O Equador vai para as eleições que escolherão seu novo Presidente, neste domingo, abalado por uma onda de violência que já matou dois influentes líderes políticos dentro de apenas uma semana, e sob o poder do narcotráfico que domina o país de modo visível. Na quarta-feira, 09, o candidato à presidência, Fernando Villavicencio, foi assassinado com tiros na cabeça, quando participava de um evento de campanha. Nesta segunda-feira, 14, apenas cinco dias depois, o dirigente partidário Pedro Briones, ligado ao ex-presidente Rafael Correa, também foi morto a tiros. Desde o dia 11, o Equador vive sob “estado de exceção”, por ato do presidente Guilhermo Lasso.
Nas raízes dessa violência, muito claramente se enxerga a influência que o narcotráfico internacional exerce em território equatoriano, país escolhido como alvo preferencial para sua atuação. Desde muito tempo, o Cartel de Sinaloa, do México, associado a facções criminosas locais, como Los Croneros e Los Lobos mandam as cartas, embora existam outros grupos rivais em crescimento. Recebendo influência internacional para sua atuação, o narcotráfico cria para as autoridades equatorianas uma gigantesca dificuldade para controlar o avanço do crime organizado.
TRÁFICO NA AMAZÔNIA
O que ocorre no Equador, relativamente à ação dos narcotraficantes, não é um domínio trágico restrito apenas a esse país. A atuação de facções criminosas que controlam o tráfico de drogas está cada vez mais presente em toda a Amazônia, incluindo, com destaque, o Brasil. Em áreas brasileiras fica cada vez mais evidente a presença dessa ação criminosa, que vai além, marcando a degradação ambiental, por meio do desmatamento acentuado e da grilagem em terras indígenas, promovendo a extração de madeira e a exploração e roubo de minerais preciosos, como ouro, diamante.
CASSITERITA
Mais recentemente, as facções criminosas que passaram a ocupar as terras indígenas brasileiras a partir de 2018, têm hoje em foco, além de ouro e diamante, estanho e outros metais valiosos, um mineral sobre o qual têm se dedicado com especial afinco. Trata-se da Cassiterita, um tesouro explorado especialmente em terras Yanomamis, cujo interesse internacional é enorme e crescente. Tal interesse decorre do fato de que é da cassiterita que se extrai o estanho, metal usado para produzir ligas como as folhas de flandres, famosas e úteis por sua maleabilidade e pela capacidade de evitar corrosão e ferrugem.
Esse metal de valor extraordinário, de grande atração por parte da indústria, está presente nas latas de bebidas e alimentos, no acabamento de carros, na fabricação de vidros, nas trelas de celulares e computadores, e muitas outras aplicações. Numa só operação, realizada em fevereiro, a Polícia Federal apreendeu em Boa Vista, capital de Roraima, 100 toneladas de cassiterita, carregamento que iria clandestinamente para o exterior, avaliado em mais de R$ 15 milhões. Para se ter uma ideia do que estamos falando, com o aumento do consumo de cassiterita no mundo, a exploração em terras brasileiras tem crescido sem parar. Basta olhar um detalhe particular em todo esse interesse: há 20 anos, um quilo de cassiterita custava cerca de R$ 5,00. Hoje está por volta de R$ 120,00 e até R$ 160,00.
VIOLAÇÃO DOS DIREITOS HUMANOS
A presença do tráfico internacional de drogas em terras amazônicas, especialmente no lado brasileiro, tem trazido graves e progressivas consequências, como conflitos armados, violação dos direitos humanos, expulsão dos povos originários de suas terras, ocupação criminosa, sempre à base de armas pesadas, de áreas pertencentes a reservas oficias, gerando deslocamentos forçados, de famílias, além de muitas mortes que diariamente são registradas pelos invasores.
Tais constatações, portanto, são um desafio permanente a autoridades de todo o mundo, desde os dirigentes dos oito países que integram essa imensa e mais importante área ecológica do universo, até os responsáveis pelos destinos dos países ricos, face à imprescindível necessidade de manter a Amazônia preservada, servindo, assim, à segurança ambiental da humanidade. Está aos olhos de todos de que a presença dos poderosos narcotraficantes internacionais, com suas parcerias locais, tende a contribuir aceleradamente para a destruição do meio aceleração, prejudicando particularmente os grupos populacionais mais vulneráveis.
Além da preocupação com as mortes e violência política presentes hoje no Equador, é preciso que todos enxerguem, enquanto há tempo, o que está instalado nas terras amazônicas e corram para conter a tragédia da destruição.