A produção brasileira de grãos prevista para a safra 2024/25 deve ampliar o déficit de armazenagem, um problema que já é significativo no país.
De acordo com a Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), a colheita esperada é de 322,4 milhões de toneladas, enquanto a capacidade de armazenagem atual, conforme o IBGE, é de 222,3 milhões de toneladas, suficiente para atender 69% da produção. O atraso no plantio da safra de verão, que pode concentrar a colheita, agrava ainda mais a situação. Com informações do Globo Rural.
FALTA ESTRUTURA
“O déficit na estrutura de armazenagem atingiu 124 milhões de toneladas em 2024 e deve crescer em pelo menos 5 milhões este ano. Com uma supersafra de soja e uma boa colheita de milho, o cenário pode se tornar ainda mais crítico”, avalia Paulo Bertolini, presidente da Câmara Setorial de Máquinas e Equipamentos para Armazenagem de Grãos (Cseag) da Abimaq.
investimentos
Bertolini destaca que o crescimento da produção agrícola supera o avanço na capacidade de armazenagem. “É uma situação que se repete anualmente. Para acompanhar o ritmo de expansão da produção de grãos, seria necessário investir cerca de R$ 15 bilhões por ano para aumentar em 10 milhões de toneladas a capacidade de armazenagem. No entanto, o investimento atual é a metade disso”, comenta.
Bernardo Nogueira, CEO da Kepler Weber, explica que a empresa está monitorando especialmente os Estados de Mato Grosso do Sul, Mato Grosso e Paraná, onde a produção de soja deve crescer 26,7%, 17,3% e 12,7%, respectivamente, em relação à safra anterior. “A gente vai ver uma safra que nunca foi colhida nesses Estados. E esses Estados já sofreram estresse logístico na safra 2022/23, que foi o último recorde”, afirma Nogueira. Ele também cita Tocantins e Goiás como regiões com crescimento expressivo na produção de grãos.
Em 2024, a Kepler Weber registrou 306 obras em andamento, um número recorde. Mais de um terço dos projetos está no Rio Grande do Sul. Nogueira ressalta a forte demanda em setores como cooperativas, indústrias de biocombustíveis e terminais portuários. “Vemos muito anúncio de investimentos no Matopiba, Goiás, Mato Grosso e Rio Grande do Sul. Imaginávamos que, com a queda no preço da soja, a demanda dos agricultores diminuiria, mas ela se manteve forte. Em 2024, a procura superou a de 2023, e agora acreditamos que isso é o novo normal”, avalia.
Apesar do aquecimento do mercado, Nogueira menciona os desafios enfrentados pelo setor, como custos elevados e juros altos. “Em toda a cadeia do agronegócio brasileiro, o endividamento aumentou. Nossa inadimplência é de 0,5%, mas o mercado está mais pressionado, e muitos clientes demandam descontos maiores para fechar negócios”, observa.
A GSI, adquirida pela gestora de private equity American Industrial Partners (AIP) em 2024, também relatou um aumento na busca por orçamentos e projetos de armazenagem. “Visualizamos uma melhora no cenário com a abertura do ciclo de 2025”, afirma Ricardo Marozzin, presidente da Grain & Protein Technologies, que controla a GSI.
demandas pelo país
Marozzin destaca que há demanda em todas as regiões do país, com maior concentração no Sul, Matopiba e Centro-Oeste, especialmente entre cooperativas, tradings e indústrias de biocombustíveis. Ele prevê crescimento de dois dígitos nas vendas no Brasil neste ano, após desempenho estável em 2024.
Bertolini, da Abimaq, critica a burocracia e a escassez de linhas de crédito acessíveis para a construção de armazéns nas fazendas. “Com R$ 2 milhões ou R$ 3 milhões, é possível construir uma estrutura básica de armazenagem. Mas o produtor enfrenta uma série de exigências, como licenças ambientais e de operação, que tornam o processo mais caro e demorado”, compara.
A falta de estrutura no campo sobrecarrega tradings e indústrias, que acabam assumindo os custos de armazenagem. “Isso encarece o produto final, pois a ineficiência é repassada no preço”, conclui.