Para quem gosta da discussão sobre se as aplicações governamentais com saúde, educação, projetos sociais e iniciativas de redistribuição de renda são "gastos" ou "investimentos", fico do lado daqueles que acreditam que essas ações são de fato um importante instrumento construtor, edificante de uma sociedade mais forte, constituída de pessoas mais autônomas, mais independentes, portanto, donas do próprio nariz, capazes de traçar seus próprios caminhos.
Dominado por esse sentimento, coloco-me em sentido oposto àqueles que só enxergam gastos nos investimentos que não se materializem diretamente em concreto armado, em grandes obras públicas, em mais dinheiro na bolsa de valores, em lucros para grupos restritos e privilegiados segmentos do invisível mercado. Daqueles que só vêm desperdício e irresponsabilidade de governantes que são capazes de ousar na alocação de recursos destinados diretamente ao engrandecimento do humano, na diminuição das diferenças entre classes e na reparação de injustiças.
Somo-me, portanto, aos poucos que creem que os percalços econômicos e os notáveis e propalados desequilíbrios fiscais das contas públicas nunca poderão ser levados à responsabilidade dos pobres, dos que não encontram o caminho das oportunidades, porque não foram preparados para alcançá-las. Mas, sim, a um perverso modelo econômico com que o Brasil foi montado, fundado numa estrutura em que basicamente só existem duas categorias: uma fatia restrita no topo, formada pelos muito ricos, e um poço imenso em que estão mergulhados milhões e milhões de brasileiros em extrema pobreza. Esses dois universos exprimem uma classe média também imensa, que luta para sobreviver.
Esse é de fato o retrato do Brasil.
Faço essas aparentes digressões para louvar a iniciativa tomada ontem pelo Governo Lula, de lançar o programa Mais Professores, um conjunto de medidas marcadas por benefícios, destinado a atrair melhores alunos das universidades para levar docentes a áreas do Brasil onde faltam licenciados em Pedagogia, na intenção de reparar uma deficiência crescente no terreno educacional que se registra no país.
Inspirado no Mais Médico- que é um programa de sucesso nascido também sob os governos do PT, que tem levado profissionais da Medicina a se sentirem estimulados atuar em cidades do Brasil profundo que antes estavam sem qualquer assistência à saúde-, e tendo elementos compensatórios extraídos de outro programa interessante, o "Pé-de-Meia", destinado a estudantes das fases finais do Ensino Médio, o novo Mais Professores vai destinar uma bolsa de R$ 2,1 mil ao profissional que aceitar se mudar para o local de carência. Ele receberá um salário do local em que vá trabalhar (a prefeitura do Município, por exemplo) e mais esse valor adicional da bolsa, paga pelo governo federal na forma de bônus.
Além de professores, também universitários de fases finais de seus cursos que queiram ir para municípios isolados do interior do Brasil, também serão contemplados com um bônus, através do programa "Pé-de-Meia Licenciaturas", que pagará R$ 1.050,00 (R$ 700 que podem ser sacados imediatamente e R$ 350 que são colocados numa poupança para retirar posterior). Nesse caso, serão contemplados estudantes de licenciatura que tirarem acima de 650 na média do Enem.
Essa atração de professores e universitários para melhorar as condições do ensino em Estados seriamente afetados como vários do Nordeste e do Norte, especialmente Maranhão, Acre, Amazonas e também o Tocantins, fica bastante demonstrada que se trata de um dos mais ousados e bem-vindos programas de Investimentos governamentais de que se tem notícia no Brasil.
O bom senso, e um mínimo de humanidade, podem fazer qualquer um ter essa compreensão. Isso, sim, é Investimento no futuro, começando agora, enquanto é tempo.