Deusval Lacerda de Moraes
Pós-Graduado em Direito
Observando a discussão do governador do Piauí, Wilson Martins (PSB), que disse que não vai aceitar a ?batida de pé? ou as críticas do prefeito de Teresina, Firmino Filho (PSDB), sobre as deficiências no serviço de abastecimento d?água e do saneamento básico da Capital, promovidos pela empresa Águas e Esgotos do Piauí S/A (AGESPISA), conclui-se que a grande maioria da nossa classe política não tem condições de alavancar o Estado ao desenvolvimento, uma vez que já há décadas não foi capaz de administrar a AGESPISA, que é apenas uma gota d?água do oceano desenvolvimentista piauiense, com a competência que requer as gestões modernas das companhias privado-públicas. Já temos os exemplos da falência do extinto Banco do Estado do Piauí (BEP) e da antiga Centrais Elétricas do Piauí S/A (CEPISA).
A AGESPISA sempre foi uma das piores empresas de Águas e Esgotos do Brasil. E foi assim classificada em 2010 pela Revista EXAME em razão do somatório de mazelas de má administração, nepotismo político, superendividamento (bens penhorados) e falta de reinvestimento para se modernizar e apresentar serviços de qualidade. Nesse sentido, o jornal Diário do Povo de 9 de novembro de 2013 intitulou a matéria: ?Wilson decreta emergência para resolver caos na AGESPISA?. Em que disse: ?O prefeito sabe do meu propósito e do meu sentimento sobre a situação da a AGESPISA ao longo dos anos e que não suporta mais a série de problemas. Mas não é assim que se resolve, fazendo crítica e batendo o pé?. E disse mais: ?Os problemas são históricos e existem há muitos anos. São de responsabilidade muitos governos... Por isso o decreto de emergência?.
Sabe-se que a AGESPISA é uma sociedade de economia mista que tem a sua gestão sob a responsabilidade do sócio majoritário, o governo do Piauí. E face às declarações do governante, depreende-se que a A está em situação financeira calamitosa. Sabe-se também que ao longo da sua existência a empresa foi utilizada politicamente, ora empregando pessoas apaniguadas dos governos estaduais; ora nomeando gestores sem experiência e preparo técnico que resultaram em gestões temerárias; ora entregando a sua gerência a pessoas que criaram ambientes políticos-eleitorais para se catapultarem aos cargos eletivos e ocorrendo de alguns deles até serem processados judicialmente e certas empresas prestadoras de serviços de apadrinhados políticos serem acusadas de corrupção, enriquecimento ilícito e improbidade administrativa.
Vítima do descalabro administrativo-financeira, não se justifica que empresa que vende água, produto originário de matéria-prima de mananciais naturais, portanto não manufaturado e sem concorrência, que precisa só de tratamento e de criar infraestrutura tecnológica para a rede de distribuição, além de ser insumo obrigatório nas residências familiares e que os usuários pagam o consumo mensalmente para não serem privados do uso, cujas tarifas são regularmente reajustadas e são das mais caras do País, a Agespisa não poderia deixar de apresentar produto de qualidade e excelência em organização e aparelhamento para executar com primor essencial função.
Não obstante, recorda-se que, em 16 de outubro de 2012, houve grande explosão com estouro de um transformador da Estação de Tratamento de Água (ETA) no Distrito Industrial da Zona Sul de Teresina, ocorrida em virtude de curto-circuito na subestação 69, responsável pelo sistema elétrico da rede, que originou blecaute que deixou 700 mil teresinenses sem água. E que foi em decorrência da omissão de equipe permanente de manutenção e de prevenção técnica que não se antecipou e detectou o desgaste natural dos equipamentos que interligam o sistema elétrico-mecânico para providencial reparo e substituição das peças de reposição.
Fato que se constitui em desmedida irracionalidade quebrar empresa que fornece o seu produto para quase 700 mil domicílios no Piauí, e que bem administrada poderia ter alcançado mais lares e solidez financeira, industrial e operacional. No ano passado, a empresa tinha 2.644 pessoas entre servidores e terceirizados. O seu corpo técnico foi admitido pela via da indicação político-familiar e que alguns, apesar dos altos salários, estão desmotivados e sem serventia na empresa. Outros são ociosos ou de produção mínima, carecendo de reciclagem e capacitação e desprovido do sentimento agespisiano para vestirem sua camisa que, dessa maneira, não eram mais para pertencerem aos seus quadros. A contratação por concurso público ao menos testariam o conhecimento e a aptidão dos contratados para o trabalho na corporação.
Assim, o decreto governamental de emergência revela a insolvência da AGESPISA. E a saída? Extirpar a política partidária das suas entranhas. Nomear equipe dirigente capaz nas áreas administrativa, engenharia e empreendedorismo, sem leiloar os cargos diretivos pela politicagem como geralmente são preenchidos por ineptos, inexpressivos e submissos aos governantes. Buscar os resultados com rigor. Planejar diretrizes dentro da reestruturação em que funcione em sistema reorganizado, com inovação e resiliência da empresa. Ser drástico nas despesas. Realizar licitações dentro da lei, da tecnicalidade do serviço e economicidade para a companhia. Adotar estratégia de recursos humanos com austeridade pessoal e transpiração e inspiração na empresa. Impor políticas internas de combate à filantropia pública, o desperdício e os ?gatos? existentes. Renegociar a dívida em bases exequíveis e cumprir os contratos firmados e adequá-la aos desafios do porvir. Feito isso, torná-la-á lucrativa e passar-se-á a acreditar que a classe política está apta para impulsionar o desenvolvimento do Estado, porque a oligarquia usou e abusou da AGESPISA como âncora empregatício-eleitoreira.
As opiniões aqui contidas não expressam a opinião no Grupo Meio.