Casas alagadas e destruídas, pessoas desabrigadas, e até mesmo perdas de vidas, esses são alguns dos impactos ocasionados pelas enchentes e inundações. Recentemente, o Rio Grande do Sul enfrentou uma das piores crises em sua história, com enchentes de proporções épicas que assolaram o estado entre o final de abril e início de maio de 2024, causando comoção de todo o Brasil.
Em um contexto mais próximo, a capital do Piauí, Teresina, também enfrentou inundações severas ao longo das décadas, com eventos marcantes registrados em 1926, 1960, 1974, 1985, 1995 e 2009. A conexão entre os acontecimentos revela uma realidade comum: a constante ameaça das enchentes no Brasil e os desafios que elas impõem às comunidades afetadas.
Pensando nisso, a Defesa Civil do Piauí desenvolveu o projeto Defesa Civil Prepara, que visa a capacitação de lideranças comunitárias para enfrentar os desafios e situações específicas que surgem durante a estação chuvosa, reduzindo riscos e aumentando a resiliência. O Professor Werton Costa, Diretor de Prevenção do órgão, explicou como surgiu a iniciativa.
“O Defesa Civil Prepara é uma ação inspirada em iniciativas que ocorrem, por exemplo, no Rio de Janeiro, São Paulo, Bahia, Pernambuco. Experiências muito exitosas que envolve o engajamento comunitário. Ele trabalha com a metodologia colaborativa que compreende que a comunidade ela é parte do processo de proteção e Defesa Civil”, afirmou a autoridade.
MAPEAMENTO DE LOCAIS
O projeto será implementado em comunidade localizadas em zonas de perigo, que possem riscos hidrológicos, de enxurradas, enchentes, inundações, geomorfológicos e deslizamentos, envolvendo ativamente a população de áreas de risco no planejamento e na implementação de medidas de preparação, incluindo simulações de desastres e campanhas de conscientização.
“Boa parte dos desastres eles são potencializados pela desinformação, pelo desconhecimento das normas de segurança e dos riscos. Às vezes tem muito ruído e as pessoas entram em pânico”, ressaltou a autoridade.
O diretor de prevenção afirma que é realizado um mapeamento dessas áreas afetadas, por meio do Serviço Geológico do Brasil, de alto nível. Costa explicou que o projeto trabalhará também no mapeamento de risco realizado pela própria comunidade, utilizando a metodologia da cartografia social, permitindo uma compreensão mais precisa das áreas de risco e a criação de estratégias de prevenção adaptadas às necessidades específicas de cada local.
"Nós acreditamos que a prevenção é a metodologia menos onerosa e aquela que alcança o principal resultado da Proteção Civil, que é a proteção da vida das pessoas", afirmou Werton Costa.
A princípio quatro comunidades de Teresina, por zona, já foram atendidas na primeira etapa: Poty velho, Norte da capital; Pedro Balsi, Sudeste; Satélite, zona Leste e a Vila da Paz, zona Sul. Além disso, o projeto também está sendo desenvolvido na cidade de Picos, ao Sul do Piauí.
“Claro que existem mais comunidades de risco em Teresina. O Poty Velho tem uma característica, que o perímetro é bem amplo. Essa área imensa, que compõem todo o espaço de risco da possível entrada do Rio Poti e do Rio Parnaíba. Planície de inundação”, destacou o professor.
A Secretaria Estadual de Defesa Civil será responsável pela organização e promoção das capacitações, e buscará formalizar Termos de Cooperação Técnica com Organizações da Sociedade Civil e Órgãos da Administração Pública Estadual. De acordo com Werton Costa, o próximo passo do projeto é expandir para outros bairros da capital e outras cidades do estado.
PREVENÇÃO
A medida que o projeto avançar em cada comunidade, será distribuído de um Plano de Proteção Familiar para a população, oferecendo orientações detalhadas sobre como agir em situações de risco, como enchentes, desmoronamentos e outras emergências. As cartilhas fornecerão informações essenciais, como a identificação dessas condições, métodos para salvar membros da família e pets, e itens essenciais a serem incluídos em mochilas de emergência.
Além disso, o guia incluirá um formulário para os moradores poderem reportar situações de risco diretamente ao NUPDEC – Núcleo de Proteção e Defesa Civil, que, por sua vez, comunicará essas informações à Defesa Civil. Isso permitirá a criação de um sistema de alerta eficiente na comunidade.
“A água é vida. Mas tem que se proteger para não ser afogado por ela”
Conversando com o professor Raimundo Rodrigues, Presidente da Associação do Poti Velho, foi possível entender a preocupação crescente com o risco de transbordamento do rio que atravessa a região. Ele relata como foi uma das maiores enchentes ocorridas na capital em 1985.
“A comunidade geral sofreu bastante porque começou ainda lá no Mocambinho, depois a água foi chegando. Aqui na região, são treze bairros que são atingidos pelas enchentes. A nossa preocupação vem acrescendo com essas mudanças climáticas que estão acontecendo no mundo, estamos nesse temor. Nosso medo é que venha transbodar nessa região aqui”, pontuou o lider comunitário.
“Isso está nos dando uma luz, por que essa é a saída”, afirmou Raimundo Rodrigues sobre a iniciativa da Defesa Civil. Ele destaca que muitas pessoas ainda não percebem o perigo iminente do transbordamento do rio. "Vamos caminhar juntos para tornar nossas ações concretas”, disse o presidente.
Raimundo, que vive na área desde 1965, conta ainda que sente um carinho pela região, pois foi onde formou sua familia e agora é pai de oito filhos. Ele revela que sempre quis morar perto da água pois: “A água é vida. Mas tem que se proteger para não ser afogado por ela”.