No momento em que começa em Dubai, nos Emirados Árabes, a 28ª Conferência das Partes, conhecida como COP, e a humanidade aflita volta suas esperanças para a união e cooperação das lideranças mundiais no compromisso de se iniciar um movimento real e consistente da recuperação ambiental do Planeta, temos no Brasil uma drástica constatação: a Amazônia, com toda sua magnitude natural, sua fantástica biodiversidade, numa dimensão que abrange seis países, tem hoje mais de um terço de sua população vivendo em áreas disputadas pelo narcotráfico.
Esse, certamente, é um recado duro aos que vão se exibir durante a Conferência de Dubai. A invasão da Amazônia pelos narcotraficantes comandados por poderosos grupos nacionais, aliados a facções internacionais, além das desgraças decorrentes das drogas em si, tem trazido na sua esteira a esse monumental patrimônio natural, um processo descomunal de invasões de áreas preservadas (a exemplo das reservas indígenas), com a aceleração programada da devastação florestal, contaminação de rios e outras fontes de água, exploração criminosa dos recursos minerais e um crescimento vertiginoso do roubo e do contrabando.
Mais de terço dos moradores da Amazônia vivem em áreas conflagradas e em disputa por facções criminosas. São pelo menos 8,3 milhões de pessoas que, em suas rotinas, estão sujeitas às dinâmicas de violência extrema, como troca de tiros entre criminosos e assassinatos à luz do dia. Mais da metade da população da região, ou 15,4 milhões de pessoas, vive sob o domínio de pelo menos um desses grupos.
FÓRUM BRASILEIRO DE SEGURANÇA PÚBLICA
Essas alarmantes constatações estão reafirmadas no relatório divulgado hoje pelo Fórum Brasileiro de Segurança Pública e merecem ser olhadas com atenção e responsabilidade, de tal modo a permitir que se adote um plano regional, que englobe Brasil, Peru, Bolívia, Equador, Colômbia e Venezuela, mas que tenha, necessariamente, a adesão política, operacional e material das grandes potências econômicas mundiais. Afinal, a Amazônia representa uma região estratégica presente em qualquer planejamento planetário de restauração ambiental e de equilíbrio ecológico para a Terra.
E penso, assim, que essa questão amazônica tem, neste momento, em Dubai, o fórum adequado, até porque os influentes líderes de nações ricas, poderosas economicamente e apresentadas ao mundo como exemplos de democracias, precisam refazer seus históricos, corrigir o curriculum de cada um, de maneira a explicar porque ficaram de olhos cegos e cofres trancadas diante do Acordo de Paris, celebrado por todos em 12 de Dezembro de 2015, que determinava a distribuição de US$ 100 bilhões anuais para países pobres, para que pudessem desenvolver programas permanentes de recuperação ambiental e de travamento às ações devastadoras.
Como esse dinheiro nunca chegou aos países pobres, quase nada essas nações empobrecidas puderam realizar, em consequência verificando-se os avanços devastadores que ganharam peso, com os narcotraficantes ocupando os espaços que parecem “de ninguém”, e o clima no mundo só tinha um jeito de se portar: piorar muito, fazendo com que as temperaturas neste ano de 2023 cheguem aos maiores níveis de todos os tempos, trazendo no seu rastro terríveis eventos “naturais”, que foram se naturalizando aos olhos de autoridades, a despeito das mortes e destruições derramadas mundo afora. É hora, portanto, de cobrar esse calote vergonhoso, com altivez e coragem, fazendo constranger os que de fato são responsáveis.
Essa é uma conta velhaca que não cabe ao governo brasileiro. Poucos dirigentes mundiais têm assumido postura e determinação no nível que Lula vem demonstrando nesses seus onze meses de nova gestão à frente do país. No terreno local, tem consumado decretos reguladores avançados sobre questões ambientais, mandado ao Congresso propostas focadas em soluções para situações definidas, e incorporado a sua atuação internacional, quer de modo próprio, ou através da nossa Diplomacia, uma postura vigorosa de cobrança, de um fazer despertar mundial para as graves questões ambientais que tanto inquietam e assombram a humanidade.
Nessa COP28, penso que não será diferente. A própria ministra do Meio Ambiente, Marina Silva, uma respeitável personalidade desse tema em nível mundial, tem revelado sua convicção de que o Brasil, como protagonista e grande interessado no tema, pode contribuir de maneira prática e política, para que as ações, finalmente, ganhem um rumo certo de adequação, no caminho esperanço da solução que todos desejamos. Precisamos salvar para sermos salvos. Eis a questão .