Um vídeo de pessoas nuas brincando de pique-pega dentro da antiga câmara de gás de um campo de concentração desativado na Polônia gerou revolta entre sobreviventes do Holocausto, que pedem uma resposta do governo do país. As imagens foram filmadas em 1999 pelo artista Artur Żmijewski e exibidas apenas em 2015, no Museu de Arte Contemporânea da Cracóvia. Apenas neste ano, no entanto, após uma visita da família real britânica, descobriu-se que as imagens foram filmadas dentro do campo de concentração de Stutthof, onde mais de 65 mil pessoas foram mortas.
O advogado David Schonberg, de Jerusalém, notou que o vídeo foi feito no campo de concentração após perceber que as imagens do local visitado pelo príncipe William e por Kate Middleton tinham as mesmas manchas na parede, uma borda de um lado, um ralo no centro e portas em cada canto. Segundo a "BBC", especialistas do Yad Vashem, o museu do Holocausto em Jerusalém, confirmaram a descoberta. De acordo com Schonberg, a reação dos poloneses é difícil de entender, pois a maioria dos mortos no campo eram poloneses não judeus.
"Esse é um problema que precisa ser abordado. Se as pessoas não são suficientemente sensíveis aos terríveis atos do Holocausto e não respeitam as vítimas, então a conduta adequada nesses locais na Polônia não pode ser devidamente assegurada", disse Schonberg.
Grupos de sobreviventes do Holocausto pediram explicações ao presidente da Polônia, Andrzej Duda, sobre como os artistas conseguiram filmar um pique-pega dentro de uma câmara de gás de um campo de concentração nazista.
A carta, assinada por grupos como o Centro Simon Wiesenthal, que investiga criminosos de guerra nazistas, e pela Organização Central de Sobreviventes do Holocausto, questiona como Artur Żmijewski conseguiu permissão para filmar o projeto e se havia regras de conduta em Stutthof. O documento diz ainda que "nenhum comentário ou crítica foi feito por oficiais poloneses" sobre o vídeo e pede que Duda "condene adequadamente o vídeo chamado de arte".
"É realmente ultrajante. Espero que o presidente da Polônia crie regras para garantir que coisas assim não aconteçam novamente", disse à "BBC" Efraim Zuroff, chefe do Centro Wiesenthal.
A exposição de 2015, "Polônia, Israel, Alemanha — A experiência de Auschwitz", foi patrocinada pela embaixada de Israel, que pediu que parte do vídeo fosse retirada após protestos de grupos judaicos. Já o Museu de Arte Contemporânea da Cracóvia disse que o vídeo deveria ser mostrado porque era uma questão de liberdade de expressão.
Uma descrição escrita pelo autor das imagens no site do museu informa que as pessoas no vídeo estão se divertindo, "mas também estão muito sérias". O texto diz ainda que eles sabem onde estão: na câmara de gás de um antigo campo de extermínio nazista. Ao final do vídeo, os créditos dizem que as imagens foram feitas no porão de uma casa privada e na câmara de gás de um dos antigos campos de concentração.