O Piauí desandou
Deusval Lacerda de Moraes
Pós-Graduado em Direito
Governo, ao seu término, só é considerado realizador se promoveu o progresso do Estado, e isso ocorre quando eleva os seus índices socioeconômicos, infraestruturais, produtivos, industriais etc. E não se ufanar ou vangloriar-se somente por ter conservado algumas unidades escolares, de saúde pública, restaurado alguns prédios das repartições, asfaltado perímetro urbano ou rodoanel inacabado, construído algumas estradas etc., porque isto é apenas uma gota d?água no oceano do desenvolvimento.
Dito assim, nenhum governo cumpre com os seus objetivos programáticos sobre o crescimento, alinhavados na sua plataforma administrativa disseminada na campanha eleitoral, quando não consegue atingir metas traçadas no seu plano de desenvolvimento e, pior ainda, quando o Estado, em certos vetores que pressupõem o impulsionamento da gestão, fica aquém do mandato anterior, como, por exemplo, voltar a ser o pior PIB do País e criar déficit nas finanças públicas classificado em terceiro lugar nacional.
Isso é sintoma de governo ineficaz. E mais preocupante quando o setor produtivo assevera que o Estado não adotou as políticas desenvolvimentistas adequadas, como noticiou a imprensa na matéria intitulada ?Indústrias podem ir para o Maranhão, alerta a AIP?, dito no dia 20 último pelo presidente da Associação Industrial do Piauí (AIP), Joaquim Costa Filho, durante o ?Encontro da Indústria Piauiense com a Imprensa?, realizado na Federação das Indústrias do Estado do Piauí (Fiepi).
Disse o presidente da AIP que a falta de infraestrutura oferecida ao setor industrial do Piauí está levando o governo maranhense a atrair empresas do Piauí para o Estado. Alertou que, caso não haja uma reação do governo do Piauí, várias empresas defendem transferir as instalações para o Maranhão, trazendo prejuízos para a economia piauiense. Joaquim Costa afirmou: ?Os nossos distritos industriais não têm urbanização, água, energia de qualidade e nem internet. Enquanto isso, na vizinha cidade de Timon ocorre o contrário?.
Também criticou a qualidade das rodovias locais que não suportam o transporte de cargas e com frequência são danificadas devido ao peso dos caminhões. ?Queremos rodovias no padrão BR?, disse o industrial, referindo-se às estradas federais. Segundo ele, o maior entrave para a indústria piauiense é a energia. E lamenta que as duas concessionárias de energia dos estados vizinhos ao Piauí ? Cemar, no Maranhão, e Coelce, no Ceará ? possuem serviços de qualidade, enquanto no Piauí não consegue atender à demanda. Dessa forma, não há como atrair investimentos industriais para o Estado se não há as condições ideais para a sua operacionalização.
Mas outro fato chama a atenção. É que as empresas concessionárias de energia do Maranhão, Cemar, e do Ceará, Coelce, são as mesmas criadas na época da Cepisa, no Piauí, e que em vez de pertencerem à Eletrobrás, como no nosso caso, pelo contrário, segundo Joaquim Costa, elas prestam serviços de qualidade nos seus estados e são fatores do alavancamento econômico, fato que por si só denuncia alguns políticos piauienses como desidiosos no empreendedorismo público, por abandonarem no meio do caminho a reestruturação da empresa energética, apenas por exigir engenhosidade, fugindo dos desafios em vez de terem assumido as suas responsabilidades.
Pelo quadro pintado pelo presidente da AIP, a atual gestão do Piauí é anêmica. Não se debruçou sobre os interesses relevantes do Estado. Distraiu-se no elementar da gestão pública como indutor do desenvolvimento. Sequer adequou a área onde poderia ser chamado Polo Industrial. Assim, até parece que não temos aptidão para o progresso, mas na arte política não arredamos o pé. Pois desde o dia 1º de janeiro de 2014, a base aliada do governo não se deu por vencida, pois a sua mobilização político-partidária é intensa, incessante, diuturna. Nesse campo, tudo é para ser resolvido de imediato.
Por outro lado, o empresário Joaquim Costa condenou as estradas e, para ilustrar, citamos o caso acontecido no último dia 20 de um transporte de carga da empresa Garra Distribuidora que atolou em asfalto inaugurado há um mês pelo governador Wilson Martins, na PI-323, que liga a cidade de Sigefredo Pacheco à PI-115, ocasionando enorme buraco e várias rachaduras na pavimentação asfáltica da rodovia. Na ocasião da inauguração, o governador esteve acompanhado de diversas figuras políticas do Estado e de lideranças da região, havendo até missa celebrada pelo monsenhor Edvando em agradecimento do asfalto.
A possível desindustrialização mencionada pelo presidente da AIP, o governo se manifestou pelo secretário de Desenvolvimento Econômico e Tecnológico do Estado do Piauí que disse que em abril será inaugurada uma fábrica de latas de alumínio no Polo Industrial Norte. O que mostra o Piauí em estado de primariedade industrial, uma vez que atualmente as indústrias que apresentam os melhores valores agregados são as unidades manufatureiras de bom padrão fabril ou corporações que envolvem matérias-primas de alta tecnologia ou nanotecnologia, e não fábrica de latas que representa filão rudimentar na produção industrial global.
Isto posto, governo que rebaixa o seu PIB para o pior do País, cria endividamento orçamentário dos mais impagáveis do Brasil e não estimula a sua produção industrial, podendo algumas empresas já instaladas no Estado até saírem para os estados vizinhos, desmonta qualquer verborragia governista que possa garantir que o governo é eficiente. Ademais, observando atentamente a seara política, vemos na salada partidária palaciana poucos se entenderem pelas razões circunstanciais que brotam no final dos governos que estão divorciados da aprovação popular, mas confiantes tão somente nos chefetes de ocasião governamental ou nos que mantêm contratos no Estado. E este universo sempre foi impotente eleitoralmente para consagrar as vitórias políticas majoritárias.
As opiniões aqui contidas não expressam a opinião no Grupo Meio.