
Com 55% dos votos contra 44% da candidata de esquerda Luisa González, o presidente Daniel Noboa, de 37 anos, garantiu neste domingo seu segundo mandato à frente do Equador. Herdeiro de um império bananeiro e formado em universidades americanas, Noboa se consolida como uma figura paradoxal: um líder militarista que exibe presos seminu em operações midiáticas, mas também um influencer político que canta, toca violão e compartilha vídeos descontraídos nas redes sociais.
Segurança pública como prioridade
Desde que assumiu em 2023 para completar o mandato de Guillermo Lasso, Noboa transformou a segurança pública em sua principal bandeira. Ele declarou “conflito armado interno” contra os cartéis do narcotráfico, mobilizou tropas para retomar o controle de prisões dominadas por facções criminosas e reduziu a taxa de homicídios de 47 para 38 por 100 mil habitantes, embora o número ainda seja o mais alto da América Latina. Seu estilo de governar é frequentemente comparado ao de Nayib Bukele, presidente de El Salvador, especialmente pelas medidas de exceção prolongadas e pelas ações consideradas midiáticas e controversas.
Parcerias polêmicas e autoritarismo
Entre as decisões mais controversas, está a aliança com Erik Prince, fundador da empresa de mercenários Blackwater, conhecida por envolvimento em massacres no Iraque. Noboa também se mostra favorável à instalação de bases militares estrangeiras no país, o que é proibido pela legislação equatoriana. Em entrevista à revista New Yorker, ele afirmou: “Os narcotraficantes nunca imaginaram que eu teria colhões para declarar guerra contra eles”.
Diplomacia conflituosa e denúncias pessoais
Na arena internacional, Noboa causou um abalo diplomático ao romper relações com o México, depois de ordenar a invasão da embaixada mexicana em Quito para prender o ex-vice-presidente Jorge Glas, aliado do ex-presidente Rafael Correa. Paralelamente, busca aproximação com líderes da direita global, como Donald Trump. No plano interno, enfrenta acusações sérias: a vice-presidente Verónica Abad o acusa de violência de gênero e tenta impedir que ele a afaste do cargo. Sua ex-esposa, Gabriela Goldbaum, o acusa de violência vicária, afirmando que ele usa a filha do casal como instrumento de sofrimento emocional.
Populismo digital e imagem midiática
Nas redes sociais, Noboa mescla imagens de força e combate ao crime com postagens mais leves, como vídeos cantando músicas do Goo Goo Dolls ou mostrando sua rotina saudável — ele diz correr 10 km por dia e evitar festas. Sua esposa, Lavinia Valbonesi, influenciadora digital de 26 anos, colabora ativamente na construção dessa imagem pública. Apesar do esforço de marketing político, a oposição o ridiculariza com o apelido de “presidente de papelão”, em alusão a placas de propaganda em tamanho real usadas em seus comícios.
Desafios do segundo mandato
Com a reeleição, Noboa promete intensificar a guerra contra o crime organizado, mas especialistas alertam para os riscos de uma escalada autoritária, o desgaste causado por medidas excepcionais contínuas e a polarização social acentuada por um eleitorado que permanece dividido. Além disso, há preocupação com a dependência de forças estrangeiras e de empresas privadas de segurança. O Equador aprofunda, assim, um experimento político que mistura lei e ordem radicais com populismo digital, e que agora terá quatro anos para provar se pode garantir estabilidade ou se caminha para o colapso.