José Osmando

Coluna do jornalista José Osmando - Brasil em Pauta

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Por que o governador Zema prega confronto do Sudeste com o nordeste?

Declarações controversas de Romeu Zema geram indignação e acirram divisões regionais no Brasil

Na quinta-feira passada comentamos aqui neste espaço o alentador desempenho do Nordeste na economia brasileira, citando um levantamento da Tendências Consultoria, que deu a região com crescimento do PIB superior ao do Brasil. Por esses dados que chegam ao conhecimento púbico, a região nordestina deve ter, em 2023,  um aumento do produto interno bruto da ordem  de 2.4%, ante 1,9% do desempenho nacional e 1,7% do Sudeste, a região mais rica do país. 

Inacreditavelmente, no dia seguinte, na sexta, o governador do Estado de Minas Gerais, Romeu Zema, do partido Novo, deu uma entrevista – felizmente gravada, para que fique para sempre como prova de suas leviandades-, em que defendeu  a união do Sudeste e do Sul, formando um grande consórcio, para impedir que o Nordeste possa ter qualquer benefício na partilha dos recursos a serem definidos no fundo regional, que teria a finalidade de compensar regiões mais pobres – Norte, Nordeste Centro-Oeste-, iniciando um processo real de redução das desigualdades. E ainda disse mais: quer a direita unida contra a esquerda nas próximas eleições, numa atitude explícita de separatismo do país. O tempo todo da entrevista, ao se referir aos dois blocos de estados, ele trata como “dois lados.” 

Literalmente defensor da supremacia dos ricos contra os pobres, também literalmente contrário a qualquer princípio de compensação e reparação social aos desiguais, o senhor Zema, ao pregar que Sudeste e Sul se confrontem com o Nordeste, ainda usou de manifestações depreciativas e preconceituosas ao dizer: 

“Então Sul e Sudeste vão continuar com a arrecadação muito maior do que recebem de volta? Isso não pode ser intensificado, ano a ano, década a década. E não vai cair naquela história, do produtor rural que começa só a dar um tratamento bom para as vaquinhas que produzem pouco e deixa de lado as que estão produzindo muito.” Claramente, compara os nordestinos a “vaquinhas que produzem pouco”. 

DESPREZO AO NORDESTE

E aqui dou logo um aviso: essas falas não foram “retiradas de contexto”, como eles costumam se defender depois de desgraças proclamadas. Zema é useiro nesse desatino contra os nordestinos. Não é a primeira vez que o governante mineiro revela desprezo ao Nordeste. Em junho deste ano, numa entrevista a um jornal de São Paulo, ele já havia cravado essa pérola: “se tem estados que podem contribuir para esse país dar certo, eu diria que são esses sete estados aqui (das regiões Sul e Sudeste). São esses estados onde, diferentemente da maioria, há uma proporção muito maior de pessoas trabalhando do que vivendo de auxílio emergencial”.

É triste ver Minas Gerais, um Estado de tantas e relevantes tradições históricas, berço da Inconfidência Mineira, movimento que se inspirou no Iluminismo em sua luta pela libertação do Brasil da Coroa Portuguesa, e que deu Tiradentes, morto por enforcamento, como símbolo/herói nacional, veja-se hoje governado por um imenso obscurantista, negacionista e oportunista, que se vale de uma pregação ordinária, demagógica e irresponsável, para trazer para o seu colo um legado de extremismo de direita deixado por Bolsonaro, hoje inelegível. 

NÃO TEM NOÇÃO DA DESIGUALDADE 

Ao proclamar essa guerra insana de Sul e Sudeste contra os nordestinos, o senhor Zema, além de não ter a mínima noção sobre as desigualdades históricas deste Brasil de dimensões continentais, esconde uma outra enorme realidade. Minas, que sustentou sua economia, no passado, às custas de um perverso trabalho escravo nas plantações de café, possui uma extensa área dentro do polígono da seca, com 249  municípios integrando as áreas sob jurisdição da Sudene, que é a Superintendência de Desenvolvimento do NORDESTE. E que esse número de municípios suscetíveis às influências climáticas cresceu, acrescido de mais 81 municípios, por lei federal, em outubro de 2021, já com Zema governador. 

Vê-se, assim, que Minas Gerais, que de fato representa um retrato fiel do Brasil, com todos os seus contornos e formações, carrega uma forte presença do Nordeste. É triste saber que a cegueira, ignorância e má-fé de seu governante não lhes permitam enxergar essas verdades, e a perspectiva de um Brasil para todos.

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