A divulgação de possíveis tratamentos para a COVID-19 tem levado algumas pessoas a fazerem uso de medicamentos sem procurar orientação médica. Atento a esse tipo de comportamento por parte da população, o médico cardiologista do Hospital Unimed Primavera (HUP), Alexandre Adad, fez um alerta sobre os perigos da automedicação.
“Nesse momento a automedicação deve ser abordada principalmente por conta da divulgação de possíveis tratamentos contra a COVID-19. Destaco possíveis, porque até o momento não temos tratamento específico contra o novo Coronavírus. Temos alguns possíveis tratamentos que podem trazer algum benefício, porém sem evidência comprovada por meio de estudos bem conduzidos. De qualquer forma, esses medicamentos potenciais têm efeitos colaterais, especialmente em quem tem doença do coração. Daí o perigo da automedicação. Alguns desses medicamentos podem causar inclusive arritmias cardíacas. Então, é sempre necessária a avaliação e prescrição pelo médico, ou seja, uma pessoa com preparo técnico para tratar eventuais complicações decorrentes da própria medicação”, explicou Alexandre.
Sobre o medicamento nitazoxanida (nome comercial Annita) utilizado para o tratamento de verminoses, Alexandre disse que existem estudos in vitro, ou seja, que ainda não foram testados em organismos vivos, que mostraram que esse medicamento diminuiu a entrada e replicação do vírus em células.
“Já foram iniciados alguns ensaios clínicos em humanos, mas até agora não há nenhuma evidência de que isso irá funcionar, porque não basta funcionar na bancada do laboratório (in vitro), pois existem muitas outras questões que precisam ser levadas em consideração como as relacionadas à absorção do medicamento, a biodisponibilidade etc. Não vamos estocar esse medicamento em casa achando que vai se garantir contra a COVID-19”, alertou o médico.
O cardiologista ressaltou ainda que em pacientes que tem doenças cardíacas como insuficiência cardíaca, doença arterial coronariana e hipertensão, a primeira orientação dada pelos médicos cardiologistas é de não suspender as medicações habituais. “Existem algumas informações divulgadas de forma incorreta, orientando a suspensão de medicamentos alegando que são perigosos, caso a pessoa venha a se contaminar com o novo Coronavírus. Entretanto, a orientação oficial é não suspender esses medicamentos habituais para hipertensão, insuficiência cardíaca e doença coronária”.
Outra questão importante citada pelo médico é de que tem muita gente precisando dar continuidade ao seu tratamento clínico, mas por medo de se contaminar acaba retardando sua ida ao hospital. “As pessoas estão deixando de procurar atendimento médico por medo da COVID-19. Tem muitas doenças que também são muito graves. Uma dessas doenças é justamente o infarto agudo do miocárdio. Portanto, se a pessoa está sentindo uma pressão forte no peito ou um desconforto opressivo, queimação no peito ou na boca do estômago, no queixo irradiando para o ombro ou do pescoço pro braço, ou ainda acompanhado de suor frio, enjoo e falta de ar, não deve retardar a ida ao hospital. No contexto do infarto agudo do miocárdio, o tempo para o atendimento é fator determinante. Se a pessoa retardar muito esse atendimento pode sofrer consequências mais graves”.