Por Sávia Barreto
O encontro entre o vice-presidente Hamilton Mourão e o governador Wellington Dias (PT) foi em clima foi cordial na última sexta-feira (26). Ambos trocaram gentilezas e o governador pediu apoio a Mourão na relação com o governo federal. Informações apuradas pelo Primeira Mão apontam que a reunião era prevista para durar pouco tempo, mas surpreendeu por demorar quase uma hora. Nenhuma foto do encontro foi liberada e mesmo na Assembleia Legislativa o governador petista e Mourão sentaram em lados opostos e não foram fotografados juntos.
Para quem acompanhou as últimas críticas contra o general vindas do vereador pelo Rio Janeiro e filho do presidente Jair Bolsonaro, Carlos Bolsonaro, é perceptível que houve um esforço para não vazar nenhuma foto que pudesse ser interpretada como uma espécie de traição de Mourão aos ideais bolsonaristas por conversar e confraternizar com um político do PT, sigla que disputou o segundo turno e faz oposição ferrenha a Bolsonaro.
Elenco a seguir alguns pontos para entender a passagem de Mourão no Piauí:
1) Diminuir a pressão: apesar das tentativas da imprensa, Mourão evitou ao máximo dar qualquer tipo de declaração fora do discurso lido ao receber o título de cidadania piauiense na Assembleia Legislativa do Piauí. Dessa forma, saindo do quente percurso de Brasília e sem fomentar novas fagulhas, o tema Mourão x Carlos Bolsonaro (criador de polêmicas em tempo integral) tende a perder força nos próximos dias com o andamento da reforma da Previdência no Congresso Nacional.
2) Piauí ganha: o Piauí pode ganhar por estreitar relações com o vice-presidente. Pode não ser imediato, pode não ser em forma de um cheque assinado com vários zeros, mas provavelmente se configurará com mais portas abertas aos pedidos por recursos e trânsito em Brasília. Política não se faz apenas com cargos e leis, mas também com disposição e contatos. O general pode não ser o dono da caneta, mas é respeitado como líder da ala militar do Governo, sendo esta uma das mais importantes pelo respaldo técnico na administração pública - pelo menos em comparação aos olavistas.
3) Contraste com Bolsonaro: o fato de Jair Bolsonaro ainda não ter pisado no Nordeste - reduto eleitoral petista e onde ele tem a maior taxa de rejeição - é um ponto negativo para o presidente caso ele almejasse reverter a desaprovação crescente entre os nordestinos.
Por outro lado, Mourão age em contraste. Busca demonstrar capacidade de diálogo com as correntes divergentes à sua quando veste a capa institucional que o cargo pede. Mesmo que nas ruas a passagem do vice tenha soado tímida, Mourão soube fazer política ao conversar com Wellington Dias e até mesmo realizar alguns gestos públicos para o petista, como o momento do discurso em que ele disse ter tido "uma conversa honesta e sincera sobre os problemas do país como um todo e em particular o estado do Piauí”.