Deusval Lacerda de Moraes
Pós-Graduado em Direito
Quem pensava que o ex-governador Wilson Martins tornou-se controvertido na vida pública só depois que deixou o PSDB para aderir ao governo Wellington Dias em 2005 - para ser eleito vice-governador em 2006 e governador em 2010 pelos petistas e, ingratamente, afugentá-los do Palácio de Karnak, bem como apresentar-se ineficiente no campo político-administrativo governamental - está redondamente enganado, pois tais impertinências lhe acompanham desde o começo da sua ciclotímica carreira política em 1994, quando se elegeu pela primeira vez a deputado estadual. Apesar de vivermos esses fatos, mas sem a comprovação jornalística para embasar os rumorosos acontecimentos ocorridos na Fundação Municipal de Saúde (FMS), comandada por ele na ocasião por ser o Secretário de Saúde do Município de Teresina, o Portal CapitalTeresina traz excelente reportagem denominada “O passado esquecido de Wilson Martins: Candidato ao Senado quase foi expulso do PSDB em 1994”, com matérias dos jornais da época e o Manifesto dos Amigos de Wall Ferraz que dão grande contribuição para a historiografia política e o bom jornalismo piauiense. Convém relembrar que o médico Wilson Martins assumiu em 1993 a Secretaria de Saúde da PMT na gestão Wall Ferraz e cuja atuação foi denunciada em 1994 que tinha como epicentro a FMS e que naquele mesmo ano coincidiu com sua candidatura a uma cadeira na Assembleia Legislativa do Piauí. Em abril de 1994, ele foi alvo de denúncia pelos servidores da Secretaria de Saúde de Teresina ao Conselho Municipal de Saúde que envolvia suposto desvio de medicamentos e que foi investigado por auditoria realizada pelo antigo Instituto Nacional de Previdência Social (Inamps), fato que ensejou a abertura da Comissão Parlamentar de Inquérito, também conhecida de CPI da Previdência Social. O portal informou que a CPI da Previdência Social detectou sinais de disfunção na sua administração da Secretaria Municipal de Saúde. Afirmou também que entre as denúncias havia caso de recebimento de medicamentos irregular. O relatório de 100 páginas do Inamps apontava desídia na distribuição de 24 tipos de medicamentos. Naquela época, Wilson Martins disse que o auditor do Inamps Carlos Eduardo Santos fazia uma “perseguição política” contra a sua pessoa, talvez utilizando-se da tática da maioria dos políticos brasileiros quando investigados que, em vez de contrapor aos fatos imputados, passa também a desqualificar os seus investigadores. O mais interessante da reportagem é que uma ação popular foi movida pela CUT e FAMCC e que a inolvidável vereadora Francisca Trindade encabeçou movimento para que ele comparecesse à Câmara Municipal de Teresina para prestar esclarecimentos sobre as denúncias na instância política adequada para provar a sua retidão à sociedade e, como acontece muito na política brasileira, não compareceu para apresentar a sua versão, mas a vaga de parlamentar foi conquistada para entrar no tradicional círculo dos que se intitulam os “sortudos” do Piauí. Ainda sobre o desdobramento do caso, em julho de 1995, membros fundadores do PSDB, os então vereadores Olésio Coutinho, Marcos Vítor e Edson Melo, além dos tucanos Francisco Brito, Lourival José da Silva, Miguel Dias Pinheiro, Maurlílio de Araújo Lima, Olímpio Castro, entre outros, lançaram o manifesto “Os amigos de Wall Ferraz” em que diziam “inconformados com os ataques grosseiros e antiéticos proferidos pelo filiado, deputado Wilson Martins, atingindo a honra e a memória do nosso líder maior, saudoso ex-prefeito de Teresina Wall Ferraz, fato de pleno conhecimento da opinião pública piauiense e por observar que, injustificadamente, ambos diretórios têm se mantido em silêncio como a concordar com as injustas e descabidas colocações, que atingem o programa de lutas do nosso Partido da Social Democracia Brasileira, vimos através do presente requerer que seja aberto procedimento disciplinar visando à punição do agressor”. E concluiu: “não descartando-se, inclusive, a sua expulsão do PSDB/Piauí”. Fato que no dia 9 de agosto de 1995, o jornal Diário do Povo veiculou com a chamada: “Tucanos querem a expulsão de Wilson Martins”. O desfecho todos nós sabemos. Foi algumas vezes deputado estadual pelo PSDB, tornando-se até o seu dirigente máximo no Piauí e, dez anos depois, ou seja, em 2005, abandonou os correligionários da sigla azul-amarela e sorrateiramente aderiu ao governo petista de Wellington Dias, assumindo a Secretaria de Desenvolvimento Rural (SDR), elegendo-se vice-governador e governador do Piauí e, como fez com os tucanos, aplicou-lhe descarte na base do “chega pra lá” e, dez anos depois novamente, voltou sorridente ao seio dos tucanos que nestas eleições alguns dizem ter sido, inclusive, o melhor governante dos últimos anos como se nada tivesse acontecido. Assim, o Piauí fica à mercê da camaradagem mandonista que tenta resolver por antecipação os ajustes apropriados ao processo eleitoral-democrático para a persecução do aprimoramento político e do Estado do bem-estar para todos, e que espera urgentemente reforma institucional para que práticas dessa natureza sejam formalmente rejeitadas para que seja definitivamente separado o joio do trigo para proporcionar representatividade verdadeiramente irmanada com a sociedade que nos tempos atuais do Estado Democrático de Direito exige total isenção na assunção dos compromissos com vistas à promoção do bem comum.
As opiniões aqui contidas não expressam a opinião no Grupo Meio.