José Osmando

Coluna do jornalista José Osmando - Brasil em Pauta

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Primeira deflação em 14 meses no Brasil, faz o mercado quebrar a cara

Os dados do IBGE apontam para um recuo de -0,02%, quando no mês de julho anterior havia sido registrada uma alta de 0,38%.

Contrariando todas as expectativas do mercado, que desde muito vem apostando numa alta da inflação e consequente aumento de juros para contê-la, o Brasil deixou tristes os especuladores financeiros, os rentistas que lucram com taxas sempre mais elevadas, ao ver revelada uma deflação da economia durante o mês de agosto.

Os dados do IBGE apontam para um recuo de -0,02%, quando no mês de julho anterior havia sido registrada uma alta de 0,38%. Esta é a primeira deflação desde junho do ano passado, caracterizando um fenômeno econômico em que todos os preços de produtos e serviços caíram de forma generalizada. Esta aferição captada pelo IPCA (Índice Nacional de Preços ao Consumidor-Amplo) mostra um recuo de -0,08%, foi estimulado pela queda de 2,77% ocorrida nas contas de luz durante o mês passado. Assim, como havia uma estimativa de 0,38% de aumento inflacionário, e houve, ao invés disso, um decréscimo de 0,02%, a queda final é, portanto, de 0,40 pontos percentuais.

Mas não apenas as contas de luz tiveram queda nos preços.  Houve também recuo na habitação (-0,51%), e a segunda queda consecutiva da alimentação no domicílio (-0,73%). No ano, a inflação acumulada passa a ser de 2,85%, e nos últimos 12 meses, de 4,24%. Os produtos alimentícios caíram 0,63% em agosto, quando em julho já haviam apresentado uma queda de 0,95%. Caíram também os preços de artigos de residência (-0,74%), Vestuário (-0,39%), saúde e cuidados pessoais (-0,25%), educação (-0,73%) e comunicação (-0,10%).

O anúncio do IBGE, hoje, de que houve deflação econômica em agosto, vem no rastro do pessimismo histórico do mercado e seus analistas, que ontem, segunda-feira, após serem consultados pelo Banco Central (como ocorre toda semana), revisaram para cima o PIB de 2024, mas no mesmo modo projetaram alta nas taxas de inflação. E por conta desse cenário que só eles enxergam, voltaram a sinalizar para um aumento das taxas básicas de juros já na próxima semana, quando o Copom realiza mais uma de suas tensas sessões.

E agora, mercado? Como justificar esse afã pela elevação da Selic, quando o mais plausível argumento, o risco de crescimento da inflação, vai direto para a UTI? Quando o comportamento da economia, expondo sinais positivos em todos os seus segmentos, mostra não apenas uma inflação sob controle desde inícios de 2023 e agora revela-se tão frágil que ao invés de subir, fez justamente o contrário, registrou deflação?

As projeções de retorno de alta nas taxas Selic, forçadas pela pressão extraordinária que o mercado passou a exercer nos últimos dois meses, colocam agora todos os diretores do Comitê de Política Orçamentária (COPOM) do Banco Central em xeque. Em reiteradas falas expressas sobretudo no boletim Focus, eles sustentaram que ficariam dependentes dos dados do mercado da hora, ou seja, que números os levariam para as suas reuniões, ficando as decisões atreladas a isso;

E agora, que veio a deflação, vão ter ao menos a ousadia de propor elevação das taxas Selic, já que os argumentos de risco de volta da inflação foram sepultados?

 Resta esperar o que os ainda comandados por Roberto Campos Neto terão coragem de fazer nesses dias 17 e 18 de setembro.

Não há mais nenhum motivo para deixar o cadáver exposto, com a tampa do caixão aberta.

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