Por Sávia Barreto
O raio-x da gestão política do prefeito de Teresina, Dr.Pessoa (MDB) nesse primeiro mês, feito por vereadores e deputados ouvidos pela coluna, mostra que o mundo político sente-se de certa forma “esnobado” pelo prefeito eleito. E pode cobrar um preço por isso. Embalado na popularidade que lhe alçou ao Palácio da Cidade, Pessoa tem recebido mais populares e pessoas avulsas do que políticos em seu gabinete. Para observadores da cena política, isso pode trazer impasses futuros logo mais: seja na tramitação de projetos na Câmara Municipal, seja na articulação direta com Brasília na busca dos necessários recursos federais.
O contato direto com o povo é estilo do prefeito, e bem-vindo. Só que o diálogo com os representantes populares - ou seja, os vereadores e deputados - também é. Não deveriam ser excludentes, avaliam.
Fritura
Os homens fortes da gestão hoje são Adolfo Nunes, na secretaria de Governo e Robert Rios, o vice e secretário de Finanças. João Henrique, no Planejamento, vem sendo alvo de fritura interna. Muito próximo a Dr.Pessoa está o secretário de Comunicação, Lucas Pereira. Em ascensão e com interlocução privilegiada está o filho, o advogado João Duarte Pessoa, o Pessoinha, que pode em breve assumir uma secretaria maior. Há resistências internas ao protagonismo de Pessoinha. Mas o advogado, hoje na Eturb e na secretaria de Juventude, tem sido uma voz que busca a ponderação e o consenso político no diálogo com o pai.
Morde e assopra
Outra avaliação é a de que Adolfo Nunes tem uma personalidade bem parecida com a do próprio Dr.Pessoa, o que dificulta o diálogo com os políticos e outras figuras públicas. Na gestão tucana, o então prefeito Firmino Filho era mais árido no trato pessoal, mas tinha logo ali nas secretarias de Governo e Comunicação o diplomático – e respeitado até pela oposição – Fernando Said. O famoso “morde e assopra”. Na gestão Pessoa, está prevalecendo o “morde, morde”, reclamam os políticos.
Ruídos
Também é fato que houve estremecimento na relação com o MDB. Mas a sigla, formada por experientes políticos, tem optado por evitar qualquer polêmica pública de embate com o prefeito. Ao contrário do que se pensava após a eleição, a articulação com a Câmara sofre de ruídos. Isso porque Jeová Alencar (MDB), presidente da Casa, tem total influência sob os vereadores. É realmente o líder da maioria. Mas por conta do sentimento "antipolítica" que reina no Palácio da Cidade não consegue levar essas demandas adiante e no Legislativo o clima é de insatisfação geral nos bastidores.
Exemplos
Na história recente da política brasileira, basta lembrar do impasse entre a ex-presidente Dilma Rousseff e o então presidente da Câmara Federal, Eduardo Cunha, para ligar o sinal amarelo a respeito do desfecho de uma relação conturbada com o Legislativo. Ou lembrar do ex-presidente Lula, que saiu do cargo com aprovação superior a 80% e, na época, era tido como um mestre nas articulações com os políticos dos mais diferentes espectros. Sabia ouvir e mesmo negando as demandas que chegavam a ele, conseguia manter os aliados em sua pronta defesa. Cabe a Pessoa fazer os ajustes e adaptar - ou não - o rumo nesse natural período de adaptação de uma nova função no Executivo da capital.