* Eugênio Paraguassú Martins Guerra
Não faltam fortes razões e argumentos plausíveis para se defender a criação do Estado do Gurgueia e um novo Piauí, com a ?partilha? político-administrativa do território piauiense.
Ora, o Sul do Piauí (o Gurgueia) e o Centro-Norte do Estado (o novo Piauí) são regiões que, apesar de também terem características comuns, tem várias e significativas diferenças. A propósito, a região do Gurgueia, historicamente, e até os dias de hoje, tem muito mais relação com a Bahia e com Pernambuco do que com o restante do Piauí, além do Distrito Federal, que sempre foi destino de muitos gurgueianos. Já o Centro-Norte do Piauí tem mais a ver com o Ceará e com o Maranhão.
O Gurgueia tem um sotaque mais ?carregado?, próprio, um jeito de falar diferente do povo de Teresina e do Norte do Piauí, bem como tradições culturais bem peculiares. Além disso, é importante destacar que o Conselheiro Saraiva (baiano e fundador de Teresina) e os Senadores piauienses Joaquim Pires Ferreira e Chagas Rodrigues defenderam a emancipação do Sul do Piauí - por mais que esses ex-congressistas fossem do Norte do Piauí.
Hoje, no Gurgueia, há um verdadeiro sentimento popular por parte de muita gente, de que a criação do Gurgueia é necessária para corrigir o atraso a que região foi submetida secularmente por sucessivos governos e para que haja mais prosperidade e melhor aproveitamento das potencialidades e riquezas da região. Diante desse quadro e levando-se em conta os variados aspectos históricos e culturais do Sul do Piauí em relação ao restante do Estado, pode-se afirmar, seguramente, que há razões históricas e culturais que justificam a criação do Estado do Gurgueia e interesse popular nesse sentido. Assim, não se pode pensar, equivocadamente, que a criação desse novo ente federativo (ou mesmo de qualquer outro no Brasil) é interesse só de políticos e não da população, pois pensar assim, certamente, seria pensar pequeno.
A economia do Gurgueia é muito baseada na agricultura, na pecuária e no agronegócio. Mas a região tem vocação para negócios e serviços vários, para a indústria, para o turismo, inclusive o ecoturismo, pois tem um meio ambiente rico e exuberante, que deve ser preservado e respeitado, e que também pode ser explorado de forma sustentável, de maneira que haja turismo ecológico e retorno financeiro, através dos parques ambientais e outras áreas de preservação que existem e que ainda podem ser criadas na região, como o Parque Nacional da Serra Vermelha.
Infelizmente, e diferentemente do que algumas pessoas pensam (o que é um grande equívoco), o Sul do Piauí não contribui muito com a arrecadação tributária do Estado. E não é por falta de fato gerador, ou seja, não é por falta do que tributar. A questão é que o Estado do Piauí é muito distante da região do Gurgueia, a máquina administrativa e o fisco estadual são muito ausentes do Sul piauiense.
É inegável que o Sul piauiense não quer mais sofrer, nem quer que o novo Piauí sofra, também. A propósito, cadê a Barragem do Rangel (em Redenção do Gurgueia), o Aeroporto Internacional de São Raimundo Nonato, cadê as estradas asfaltadas e os acostamentos com padrão de BR, cadê barragem em nosso Rio Gurgueia, que está morrendo, apesar de dar nome a nosso futuro Estado, e outras obras?
O Sul piauiense cansou de sofrer e demonstra querer a criação do Estado do Gurgueia, como forma de construir uma nova história ? coisa que o novo Piauí poderá fazer, também, quando deixar de ter responsabilidade por aquela grande área, que é muito custosa para ele carregar sozinho.
Num Estado Democrático de Direito, como o nosso, tal sentimento de emancipação deve ser respeitado e, para tanto, deve haver um plebiscito para o povo se manifestar. No caso, prevalecendo o SIM ao Gurgueia, o novo Estado tende a nascer com um ritmo crescente e acelerado de obras, negócios e serviços que alavancará o desenvolvimento e a arrecadação tributária da região. Nesse sentido, o Gurgueia teria suporte financeiro-tributário para se sustentar como Estado.
O Gurgueia e o Piauí têm potencial para terem economias bem fortes e robustas, muito melhores do que a que o Piauí possui hoje. Em seu favor, o Gurgueia tem uma natureza rica, muita água subterrânea, terras férteis, minérios e um povo valoroso, trabalhador, disposto e ousado. O Piauí remanescente tem vocação comercial e turística, além de outras vantagens econômicas e seu importante povo, que poderá fazer, juntamente com seus governantes, com que o Estado prospere muito na área industrial, por exemplo.
Porém, a riqueza do Sul do Piauí, atualmente, é ?represada?, ?acuada?, ?sufocada?, ?contida?; por isso é que a região não é mais desenvolvida. Com a criação do Estado do Gurgueia, entretanto, essa realidade tem tudo para mudar para melhor, pois haverá benefícios tanto a região do Gurgueia quanto para o novo Piauí.
A criação do Gurgueia seria, também, além de um feliz resultado de uma histórica luta a favor do progresso e do desenvolvimento de uma região e contra as disparidades sócio-econômicas entre o Norte e o Sul do Piauí, defendida por muitos e pelo grande Conselheiro Jesualdo, filho da região gurgueiana (de Corrente), ele que muito abrilhanta o CEDEG (Centro de Estudos e Debates do Gurgueia), entidade que o mesmo preside, e ele que é um homem abnegado e desapegado como poucos que conhecemos e que tão ardorosa e apaixonadamente defende a causa pró-Gurgueia, esse empolgante e palpitante tema, que traz em sua essência a ideia de um Piauí melhor para todos, de Norte a Sul; a ideia seria, digamos assim, um Piauí e Gurgueia muito mais vigorosos e prósperos, numa feliz e grande sintonia.
Assim, diante dessa reflexão e de nosso contexto atual, você considera justo e aceitável a situação de atraso, miséria, pobreza e fome a que estão submetidas muitas pessoas da população sul piauiense (a população gurgueiana), gente que está numa situação bem pior do que muitos habitantes do Norte do Piauí, por falta dos devidos investimentos que deveriam ser feitos no Gurgueia? Será que uma máquina administrativa própria e mais próxima do Gurgueia, não contribuiria para que houvesse mais emprego e renda, mais educação, saúde, segurança pública, saneamento básico, abastecimento d?água, estradas, energia elétrica? Será que aquela grande região e aquela valorosa população (da qual fazemos parte, graças a Deus) não merecem ser mais respeitadas, melhor tratadas e compensadas pelo Piauí, por causa do histórico atraso que o Gurgueia foi obrigado a suportar até hoje, ao ponto de receber a emancipação, sua liberdade para progredir e prosperar muito mais e melhor? Fazemos esses questionamentos... levando em conta que os frutos, que as vantagens da criação do Estado do Gurgueia beneficiarão o novo Piauí e sua população, também, e não somente o Sul do Piauí e sua gente.
Com a palavra e com a resposta, a população piauiense, que a Deus querer, não demorará muito para ser chamada a decidir essa tão importante e salutar questão em plebiscito...!
* Eugênio Paraguassú Martins Guerra é Advogado, é de Redenção do Gurgueia ? ?Gurgueia?, e é defensor da criação do Estado do Gurgueia por convicção e por amor ao Gurgueia e ao Piauí.
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