O volume recorde dos empréstimos para financiamentos imobiliários, que chegaram a ser 34% maiores no primeiro semestre de 2013 em relação ao mesmo período de 2012, aliado à baixa inadimplência no setor (de cerca de 2%), está levando os bancos públicos a voltarem a utilizar a Tabela Price, sistema de amortização em que todas as parcelas do financiamento são iguais. O modelo ajuda o consumidor a financiar um valor maior com uma renda menor, mas implica no pagamento de um valor total mais alto no fim do empréstimo, dizem especialistas.
Nos primeiros seis meses de 2013, os empréstimos para aquisição e construção de imóveis chegaram a R$ 49,6 bilhões, o melhor semestre da história, de acordo com informações da Associação Brasileira das Entidades de Crédito Imobiliário e Poupança (Abecip). O bom momento do setor, fez com que, desde maio, a Caixa Econômica Federal e o Banco do Brasil passassem a utilizar um sistema de amortização - a forma como vai ser feito o pagamento do valor emprestado para a compra e dos juros decorrentes do financiamento - que havia caído em desuso desde 2001, de acordo com informações do Sindicato da Habitação (Secovi) de São Paulo.
O sistema de amortização com base na Tabela Price prevê parcelas fixas durante todo o financiamento, já com os juros embutidos nas parcelas. A Caixa e o Banco do Brasil estão optando pelo modelo especialmente nos empréstimos para o programa Minha Casa, Minha Vida, voltado para imóveis de até R$ 190 mil e para famílias com renda inferior a R$ 5 mil.
Atualmente, o sistema mais utilizado é o Sistema de Amortização Constante (SAC), no qual o valor obtido do amortizado é sempre o mesmo, mas a parcela calculada pelo montante formado pelos juros vai diminuindo. Nesse caso, o custo das parcelas diminui ao longo do financiamento e o valor pago no total é menor se comparado à Tabela Price.
De acordo com o economista-chefe do Sindicato da Habitação (Secovi), Celso Petrucci, a troca do sistema de amortização, do SAC para a Tabela Price, é uma tendência que visa facilitar o acesso do financiamento para o consumidor, principalmente nos casos de programas populares.
Segundo ele, isso ocorre já que a tabela Price permite que o consumidor pague cerca de 30% a menos nas parcelas iniciais, o torna mais fácil para o interessado comprovar uma renda menor para conseguir o financiamento. "Os bancos exigem que o financiamento comprometa, no máximo, 30% da renda familiar. Então quem opta pela Tabela Price paga uma parcela inicial menor e consegue financiar um valor maior", diz.
No exemplo de um financiamento de um imóvel de R$ 100 mil, pelo prazo de 10 anos (a um custo anual de 14%), o valor da primeira prestação na tabela será de R$ R$ 1.552,66, enquanto no SAC fica em R$ 2 mil. A última parcela, na Price, continua em R$ R$ 1.552,66, enquanto no SAC cai para R$ 879,93. Ao final, quem optou pela Tabela Price paga R$ 186.319,72 enquanto quem escolheu a SAC paga R$ 172.796,09, ou seja, R$ 17.500 a menos. Os dados são da Associação Nacional dos Executivos de Finanças (Anefac).
De acordo com Miguel José Ribeiro de Oliveira, coordenador de estudos econômicos e diretor executivo da entidade, apesar daTabela Price ter uma prestação inicial menor do que nos demais sistemas de amortização, o mutuário deve sempre que possível evitar essa opção porque ela implicará em um custo final maior.
Confira requisitos de um financiamento imobiliário:
- Para conseguir um financiamento, é exigida uma entrada, entre 20% e 30% do valor do imóvel
- O valor a ser concedido depende da renda do mutuário. Na Tabela Price, a renda exigida é cerca de 30% menor do que aquela exigida no caso da amortização pelo SAC, de acordo com o Secovi
- A Tabela Price têm parcelas constantes até o final do financiamento e os juros já estão embutidos
- O SAC trabalha com parcelas regressivas (começam mais altas e vão diminuindo até o final do financiamento)
- Quem opta pela Tabela Price paga um valor maior do que quem opta pelo SAC
- O financiamento imobiliário pode ser em até 420 parcelas (35 anos), dependendo do banco escolhido
- O mutuário paga um taxa de juros que varia de banco para banco, que geralmente fica entre 8% e 12% ao ano. Para o programa Minha Casa Minha Vida, as taxas são menores, a partir de 4% ao ano