Transcorridos seis anos do assassinato da vereadora do Rio de Janeiro Marielle Franco e de seu motorista Anderson Gomes, executados barbaramente por pistoleiros contratados, a justiça ainda não chegou a um desfecho final, que revele quem encomendou, quem contratou, quem pagou para que esses dois hediondos crimes fossem executados.
O único esclarecimento real, bastante contundente, a única certeza que se tem, é a de que a ex-Capital da República, a Cidade Maravilhosa tão lindamente cantada pelos poetas do passado, virou um ambiente fértil para o império do crime.
O Rio de Janeiro de hoje vê crescer a bandidagem mais vil e cruel, onde se misturam pistoleiros e milicianos com autoridades policiais, políticas, e até dos meios de justiça, mancomunados em práticas perversas, protegidos pela impunidade.
O caso Marielle/Anderson é bem característico desse ambiente deplorável que floresceu no Rio de Janeiro. Pistoleiros são contratados para tirar a vida de uma mulher guerreira, vereadora da antiga capital, inteligente e corajosa, de origem pobre, vinda do morro, disposta a lutar pela transformação social e pela afirmação de sua gente de origem.
E por estar em ascensão, porque seus clamores começam a ser ouvidos e suas denúncias começam a incomodar, decide-se nos porões de algum lugar de poder que ela precisa ser interrompida, que precisa ser afastada da cena pública, que precisam retirar-lhe das mãos o incômodo microfone. E o meio mais fácil para esses facínoras, como é de hábito e cultura política, é mandar acabar com sua vida. E é isso que eles fazem.
No curso das investigações, que começaram atrapalhadas, devagar, sem qualquer interesse sério e eficaz, até mesmo de parte do ministério público e da polícia, prende-se um ex-policial militar, Ronnie Lessa, como sendo o autor material da morte de Marielle e Anderson.
Além de Ronnie, outro ex-policial, Élcio de Queiroz, também apontado como participante dos dois assassinatos, também preso, fez uma delação à PF e MP do Rio, dando pistas sobre outros envolvimentos.Agora será a vez do próprio Ronnie Lessa ter sua delação aceita pelo STF e, quem sabe, chegar-se finalmente aos mandantes.
Uma coisa é certa. A julgar-se pela história de privilégios que Ronnie Lessa desfrutou dentro da polícia desde os tempos em que era considerado um “ herói” em virtude do leque de assassinatos que carregava nas costas, é de se imaginar que ele sabe de muita coisa. Embora o crime de Marielle e Anderson tenha ocorrido em 2018 e ele tenha sido preso em 2019, somente em 2021 ele foi formalmente afastado da PM.
Os prenúncios de suspeitas, até o momento, são de envolvimento, como estimuladores, protetores, acobertadores ou mandantes, de figuras importantes da política carioca, de vereadores da cidade, a deputados estaduais, conselheiros do Tribunal de Contas, Deputados Federais, e até mesmo de gente de degraus mais acima.
Embora o Ministro da Justiça, Ricardo Lewandovsky, considere que o crime de Marielle e Anderson já está “ elucidado”, faltando apenas detalhes jurídicos para formalização das responsabilidades, sabe-se que ainda teremos algum tempo pela frente para que se conheça a verdade.
Caiu nas mãos do Ministro Alexandre de Moraes, a quem tem cabido as maiores responsabilidades na condução dos casos mais difíceis da atualidade, a tarefa de conduzir agora também esse inquérito de Marielle. O caso foi parar no STF porque há indicação de que algum político do Rio, com fórum privilegiado, está envolvido nos dois assassinatos.
Essas duas próximas semanas serão cruciais nesse processo. E pela maneira eficiente, seria e corajosa com que executa suas tarefas, deveremos ter as coisas melhor esclarecidas. É o mínimo que se deseja.