José Osmando

Coluna do jornalista José Osmando - Brasil em Pauta

Lista de Colunas

O que era um mal do Nordeste, seca está agora tomando conta do Brasil

Estão faltando apenas três anos para que se complete o marco histórico da Grande Seca, um fenômeno devastador ocorrido no Nordeste brasileiro entre 1877 e 1879

Estão faltando apenas três anos para que se complete o marco histórico da Grande Seca, um fenômeno devastador ocorrido no Nordeste brasileiro entre 1877 e 1879. Essa tragédia que fará agora 150 anos de sua incidência, ainda no período imperial, foi de tal magnitude que se fala da morte de 400 mil a 500 mil pessoas de um total de aproximadamente 800 mil que habitavam a região à época. E não teria morrido mais gente porque muitos, ao sentirem os prenúncios de fatalidade, migraram para a Amazônia e para outras partes do país.

Os fenômenos da seca sempre castigaram o Nordeste do Brasil, levando os Estados à falta de chuvas por longos períodos, um fator associado aos desmatamentos, à redução dos rios e lagoas, muito em decorrência da ação danosa dos humanos, que foram ocupando as terras de modo desordenado e irresponsável, destruindo a rica Mata Atlântica e secando seus mananciais, para o plantio maciço de cana-de-açúcar, produção agrícola que fez a fortuna de alguns e aumentou de maneira soberba a desigualdade econômica e social.

Foi preciso, em 1936, algumas décadas depois de Dom Pedro 2º ter prometido “vender até a última joia da coroa” para acabar com o flagelo da seca nordestina-, que o Governo Federal fizesse valer a Lei 175/36 (mais tarde revisada pela Lei 1.348, em 1951), instrumento legal que reconheceu o Polígono das Secas como enorme  parte  do Nordeste composta de diferentes áreas geográficas com severos índices de aridez, sujeitas a crises prolongadas de estiagens. E parte do Estado de Minas Gerais entrou nesse espaço de inclemências climáticas.

O que se está verificando hoje é algo muito mais amplo e preocupante. A ausência de chuvas, que deixava as terras sem plantio e sem colheita, dizimava rebanhos bovinos e caprinos que sustentavam as famílias, e fazia gente de todos os níveis sociais se afugentarem noutras paragens em busca de salvação, agora está chegando a todos os lugares do Brasil. Deixou de ser um marco negativo exclusivo dos nordestinos para ser uma mazela que se oferta, sem direito a recusas, aos habitantes de todas as regiões do país, inclusive às sempre protegidas populações do Sul e Sudeste, antes amparadas por climas amenos e presença constante das abençoadas águas.

As notícias que nos chegam todos os dias são chocantes, incômodas e atordoantes. Dão conta de que 58% de todo o território brasileiro, espalhando-se por todas as regiões do país, estão derretendo sob o fogo que toma conta de florestas, matas, variados biomas, matam animais, levam às cinzas as lavouras agrícolas, secam rios e lagos, trazendo medo, diminuindo a produção de alimentos e fazendo crescer de modo alarmante as dificuldades e desigualdades econômicas entre esferas sociais.

Os episódios de secas alastram-se pelo Pantanal, Amazônia, Cerrados, pelos Pampas, vão levando a todos as drásticas condições ambientais para que, muitas vezes pela própria ação humana, o fogo, as queimadas, passem a dominar esses biomas essenciais à vida das pessoas, animais e plantas, trazendo inquietações sem precedentes. Os efeitos disso tudo, ao diminuir os plantios, a pesca e comprometer a vida animal e destruir espécies, vão direto para o custo de vida, fazendo aumentar o preço do feijão, do arroz, do milho, das hortaliças e frutas, de todos os produtos que dependem do bom convício com a natureza.

E o que fazer diante de toda essa desgraça? Eis aí uma questão urgente, que precisa unir governantes, empresários, agricultores, pesquisadores, cientistas, empreendedores, em dois caminhos fundamentais: primeiro, conter a parte essencial das causas, que são as queimadas, os desmatamentos e a eliminação das fontes de água; em segundo lugar, e tão importante quanto, realizar um gigantesco esforço para recuperar o que já foi perdido por esses desastres. Isso é inadiável. E requer boa vontade, consciência, determinação, união, e muito dinheiro. Mas a hora é já, ou nunca.

Carregue mais
Veja Também
As opiniões aqui contidas não expressam a opinião no Grupo Meio.


Tópicos
SEÇÕES