A CULPA É TODA DOS PAIS?
Artigo escrito por: Bruno Fonseca Guerra*
São tempos nebulosos esses em que a sociedade brasileira tem vivido, embora os números da economia apontem crescimento do poder de compra das classes baixas e o aumento da importância de nosso país frente à comunidade internacional. É, aliás, desse aspecto econômico favorável que decorre a total ausência crítica da sociedade, sobretudo no que concerne a tendência geral de fechar os olhos para não enxergar as mazelas que acometem a sociedade pós-moderna, pós-ética e porque não pro-sacanagem. Não mais podemos culpar a ?Escola? por nossa juventude transviada e sem comprometimento ético como se fosse a única responsável, pois é no seio familiar que floresce as idéias do certo e do errado, do justo e do injusto, da moral e do imoral etc.
Crianças e jovens que vêm seus pais se corromperem nos períodos eleitorais, no trabalho, nas atividades sociais, tendem a reproduzir o comportamento desonesto em sua vida adulta. A Ciências Sociais, a Biologia, a Genética e toda sorte de conhecimentos a muito chove no molhado para explicar o que todos nós já sabemos desde muito cedo, ?é o ambiente saudável, ético, educativo socialmente e livre da pobreza? que propicia a formação de cidadãos comprometidos com a comunidade a qual pertencem.
Poderiam os críticos contra-razoarem que jovens de berço favorável também enveredam pelo caminho da criminalidade, jovens que a priori possuem todas as condições benéficas a uma boa formação ética. Mas, não com certeza absoluta, sobretudo no que tange ao ser humano e suas relações, poderíamos afirmar com exatidão matemática as razões da delinquência ou da total ausência moral-crítica dos jovens de nosso tempo.
Contudo, cabe perguntarmos se esses jovens acostumados ao fausto são realmente instigados a uma atitude ética do viver em comunidade, se esses jovens têm realmente exemplos de honestidade em seus pais, se seus pais não os educaram na máxima ?faça o que digo, não faça o que faço?, pois é sabido que quanto mais alta a classe social nesse país, maior a hipocrisia e menor a vergonha de usar de subornos para se garantir a comodidade dos negócios, ainda que travestido de legalidade.
Não obstante, os jovens agora sonham com a política, isso mesmo! Sonham e almejam a participação política, mas não da forma democrática grega de participação, notadamente a ateniense, mas da forma tupiniquim de politicagem, qual seja, enriquecer-se a custa do Erário Público. A muito se critica a falta de participação da juventude, contudo os atores que se mostram dispostos a atuar no campo da política se apegam aos velhos métodos da cafajestagem política, a muito difundidas e aceitas pela sociedade como próprias da política.
Ora, ser candidato a cargo eletivo não é a única forma de participação política e nem mesmo é a mais importante, como pensam os gananciosos. Retomando ao exemplo grego, a política era vista como um dever cívico do cidadão e votar, participar das assembléias, discussões, deliberar e opinar sobre as coisas públicas fazia parte das academias e liceus como também da vida privada das famílias. Na verdade exercer um cargo era visto muito mais como um fardo do que como uma benesse, como hoje acontece. Todo cidadão deveria estar preparado ao chamado da obrigação pública e a prestar contas ao final de um período previamente delimitado.
Muito embora, hodiernamente estejamos vivenciando um período de ausência moral e ética, não devemos perder as esperanças em um futuro melhor e numa sociedade mais justa e igualitária. É bem verdade que o Estado e a sociedade tenham sua parcela de culpa na anencefalia da juventude contemporânea, contudo é o ambiente familiar que molda de forma mais sólida o caráter de um homem, sua ética, fibra e integridade moral.
Dessa forma, é na família e na escola primaria e fundamental que os maiores esforços do Estado devem se concentra para a formação de homens e mulheres capazes de atuarem na construção de uma comunidade moralmente sadia e verdadeiramente justa. Uma sociedade com iguais condições e que o trabalho, o estudo e a dedicação pública se tornem valores inquebrantáveis de uma sociedade plural e realmente democrática.
*Bruno Fonseca Guerra é bel. em Direito e acadêmico de Administração.
As opiniões aqui contidas não expressam a opinião no Grupo Meio.