no Estado, a expectativa é de que haja um leve aumento na produção média por hectare nas fazendas do grupo, uma compensação depois das perdas ocorridas na temporada
2023/2024
Assim, a colheita deve resultar em 62 sacas por hectare para a soja, 90 sacas por hectare no milho e 350 arrobas por hectare para o algodão. Os volumes representam um aumento de 5 sacas, 40 sacas e 30 arrobas, respectivamente.
Do total cultivado pelo grupo para a atual temporada, 64 mil hectares foram plantados com soja, 11 mil hectares com milho e 7,5 mil hectares com o algodão. Ele explica que como as chuvas chegaram mais cedo, o plantio de soja também teve início antecipado. "Só essa antecipação e adequação à janela já nos deu um ganho de produtividade".
Sanders considera que o cenário climático desta semana na região está favorável, com chuvas levemente acima do esperado para o periodo e com o bom desenvolvimento das plantas.
A melhora das condições climáticas e também do controle de pragas devem contribuir para os bons resultados. "Na safra passada, tivemos problemas sérios com a lagarta no milho e com a mosca branca na soja, que derrubaram a nossa produtividade", explica Sanders.
A recuperação da produtividade nas lavouras do grupo vem no momento em que a Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), prevê uma safra de grãos de 322,3 milhões de toneladas, volume 8,2% superior à temporada passada. O recorde no volume acaba contribuindo para a continuidade de preços baixos, especialmente para a soja.
Por isso, apesar da maior produtividade do grupo, Sanders prevê que o faturamento da divisão de grãos deve se manter estável, em cerca de R$ 680 milhões.
Para tentar driblar o cenário de baixa, o grupo conta com um trunfo que faz muita diferença: quatro das seis fazendas possuem estrutura completa para armazenagem. No total, o grupo Progresso tem capacidade de armazenar 320 mil toneladas no Piauí e 20 mil toneladas em Minas Gerais, o suficiente para acomodar 100% da produção de grãos e sementes das fazendas.
Isso faz com que o grupo tenha margem para negociar a comercialização de grãos em períodos em que as cotações estejam mais favoráveis. Atualmente, entre 65% e 70% da produção de grãos é destinada à comercialização, dividida entre exportações diretamente com trades e também para abastecer a fábrica de óleos vegetais da
Bunge em Uruçuí, a poucos quilômetros de uma das fazendas do grupo. O restante do volume é direcionado para a Progresso Sementes, que abastece as fazendas do grupo e também comercializa sementes de soja para clientes em diversas regiões do país.
Por conta da melhor produtividade no campo, a produção de sementes, que fechou em 1,4 milhão de sacas em 2024, deve chegar a 2 milhões de sacas até o final de 2025. Com isso, o faturamento deve sair da casa dos R$ 680 milhões para aproximadamente R$ 720 milhões, calcula Sanders.
O desbravador de oportunidades
Cornélio e os irmãos chegaram ao Mato Grosso em meados de 1977, antes mesmo da divisão do Estado, que resultou na criação do estado do Mato Grosso do Sul. Juntos, adquiriram terras nas duas regiões, além de uma área em Minas Gerais, gerenciada por outro irmão.
Sanders viveu no Centro-Oeste até 1997, administrando duas fazendas, uma em cada estado. Uma das propriedades era em Primavera do Leste (MT), onde ele viveu por 7 anos.
Nas novas terras, os irmãos usaram todo o conhecimento adquirido com os pais para investir no cultivo de grãos. No ano 2.000, quando desfez a sociedade com o último irmão, Sanders decidiu que era o momento de desbravar outras regiões. "No final das contas da divisão, ficou acertado que meu irmão pagaria minha parte em sacos de soja por ano e assim eu saí em busca de outras terras para plantar", conta.
Nessas andanças, Sanders visitou áreas em Minas Gerais, Bahia, Maranhão, Tocantins, até chegar ao Piauí. "Escolhi o Piauí pela topografia, porque a terra não é tão arenosa e nem muito argilosa e tem um regime de chuvas bom para a lavoura, entre 1.100 e 1.200 milimetros ano", explica.
Ele conta que, no inicio, o baixo custo da terra também era um estímulo. "As primeiras áreas de terra bruta, eu lembro de pagar 4 sacas de soja por hectare, hoje uma terra similar não sai por menos de 150 sacas por hectare", relembra.
A primeira área adquirida, com 3,8 mil hectares, foi justamente aquela comprada dos Orleans e Bragança. Nessa área, que pertence até hoje ao grupo Progresso, Sanders começou a cultivar soja.
"Eu estabeleci um prazo de 3 anos para testar a nova região. Se o saldo fosse positivo ao final do período, seria o sinal para investirmos em novas áreas" , revela. Logo no primeiro ano, ainda sem conhecer as especificidades da região, ele teve prejuízo. "Depois fomos aprendendo e, nos dois anos seguintes, tivemos boa produção", relembra.
Era o sinal de que Sanders precisava para apostar na região.