DEUSVAL LACERDA
Há indivíduos que em determinadas jornadas da vida querem ter fôlegos de sete gatos, mas terminam asfixiados. É o que vem acontecendo ultimamente nos estertores do governo Wilson Martins. Esperneia, mas no final das contas o prejuízo político-eleitoral já foi consumado. Faz tudo para demonstrar que é duro na queda, mas o feitiço virou sobre o feiticeiro. É assim, quando não é para dar certo tudo que se faz não ocorre como se previra. É a vida. Tem vez que dá tudo certo até quando se erra, mas também tem vez que quanto mais se tenta acertar pior fica. Aí é preciso arte para superar o quase impossível, atributo de poucos mortais.
É sabido que depois do abandono do senador petista Wellington Dias ao governo Wilson Martins o lastro eleitoral que lhe dava sustentação também foi embora. Ficando o governo órfão daquele que lhe valorizou mesmo parlamentar e dirigente partidário da oposição em 2002 e depois propugnar pelo impeachment governamental, não obstante ungiu-lhe da Assembleia Legislativa para a vice-governadoria em 2006 e depois para o governo do Estado em 2010. Com isso, a governadoria hoje está composta basicamente dos oligarcas que as forças trabalhadoras derrotaram em 2002 em prol das mudanças que urgiam no Piauí.
Feito mandatário, falou demais e feriu susceptibilidades do aliado. Além de não tratar o coligado petista com a consideração que merecia após o triunfo eleitoral. Como os inexperientes, agiu com onipotência e achava que nenhum governista se atreveria a opor-lhe. Assim, no dia 21 de junho, nos festejos de São João do Piauí, terra natal da deputada Rejane Dias, que o convidou para as festas do Padroeiro São João Batista, deselegantemente desprezou a liderança de Wellington Dias em proveito da candidatura peemedebista em 2014, o que gerou o providencial rompimento petista e que lhe vem causando irreparáveis transtornos eleitorais.
Mas para demonstrar reação arregimenta forças que não ajudam na supremacia eleitoral, e que fica só na vã tentativa do ver se cola. Mesmo dizendo que não falaria em política em 2013, saiu à cata de deputados que quisessem ingressar no governo com o abandono do senador Ciro Nogueira (PP) no início deste ano. Depois, declinou o nome do partido da candidatura oficial em 2014. Agora, buscou os sem votos ou fracassados eleitoralmente dos partidos que se posicionam contra o governo e que têm membros na administração. E na farinha pouca meu pirão primeiro, praticou a antropofagia, isto é, o canibalismo político quando filia, na sua sigla, político de partido que será coligado para mostrar eventual fortalecimento da agremiação, mas que na verdade apenas expõe a ossatura da legenda, como no dissecado DEM.
Filiou-se também no PSB um dos sócios da construtora ENGENE, do Consórcio ENGENE/PETRA para a construção da Barragem de Milagres, no município de Santa Cruz dos Milagres/PI, cujo certame licitatório (Processo nº 592/2001) ocorreu na extinta Companhia de Desenvolvimento do Piauí (COMDEPI), Contrato nº 001/2002, no governo-tampão de Hugo Napoleão, e que nunca saiu do papel, mas que agora, 12 anos passados, o IDEPI, em descompasso com a legislação vigente, quer revalidá-lo, mas vem sofrendo implacável contraposição do Tribunal de Contas da União (TCU).
Com isso, lembra-se que na democracia moderna, em que o líder tem de conservar a confiança dos governados, sob pena do esgarçamento governamental, havendo casos até de queda de governo como no sistema parlamentarista, o governante tem de cumprir com a palavra dada para preservar algo ainda previsível no governo para a sociedade se certificar das ações governamentais. Por isso, no plano administrativo, adota-se o planejamento estratégico e, no plano político, age-se com competência nas políticas públicas e sinceridade na articulação político-eleitoral. Dito isso, a saída plausível para o governador piauiense é cumprir com a palavra dita em São João do Piauí, ou seja, que o seu candidato sucessor sairá das fileiras peemedebistas. É o mínimo que se pode exigir de governante nas atuais circunstâncias.
Assim, urge que o Piauí saia da política ao gosto dos mandatários de plantão, pois a administração pública não pode ficar à mercê dos interesses políticos imediatistas, que só enchem de votos os caciques governistas. Para tanto, em plena luz solar, às vezes, até blefam, ou seja, dizem uma coisa e fazem outra. Mas isso já está provado que é engodo. Não se precisa de artimanhas para ter o monopólio político do Estado quando instalado no poder, mas de desenvolvimento através da capacidade de alavancar o governo com trabalho, ação e realização. E às claras, sem tergiversações, sem política profissional, mas populacional. Enfim, sem essa história de que política é a arte de se tornar tudo possível. Pois tal possível só presta para a família e amigos do mandachuva, e inviável para a piauiensidade. Precisa-se apenas do trivial, mas uma trivialidade para todos e não para os chegados do chefão. O Piauí precisa, sim, de verdadeiros políticos, porque de encasteladores do Karnak, desses, já estamos fastidiosos.
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