A passagem, neste domingo, do Dia Nacional do Livro, uma celebração instituída em 1810, tendo como referência a fundação da primeira biblioteca pública brasileira – a Real Biblioteca Portuguesa, que logo se transformaria em Biblioteca Nacional -, leva-nos a várias reflexões. Não apenas pelo valor e significado que o livro carrega para a vida de quem o aprecia e dele usufrui, mas, no sentido oposto, pelo desapreço, indiferença e até mesmo o ódio que o livro desperta em segmentos ideológicos, desde políticos e religiosos, sendo objeto de perseguição e repulsa.
Se a paixão por livros eleva pessoas e transforma suas vidas, vemos, no caminho oposto, que ódio muitas vezes toma conta de governantes déspotas, de gente que mergulha no fundamentalismo religioso ou ideológico, e tem essa fantástica criação humana como inimiga. Isso tem ocasionado registros históricos e atitudes políticas até dignas de espanto e revolta. O auge ,o ponto marcante, certamente, dessa barbárie é Alemanha do sanguinário ditador Adolfo Hitller.
Foi no chão alemão que, em 10 de maio e 21 de junho de 1933 foram executados grandes e monstruosos eventos, sob a denominação “Bücherverbrennung”, um termo criado pela ação de propaganda alemã, para significa “queima de livros”,
Nessas duas datas, em diversas cidades da Alemanha, foram organizadas queimas de livros em praças públicas, com a presença de polícia, bombeiros e discursos inflamados dos seus idealizadores.
Toda obra que fizesse alguma crítica ao governo, ou se desviasse dos padrões determinados pelo regime nazista, era levada às fogueiras do ódio, transformando-se em cinzas, como se aqueles atos selvagens pudessem apagar as ideais dominantes entre os escritores livres ou sufocar o desejo de leitores da época e de leitores do futuro. Foram queimados cerca de 20 000 livros, a maioria dos quais pertencentes às bibliotecas públicas, de autores oficialmente tidos como "não alemães"
LIVRO FÍSICO
Mesmo nos tempos atuais, não mais tão violentos quanto no império de Hitler, Mussolini e outros tantos déspotas, vimos que os livros não deixam nunca de passar por perseguições, como algumas manifestações de governantes atuais, próximos de nós, que querem retirar a presença física desse invento magnífico do acesso a estudantes das escolas pública. É com muita tristeza e desesperança que observo esse avanço da ignorância e da prepotência contra os livros. Quem, como eu, tem o livro como companheiro inseparável e fonte de enriquecimento desde os tempos de pré-adolescente, bate uma tristeza imensa saber que algo tão bom e necessário pode ser alvo de tanta indiferença e desprezo.
Desde os meus 14 anos, atuando como auxiliar de bibliotecário no meu saudoso Colégio Pio XII, fui tomado pela percepção de que o Livro exerce um papel fundamental, edificador e humanizador na minha vida.
O Livro me dá o poder de exercer a Liberdade. Pelo LIVRO, LIVRO-me da ignorância; pelo Livro, LIVRO-me da mesmice, do egoísmo, da idiotice; Pelo Livro, LIVRO-me do aprisionamento mental e espiritual e saio mundo afora, conhecendo lugares e gente diferentes, descobrindo belezas e levezas que tornam minha vida mais alegre e mais útil.
Pelo Livro, LIVRO-me do ódio, das diversas formas de fundamentalismo e encontro motivos para o Amor e a Fraternidade; Pelo Livro, LIVRO-me da frivolidade, do desnecessário, e busco o conhecimento libertador. Tenho irretocável certeza de que a força do Livro é libertadora e nos torna seres humanos mais interessantes.